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Caros(as) leitores(as),
O mercado financeiro tende a assumir comportamento errático em diversas janelas de tempo. Atrás de (quase) toda ordem de compra ou venda, existem seres humanos, movidos por sentimentos e nem sempre tomando decisões lógicas.
Nesses períodos, o estresse ou a confiança extrema imperam. É necessário ter estômago e frieza para assumir a ponta contrária, aproveitando assim as oportunidades que aparecem.
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No “mundo” do crédito privado, uma formação nebulosa dessas acaba de surgir. Já vivenciei outras ocasiões similares a esta e, identificando no momento correto, pode ser um bom momento para desfrutar de taxas que não condizem com o risco.
Bom, imagino que você esteja curioso para entender melhor o caso. Explico.
Recentemente, presenciamos episódios no mínimo peculiares com Americanas (AMER3) e Light (LIGT3). Ambas são emissoras de títulos de dívida relevantes em volume.
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Para os credores, é fundamental ter uma relação de confiança. Diferentemente de um acionista, você não precisa desejar necessariamente que a empresa evolua e construa valor. Tudo que deseja é algum grau de segurança de que receberá o montante “emprestado” de volta, acrescido de uma taxa acordada.
As duas companhias, no entanto, feriram frontalmente a confiança do mercad. Os portadores de títulos decidiram realizar uma venda em massa – literalmente, uma corrida – para se livrar dessas posições. Assistimos oscilações abruptas desses papéis, tanto nas ações quanto na dívida.
O ponto é: muitos fundos de crédito, inclusive alguns dos quais gosto muito, tinham esses papéis em carteira e acabaram sofrendo com esse movimento em suas cotas. A grande maioria dos investidores desses veículos não espera assistir cenas como essas num fundo de renda fixa.
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Resultado? A indústria de crédito, que antes anotava captação positiva mês após mês, passou a registrar saídas em sequência.
Esses fundos, por óbvio, não possuíam apenas esses papéis em carteira. Aliás, muito pelo contrário. Normalmente, eles possuem um número elevado de posições diversas.
Dessa forma, o mercado se tornou majoritariamente vendedor (e parece ainda estar, ainda que em menor escala). Papéis com excelente relação de risco de crédito passaram a desvalorizar – sem uma justificativa necessariamente fundamentada.
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A pressão de venda foi tamanha que mais e mais papéis sofreram, machucando ainda mais as cotas dos fundos, motivando mais resgates. É o que chamo de “bola de neve do crédito” – vi o mesmo acontecer em 2020 e, de certa forma, no segundo semestre de 2019.
Os papéis de melhor qualidade de crédito são os que mais sofrem nesses momentos. Mas como os títulos de menor risco são os que perdem mais?
Suponhamos que você tenha entrado numa “saia justa” financeira. Suas fontes de receita foram a zero, você não consegue encontrar outras e precisa quitar algumas dívidas. Sua única alternativa é vender bens da sua casa.
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Você começaria vendendo o que há de melhor ou o que há de pior? Provavelmente, o que há de melhor, pois a chance de conseguir negociar mais rapidamente é maior. Considerando seu desespero, talvez você aceite preços depreciados, pois precisa de dinheiro na sua mão logo.
No mercado, o raciocínio é o mesmo. Ativos de maior qualidade são mais líquidos – e em corridas por liquidez, são os primeiros alvos de venda.
Títulos considerados “grau de investimento” (melhor classificação de risco) costumam sofrer mais. Curiosamente, os títulos high yield (maior risco de crédito) passam ilesos ou sofrem marginalmente.
No começo da pandemia, com os mercados na bacia das almas, lembro de ver cotas de fundos focados em títulos de alta qualidade caindo perto 10%. Já fundos dedicados a títulos high yield estavam “de boas”.
Naquela época, não tínhamos a menor ideia do que aconteceria no mundo e quais empresas iriam sobreviver. E agora? Será que o que ocorreu com Light e Americanas é pontual, ou o início de um movimento do mercado generalizado?
No último episódio do podcast Stock Pickers, que tenho a honra de apresentar, falamos sobre isso. Aliás, temos falado há algum tempo.
A conclusão é que sim, poderemos ver mais empresas sofrendo com suas situações de liquidez – e, nos piores casos, de solvência. Porém, muita empresa boa está sofrendo junto. Seus títulos desvalorizaram sem justificativa de uma piora do risco de crédito, ou seja, as taxas aumentaram sem grandes motivos.
O que isso significa? Oportunidade.
Os spreads de crédito (prêmio de risco pago acima da taxa do CDI) chegaram a atingir 3,02% ao ano. Atualmente, segundo o JGP Idex-DI, estão em 2,9%. Isso significa que, em média, os títulos que compõe essa carteira hipotética estão remunerando praticamente 3% acima do CDI.
Detalhe: esse número já desconta os papéis de Americanas e Light.
Agora, pense. Você já investe o quanto deveria em crédito privado? Vale repensar o resgate que talvez desejasse fazer devido à desvalorização das cotas e deixar seu gestor aproveitar essas oportunidades.
Você ainda não investe nessa categoria? Eu olharia para ela com carinho, e estudaria adotar uma alocação adequada ao perfil de risco. Preferencialmente via bons fundos de crédito, que farão uma diversificação em títulos e emissores, e que irão proteger seu patrimônio caso outros episódios como esse apareçam futuramente.