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O volume de posições “vendidas’ em ações do IRB (IRBR3) alcançou um nível recorde nesta terça-feira (30), muito próximo do limite autorizado pela B3.
Às vésperas de realizar uma oferta de ações para levantar recursos considerados vitais para a continuidade de suas operações, o IRB viu o número de posições em aberto – ações alugadas que ainda não foram cobertas ou compradas de volta – chegar a 717 milhões, equivalente a 27,2% do seu free float (ações em circulação no mercado), segundo dados da Bolsa compilados pela XP.
Normalmente, os investidores tomam uma posição vendida em uma ação quando acreditam que seu preço vai cair. Na prática, fazem isso alugando os papéis de outros investidores, para vendê-los no mercado com a intenção de recomprá-los de volta a um preço mais baixo no futuro. Seu ganho está nesta diferença.
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Na última semana, diante do aumento da demanda pelas operações, a B3 elevou o limite para o aluguel de ações do IRB de 25% para 30% do free float, enquanto cortou de 35% para 30% o limite para opções com papéis da companhia.
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Parte da aposta na queda das ações do IRB está sendo realizada por fundos de investimentos. Desde dezembro do ano passado, os fundos brasileiros de ações e multimercados estão mais vendidos do que comprados nos papéis da resseguradora, mostram dados coletados pela Economatica. Os números mais recentes são de abril deste ano, já que os gestores têm um prazo de até 90 dias para informar a composição de suas carteiras à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Muitos desses fundos adotam estratégias do tipo “long and short”, ou “comprado e vendido”, montando operações com pares de ativos que, na visão dos gestores, terão desempenhos distintos no decorrer do tempo.
Aproximadamente uma centena de carteiras tinham alguma posição “short” em IRB em abril, mantendo ações da resseguradora alugadas, enquanto 220 possuíam alguma posição “long”. Embora realizadas por um número menor de gestores, as posições vendidas dos fundos ultrapassavam com folga as compradas. O saldo era de -R$ 169 milhões em abril.
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Alguns dos gestores que tinham posições vendidas em IRB em abril se desfizeram delas nas últimas semanas. “Zeramos algumas semanas atrás, quando a taxa de aluguel dos papéis da resseguradora começou a subir e encarecer a operação”, diz um gestor ouvido pelo InfoMoney. Ontem, diante da demanda crescente, o custo médio para alugar ações do IRB chegou a 69,5% ao ano. A taxa é cobrada por quem possui os papéis e se dispõe a “emprestá-los” temporariamente para os investidores interessados em fazer o “short”.
Outros gestores pretendem participar da oferta de ações do IRB justamente para reduzir ou até encerrar a posição vendida agora.
Explica-se: ao anunciar que realizaria um aumento de capital, na quarta-feira passada (24), a resseguradora informou que pretendia levantar até R$ 1,2 bilhão com a operação para se reenquadrar a indicadores regulatórios e evitar uma intervenção pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). Inicialmente, pretendia emitir 597 milhões de ações – que, na data do anúncio, eram cotadas a R$ 2,01.
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A companhia, porém, deixou em aberto a possibilidade elevar em até 200% o número de ações emitidas para captar os mesmos R$ 1,2 bilhão, o que implicaria que os papéis oferecidos na oferta saíssem a um preço bem inferior às cotações de mercado. Pelos cálculos de casas como Safra e BTG, caso o IRB emita o número máximo de ações, o desconto levaria os preços para o patamar R$ 0,66 ou R$ 0,67. Dada essa perspectiva, os papéis estão renovando as mínimas históricas nos últimos dias, e encerraram o pregão de ontem cotadas a R$ 1,72. Às 11h10 (horário de Brasília) de hoje, caíam a R$ 1,69.
Para os que mantêm posições de aluguel em aberto, participar da oferta e comprar as ações bem abaixo do preço pelo qual as venderam no mercado é bom negócio.
“Para nós, é uma situação binária: se a oferta sair na faixa dos R$ 0,70, vamos zerar a posição. Se for a R$ 1 ou R$ 1,10, não zeramos”, diz um gestor com uma posição vendida relevante em IRB ouvido pelo InfoMoney. Em sua visão, as cotações atuais estão muito acima do que os papéis realmente valem e serão ajustadas pelo mercado. “Mesmo que a empresa pare de ter prejuízos, e ela vai parar em algum momento, seu lucro será marginal”, explica.
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O imbróglio e os desfechos
Listado na B3 em 2017, o IRB vive um inferno astral desde fevereiro de 2020, quando a gestora Squadra publicou uma carta ao mercado apontando uma série de “inconsistências” no balanço do IRB. Até então, a empresa apresentava uma rentabilidade que impressionava os investidores: seu retorno sobre o patrimônio (ROE) havia sido de 34% em 2018, enquanto em um grupo de cerca de 30 resseguradoras globais a mediana não havia chegado a 5% no mesmo ano. Estimava-se que o ROE do IRB alcançaria 45% em 2020.
A revelação dos indícios de fraude detonou uma sucessão de eventos dos quais a empresa tem tido dificuldades para se recuperar – alguns deles fortuitos, sem ligação com as desconfianças em torno dos balanços até 2020. Neste ano, especialmente no segundo trimestre, os resultados foram severamente afetados pelo acionamento de seguros rurais cobertos pela empresa, dada a seca que afetou a região Sul. O índice de sinistralidade alcançou 124% e foi o principal motivo do prejuízo de R$ 373 milhões no segundo trimestre do ano. Sem os efeitos da seca, teria sido de 89%, segundo calculou a empresa.
“A empresa estava em um processo de reorganização, fazendo um trabalho honesto, mas deu azar. A questão do seguro rural foi um susto extraordinário, e agora o IRB precisa fazer a oferta, não tem alternativa”, diz um gestor. Como apresentou insuficiência de capital para fazer frente a exigências regulatórias, se não resolver logo o problema corre o risco de sofrer intervenção da Susep. “Se isso acontecer, a situação da empresa piora ainda mais”.
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Dada a iminência do problema, a grande incerteza rondando o mercado é se a oferta de ações do IRB será capaz de levantar tantos recursos quanto pretendido, e também se eles de fato serão suficientes para sanar os buracos financeiros e promover a volta do crescimento à empresa.
Caiu, mas ainda está caro
O que parece um discurso comum entre os gestores é que IRB, ao preço de tela, está “caro”. “As ações cotadas na faixa de R$ 2 ainda negociam muito acima do book tangível, que consideramos ser o patrimônio líquido ajustado por créditos tributários ou ativos intangíveis de difícil realização”, diz um gestor, que deixou para decidir só hoje – último dia – se participará ou não da oferta do IRB. A precificação ocorrerá na quinta-feira (1) e os papéis passarão a ser negociados na segunda-feira (5).
“Não se trata de desconfiança em relação à administração atual, que tem feito um bom trabalho. A verdade é que o negócio de resseguros é competitivo em todo o mundo, e dificilmente as empresas conseguem ter um retorno muito acima do seu custo de capital”, afirma.
Outro gestor concorda que, na faixa dos R$ 2, as ações do IRB negociam a um preço “irreal”. “A empresa tentou de diversas maneiras atrair investidores privados, e ninguém tem interesse nesse nível de preço. Os possíveis investidores fazem projeções para os próximos anos e não conseguem chegar ao valor de mercado”.
Na visão desse gestor, uma das explicações para o que enxerga como uma distorção de preços é a forte presença de investidores pessoas físicas na base acionária do IRB. Atualmente, mais de 267 mil pessoas físicas são acionistas da resseguradora, dez vezes mais do que as 27 mil que detinham ações da empresa no fim de 2019, antes de revelados os problemas no balanço pela Squadra.
As ações se tornaram uma febre entre os pequenos investidores em função do viés de ancoragem – ou seja, a expectativa de que voltem a ser cotadas aos preços que já foram no passado, avalia um gestor. “Parte das pessoas físicas talvez realmente acredite no negócio, mas não é apenas porque uma ação já valeu R$ 30 no passado que a R$ 2 está barata. Havia má precificação e fraude”, diz.
Um dos argumentos comuns entre esses investidores é de que as ações do IRB naturalmente subiriam porque hoje a empresa vale menos do que o valor mantido em caixa. “Mas toda seguradora tem uma grande posição de caixa, é obrigada por lei a ter, de modo a garantir os riscos que está assumindo”.
Dentre as pessoas físicas que realmente apostam no negócio está um dos maiores investidores individuais da Bolsa brasileira, Luiz Barsi Filho. Ele se tornou acionista do IRB em junho de 2021 e desde então vem tanto aumentando quanto vocalizando sua posição na empresa. Possuía cerca de 27 milhões de ações em março deste ano, segundo documentos disponíveis na CVM. Sua filha, Louise Barsi, foi eleita membro do Comitê de Auditoria do IRB em julho, em “um contexto de aprimoramento da governança corporativa da companhia”, manifestou a resseguradora na época.
Ontem, Louise informou em suas redes sociais que o grupo de Barsi pretende subscrever dez milhões de ações na oferta do IRB, ao preço de R$ 1 por ação. “Caso não sejamos atendidos, o que entendemos ser um risco, vamos avaliar mais adiante a recolocação do nosso percentual, a depender do preço e também desempenho operacional da companhia”, afirmou. “Como integrante do Comitê de Auditoria, deposito meu voto de confiança de que a companhia fará tudo que estiver ao seu alcance para maximizar os recursos captados”.
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