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A subida vertiginosa da Selic para os atuais 13,25% impulsionou o retorno de uma parcela dos investidores para a renda fixa, que voltaram a ver taxas bastante atrativas em papéis mais conservadores. Mas o fluxo não parece ter sido acompanhado pela busca de informações básicas acerca de investimentos.
Ao questionar investidores sobre o que acontece com os preços dos títulos de renda fixa quando há um aumento de taxas, o resultado foi surpreendente: mais da metade (52%) dos entrevistados errou a resposta. O correto seria dizer que há uma queda nos preços (confira vídeo com a explicação).
Chamou atenção dos pesquisadores o fato de que até mesmo participantes com nível considerado avançado ou especialista não acertaram, de forma unânime, a questão.
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Os números fazem parte de um estudo feito pela Schoders, antecipado com exclusividade ao InfoMoney, com quase 24 mil investidores ao redor do mundo, entre 18 de fevereiro de 7 de abril deste ano. Participaram da seleção, apenas investidores que pretendiam investir ao menos € 10 mil nos próximos 12 meses e que tiveram uma gestão mais ativa da carteira nos últimos 10 anos.
Embora a questão pareça difícil, a explicação para o fenômeno que faz com que os preços dos títulos recuem quando há aumento da taxa está ligada à marcação a mercado. Durante a existência de um papel, seu preço é marcado diariamente conforme as taxas que o mercado precifica naquele dia.
As mudanças estão intimamente ligadas a alterações nas taxas de juros. Na prática, os papéis prefixados e os atrelados à inflação – especialmente os de longo prazo, que são mais sensíveis às variações – costumam desvalorizar quando as taxas de juros estão em tendência de alta.
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O contrário também é verdadeiro: os preços dos papéis normalmente sobem quando as taxas de juros caem. Por isso, até o vencimento, eles podem apresentar rentabilidade negativa em alguns momentos.
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Para Fernando Cortez, diretor comercial da Schoders, o alto índice de pessoas que erraram a pergunta sobre o funcionamento da renda fixa mostra que os investidores se sentem cada vez mais informados, mas que há uma falta de conhecimento quando se olha “no detalhe”.
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O executivo avalia que o fluxo de informações sobre o mercado financeiro tem aumentado nos últimos anos, com a pulverização de plataformas de investimento voltadas para o varejo, e com a ampliação da cobertura feita pela mídia sobre temas financeiros.
Porém, é necessário investir mais em aumentar a profundidade do conhecimento financeiro, diz Cortez. “A educação financeira está ligada à capacitação e não a escolhas de investimentos. Estamos avançando bem, mas ainda é uma etapa inicial de desenvolvimento”, observa.
No Brasil, as instituições de ensino (53%) foram colocadas como as maiores responsáveis pela ampliação dos investimentos em educação financeira, seguida pelas empresas de investimento (48%), consultores financeiros (39%), responsabilidade pessoal (38%), além de governos e órgãos reguladores (31%).
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Ativos digitais: maior confiança para investir
Mesmo com índices baixos de educação financeira, os ativos digitais – criptomoedas, tokens e NFTs – foram selecionados como a classe que os investidores brasileiros se sentem mais capazes de investir.
Na pesquisa, 53% dos entrevistados acreditam que podem investir nos ativos de forma direta, ou seja, sem um gestor por trás. Por outro lado, 33% afirmaram que preferem aplicar por meio de terceiros.
Ao analisar os dados, Cortez defende que a preferência pelos ativos digitais está ligada ao volume alto de informações que tem sido veiculadas sobre criptoativos no Brasil. “Há muitas corretoras entrando de forma direta. É um mercado muito volátil e por isso, está sempre na cobertura da mídia”, afirma.
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O executivo, no entanto, faz um alerta: por ser um ativo com nível de volatilidade elevado, o investidor precisa estar ciente do risco que está ocorrendo.
“As grandes altas chamam muito a atenção. Mas é preciso tomar cuidado com o outro lado da moeda. Qual é o papel que ele terá na carteira? Quanto desejo investir?”, questiona.
O profissional também afirma que é importante que o investidor pondere se deseja alocar por meio de gestores, ou diretamente no ativos. “Como é um mercado de muitos movimentos, o melhor é entrar em um produto de terceiro. Justamente porque é mais difícil entender o que move os preços”, pondera.
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Neste ano, por exemplo, o Bitcoin (BTC) passou por altos e baixos. A criptomoeda chegou a bater os US$ 47 mil no primeiro semestre do ano, mas desde então tem sofrido um forte processo de correção com a postura de maior aperto monetário adotada por bancos centrais ao redor do mundo, especialmente o dos Estados Unidos.
Por volta das 9h (horário de Brasília) desta quarta-feira (27), o Bitcoin era negociado a US$ 21 mil. Na visão de analistas ouvidos pelo InfoMoney e pela CoinDesk, a possibilidade de um novo ajuste de 0,75 ponto percentual pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) na sessão de hoje pode favorecer novas correções nos próximos dias, o que fortalece a tese de Cortez de que é preciso ter atenção ao aplicar em criptomoedas.
Ativos privados ganham relevância
Além dos criptoativos, outros investimentos que antes eram vistos como mais difíceis de acesso ganharam relevância na visão dos investidores brasileiros. Segundo a pesquisa, o número de entrevistados que pretendem investir em private equity (venture capital, por exemplo) chegou a 65%.
Cortez destaca que o movimento no Brasil acompanha a tendência vista no exterior, onde houve um aumento da oferta de produtos de private equity impulsionada pelo crescimento econômico mais elevado dos últimos anos e por taxas de juros muito baixas, ou negativas, em países desenvolvidos.
“Houve uma busca por retornos mais diferenciados, abrindo mão de liquidez para buscar uma rentabilidade maior para o longo prazo”, afirma o especialista da Schoders.
Embora ele reconheça que o investimento em private equity no Brasil siga mais concentrado em investidores qualificados – que possuem mais de R$ 1 milhão para aplicar, o executivo acredita que há uma “tendência a um movimento de democratização”, que tem sido liderada pelos principais players de mercado.
Cortez cita como exemplo o caso da Schoders, que tem investido em produtos de private equity voltados para investidores do exterior e que permitem aplicações mensais e resgate do volume de forma trimestral para oferecer maior liquidez ao investidor.
Pauta ESG no radar
Outro tema que ganhou importância, na visão dos investidores, está ligado a pautas mais focadas em aspectos sociais, ambientais e de governança (ESG, na sigla em inglês).
Para um terço dos entrevistados (32%), as questões climáticas – descarbonização, por exemplo – estão entre os pontos mais importantes para as pessoas se envolverem com as empresas que investem, ou acompanham.
Por outro lado, apenas 10% dos entrevistados responderam que a inclusão e a diversidade na força de trabalho representam um ponto importante na hora de investirem ou acompanharem uma companhia.
Ao ser questionado sobre o atraso do Brasil em dar maior atenção a pautas ESG, Cortez destacou que “essa caminhada começou agora” e que o país está “na primeira infância”, enquanto as nações desenvolvidas estão “na adolescência”.
Na visão do executivo, o assunto tem saído cada vez mais dos investidores institucionais e dos family offices para chegar ao investidor de varejo. Mas para que isso avance, diz, é preciso ter uma cobrança maior de transparência dos investidores para com os gestores.
“É preciso ver qual foi o engajamento nas empresas investidas, quais temas trabalhados, como o gestor se posicionou nas assembleias. Mais do que isso, é preciso ver se o gestor é ativo, quão sustentável é o portfólio em relação ao benchmark [taxa de referência]?”, questiona. “Se ele conseguir mostrar isso, é porque o trabalho de transparência tem sido bem feito”, conclui.