Os melhores fundos de ações e multimercados em janeiro e 12 meses; gestoras apontam apostas após crise da Americanas

O primeiro mês do ano foi marcado por uma recuperação dos ativos de risco globais. Não à toa, o Bitcoin subiu 38,4% e ajudou a garantir o bom desempenho de fundos multimercados posicionados na criptomoeda, como o Empiricus Criptomoedas, que avançou 22,28% em janeiro.

O retorno do fundo ultrapassou com folga a rentabilidade do CDI (taxa de referência dessa subcategoria de produtos), que encerrou o mês passado em 1,12%.

Janeiro também foi positivo para fundos alocados em ações de países emergentes e na Bolsa americana. O resultado teve como a base a expectativa de desaceleração do ritmo de alta dos juros nos Estados Unidos, além de uma reabertura mais rápida da China.

A liderança entre os retornos ficou para o Axa Wf Fr Dig Econ Adv Fc FIA Ie, que registrou ganhos de 11,98%. A título de comparação, o S&P (índice de referência do fundo) subiu 6,18% no mês passado.

Veja os cinco fundos multimercados e de ações com as maiores altas em janeiro: 

Fonte: TC/Economatica

O levantamento do InfoMoney levou em conta dados extraídos da plataforma TC/Economatica em 13 de fevereiro. Foram considerados veículos não exclusivos, com gestão ativa, patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas no fim de janeiro.

Na categoria de renda variável, foram excluídos fundos monoações. Entre os multimercados, não foram considerados fundos de crédito privado.

Os números utilizados na pesquisa servem para dar uma referência ao investidor em termos de consistência, mas é preciso lembrar que retornos passados não são garantia de rentabilidade futura.

Multimercados: Ethereum e Polygon

O topo da lista dos multimercados em janeiro ficou para o Empiricus Criptomoedas. O CEO da Empiricus Gestão, George Wachsmann, explica que os maiores responsáveis pelo desempenho foram o Bitcoin (BTC) e o Ethereum (ETH), que responderam por 21% do retorno do fundo no mês.

A segunda criptomoeda mais famosa do mundo obteve um retorno de 31% em janeiro. Apesar de ter terminado o mês com um retorno um pouco abaixo do Bitcoin, a casa diz que está com grandes apostas para o criptoativo nos próximos meses.

Depois de passar pelo merge (atualização que mudou radicalmente o funcionamento da segunda maior blockchain do mundo ao diminuir a dependência da rede de mineradores e outras coisas), a expectativa agora é por uma nova mudança que deve “amarrar” as pontas soltas da última atualização e introduzir ajustes. A alteração está prevista para ocorrer em março.

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A perspectiva também pode ser bem positiva para a Polygon (MATIC), rede blockchain que opera como uma espécie de auxiliar do Ethereum (ETH), afirma Wachsmann. O executivo acredita que o protocolo está com um pipeline grande para este ano e que parece subvalorizado em relação ao que pode entregar após os últimos avanços, como a chegada de uma rede pública de testes.

Multimercados: commodities e olho no mercado após Americanas

Empresas ligadas a commodities também foram destaque no mês passado dentro de fundos multimercados, especialmente os que possuem posição em junior oils, caso do Encore Long Bias Advisory Fc FI Mult. Quem explica é o gestor da Encore Asset, João Braga.

Alocações em Prio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3) foram ajudadas em janeiro por uma reabertura mais rápida do que o esperado da China e por uma visão de que os Estados Unidos terão uma recessão menos dura do que se imaginava, avalia Braga.

Aspectos de execução mais microeconômica também avançaram em ambas as empresas nos últimos meses, com a reorganização em alguns quadros e evolução de poços, o que pode ter ajudado os papéis, na avaliação do gestor.

Em janeiro, a 3R Petroleum anunciou a entrada de Matheus Dias como diretor-presidente da empresa. Em comunicado feito ao mercado, a companhia disse que a mudança tinha como objetivo “suportar um novo ciclo de consolidação do portfólio e execução do plano estratégico, com foco em agilidade, produtividade e resultado”.

Outra contribuição em janeiro veio de posições em algumas empresas atacantes, como gosta de definir Braga. Nomes como Mercado Livre (MELI34), por exemplo, se beneficiaram de uma dinâmica competitiva melhor, resume o profissional.

O gestor observa que o evento Americanas – com a descoberta de dívidas de mais de R$ 40 bilhões – juntamente com mudanças na atuação da Shopee ao focar mais agora na matriz ajudaram a melhorar o cenário para o Mercado Livre.

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“Americanas tinha share [presença de mercado] e cliques elevados. Quando diminui sua presença no jogo, isso beneficiou outras empresas do setor”, lembra o gestor da Encore.

Apesar de não deter grandes posições no varejo, outra casa que vem acompanhando a questão de perto para entender o que deve ocorrer daqui para frente é a Ibiuna Investimentos.

O CIO da área de ações da casa, André Lion, conta que o grande temor é que a dinâmica de juro elevado por mais tempo já estava batendo bastante no mercado de crédito antes mesmo de um evento como o da Americanas, o que tende a deixar a situação mais delicada.

Nesse sentido, Lion diz que é impossível ignorar que a redução da presença da varejista no mercado esteja provocando uma reorganização do setor.

O gestor observa que já é possível ver uma migração de fluxos e visitas para outras companhias de varejo. “Esse vácuo vai ser ocupado. Todos os concorrentes estão se programando para ir pra cima”, alerta.

Na visão do gestor, as companhias mais bem posicionadas e capitalizadas dentro do setor seriam Mercado Livre, Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), nessa ordem.

Aumento de posições em energia e em Cielo

Apesar de estar um pouco mais cautelosa com alguns ativos de varejo, a Ibiuna veio realizando mudanças na carteira em outros setores como o de energia.

A subida do prêmio de risco e os problemas envolvendo a Light (LIGT3) fizeram o fundo aumentar posições em empresas mais resilientes do setor elétrico, como a Auren Energia (AURE3), CPFL Energia (CPFE3) e Energisa (ENGI11).

A Light tem sido alvo de preocupação no mercado devido à sua situação financeira – a companha enfrenta problemas para rolar as dívidas e agentes especulam a possibilidade que a empresa entre em recuperação judicial em breve.

Lion defende que a alocação nas três companhias é uma oportunidade, já que os problemas com a Light são mais “localizados” e não são reflexo de uma situação mais delicada para o setor como um todo. “A gente aumentou em empresas que gostamos e que enxergamos um yield [retorno] relevante”, afirma.

Outra posição que a casa aumentou recentemente foi em Cielo (CIEL3). Em sua justificativa, Lion defende que os concorrentes da empresa serão bastante prejudicados com o aumento do custo, diante da Selic mais alta por mais tempo.

O gestor acredita que por ser controlada pelo Bradesco e pelo Banco do Brasil, a empresa poderia obter vantagens com os clientes preferindo obter desconto com eles e não com players menores. “Quem se beneficia nesse cenário é Cielo, Getnet versus companhias independentes”, afirma.

Um dos fundos da casa – Ibiuna Long Short Stls Fc de FI Mult – está na lista dos dez multimercados com melhor desempenho nos últimos 12 meses.

Ao contar sobre as posições que mais ajudaram o produto no último período, Lion destaca que o fundo obteve bons retornos com alocações em Petrobras (PETR3) e (PETR4), além de Vale (VALE3), Cielo (CIEL3), Tim (TIMS3) e Assaí (ASAI3).

Ao ser questionado sobre a posição em Petrobras após a entrada de um CEO mais alinhado com o novo governo, o gestor afirma que a casa está com uma alocação bem menor do que já teve na petroleira.

Lion avalia que a companhia deve passar por uma alteração na política de preços, mas diz não acreditar que deve ser uma “mudança estrutural profunda”. O profissional explica que o patamar de governança atual na esfera legislativa é melhor e que há uma percepção de que alterações “fora da realidade” podem ter consequências negativas.

O gestor também chama atenção para as últimas indicações dadas pelo novo presidente, Jean-Paul Prates. De início, Lion cita que o executivo alertou que não será possível baixar o preço dos combustíveis “na marra”, e que será preciso criar um fundo de estabilização.

Já o segundo ponto envolve a indicação de nomes mais técnicos para a diretoria da Petrobras. “São funcionários da Petro. São técnicos. A gente está sob uma nova gestão, mas tem carreira dentro da empresa”, destaca.

Fonte: TC/Economatica

Fundos de ações: serviços

Outra casa que se beneficiou com posições ligadas ao setor de petróleo foi a Reach Capital. Nos últimos 12 meses, o fundo Reach Total Return obteve desempenho positivo entre fundos de ações e uma parcela do bom retorno veio de uma alocação em empresas de exploração como a 3R Petroleum.

Outra parte veio de uma exposição a um ETF (fundo de índice) voltado para empresas que prestam serviços de exploração de petróleo.

O executivo-chefe e CIO da gestora, Ricardo Campos, explica que a grande diferença é que empresas mais ligadas a serviços de exploração são menos sensíveis a variações de preços da commodity. No geral, são companhias que fornecem sondas, análises e todo o equipamento necessário para voltar a explorar petróleo. Logo, diz, dependem muito mais da oferta e demanda de petróleo no mundo.

“Os investimentos foram mínimos nos últimos anos. As próprias empresas pararam de fazer novos investimentos e estavam mais fazendo recompra. Com China voltando a consumir, isso pode aumentar a demanda”, afirma Campos.

Posições compradas (que apostam na alta) em títulos do Tesouro americano (Treasuries), cupom cambial Brasil e alocações vendidas (que se beneficiam da queda) da Bolsa americana também garantiram bom desempenho ao fundo nos últimos 12 meses.

Agora para os próximos meses, as apostas estão mais focadas em commodities. O gestor justifica que a Europa parece que será capaz de driblar a crise de energia e que a busca por segurança energética tem se intensificado. Para se posicionar, a casa tem buscado alocar em cobre, lítio e petróleo.

Outro assunto de interesse da gestora tem sido a China com posições em ETFs de empresas de valor chinesas. O foco, diz o gestor, está na reabertura do País que deve ser focada em incentivar o consumo e não mais tanto grandes investimentos em infraestrutura.

Fonte: TC/Economatica