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Caros(as) leitores(as),
O número de CPFs na Bolsa começou a disparar conforme os juros brasileiros reduziram a partir de outubro de 2016. Algumas reformas abriram caminhos para que esse movimento ganhasse tração e, com o impacto da pandemia, a política monetária ainda mais estimulativa foi um anabolizante para esse crescimento.
Perante a população brasileira total, ainda temos uma penetração baixa de ativos financeiros mais sofisticados, o mercado acionário não é uma realidade para a carteira de investimento da maioria. Porém, é inegável que nos movemos em um ritmo que não víamos há décadas no Brasil.
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Tudo possui seu ônus e seu bônus. Obviamente que imaginar mais brasileiros no caminho da diversificação de seus investimentos é muito agradável, mas o preparo com o qual esses indivíduos começam essa jornada me preocupa.
Em 2020, nas mínimas da bolsa de valores por aqui, o brasileiro saiu as compras. Muitos relatórios de análise jogavam louros a esta atitude, claramente melhor que um movimento de venda, mas o menor patamar de juros da história e a recuperação rápida dos mercados me parece ter sido o principal motivo de tal avanço.
Atualmente, mesmo com um novo ciclo de cortes de juros iniciado, vivemos um patamar de dois dígitos de taxa Selic. Nós assistimos resgates consecutivos na indústria de fundos de investimento, especialmente ações e multimercados, e o volume de emissões de ativos de renda fixa mais simples, como LCIs e LCAs, atingindo recordes.
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É como se o brasileiro pegasse o caminho da contramão do avanço, o famoso “aprofundamento financeiro” teve uma pausa brusca e repentina. Não culpo apenas o investidor. Essa amplitude de juros e a magnitude dos movimentos de política monetária são sofridos, não colaboram para essa alocação perene.
As filosofias de investimento deveriam caminhar em paralelo com essa característica brasileira, com suas adaptações, mas acho difícil crer que esse “pêndulo financeiro” entre a renda variável e a renda fixa seja vencedor no longo prazo. Justamente isso que está sendo implementado pelos milhões de brasileiros atualmente, do investidor de varejo a grande família, vejo essa discussão em todo canto.
Resolvi deixar as boas maneiras de lado e escrever o “papo reto”, como meus grandes amigos do Rio de Janeiro costumam dizer, para te ajudar a trafegar melhor nesse país tão perturbado pela volatilidade. Espero que vocês gostem:
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Ferramental é sua limitação, tempo é sua matéria prima
Você quer investir e dedicar seu tempo para a sua carteira de investimento? Busca formas de garantir retornos elevados em prazos curtos? Quer uma “renda extra” das suas aplicações financeiras?
Cuidado! Você pode ser um prato cheio para golpistas ou para cursos de retornos milagrosos com pouco risco.
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A taxa básica de juros é um divisor de águas no mercado. O Tesouro Selic, que podemos considerar ser o ativo mais “simples” no Brasil, vai te pagar 100% dessa taxa ao ano – ele seria nosso ativo livre de risco aqui, beleza?
Você quer mais retorno do que isso ao ano? Bom, vai precisar se expor a risco, isso significa renunciar a previsibilidade – não há garantias de retorno dali em diante.
Bater os mercados não é uma tarefa fácil, conheço muitos gestores e gestoras que dedicam suas vidas/carreiras a isso e, muitas vezes, não conquistam esse feito em determinadas janelas. Equipes de analistas, tecnologia, acesso a informação, atendimento personalizado de corretoras institucionais, e mesmo assim perdem para seus indicadores de referência em certos momentos.
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O importante é a janela longa. Dito isso, assim como não adianta analisar um fundo ou determinada estratégia em um único ano, você não pode afirmar que é melhor que o mercado escolhendo ações para a sua carteira e colhendo bons resultados no curto prazo.
Não estou dizendo para deixar o investimento direto de lado, aliás, estímulo que o faça, é fundamental para o aprendizado. Porém, tenha visão crítica e não se iluda – o brasileiro adora sentir que está se beneficiando por não pagar as taxas de um fundo e acha que está fazendo um grande negócio, quando na realidade, não está.
Aliás, esse é o meu próximo tema…
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Ninguém trabalha de graça, nem mesmo o mercado financeiro
Quase que em 100% das aplicações financeiras, você paga taxas. Caso não sejam diretas, como corretagem, por exemplo, parte da sua rentabilidade está ficando na mesa no que chamamos de “spread”.
Mesa de operações para te atender de forma personalidade no mundo da renda variável, assessores de investimento para auxiliar na alocação de recursos, times de atendimento para dar suporte na sua conta, tecnologia, sistemas, benefícios – tudo isso possui um custo (e você paga por ele). Aliás, você pode escolher muitas vezes como é o modelo de remuneração dos profissionais que te atendem, sempre que quiser é livre para perguntar.
Como em qualquer outro mercado, existem casas que cobram caro e entregam serviços ruins, assim como o contrário também é verdadeiro. Você não gosta de pagar essas taxas por se sentir “para trás” e é justamente selecionar mal seus fornecedores que te puxa para esse lado, pague feliz as taxas, aquelas que geram resultados.
Não existe a “grande tacada”
Seu trabalho é a sua principal fonte de resultado financeiro, vai permanecer dessa forma durante muitos anos. Investir de forma diversificada, evitar perda permanente de capital, paciência e manter o patrimônio investido ao longo dos anos – isso que fará a diferença.
O exercício de alocar recursos é muito mais sobre disciplina do que qualquer outro fator. Aportes mensais, poupar recursos, gastar menos do que ganha, não ter dívidas, tudo isso seria o ideal.
Estamos num país emergente, que por definição é mais pobre, sei que esse ideal não é uma realidade para muitos e o discurso de “corte o café e economize” não é funcional. Aproveite a vida, mas tenha responsabilidade fiscal, acho que essa é a mensagem central aqui.
Você cuida da sua saúde para viver mais, deveria cuidar das finanças para viver melhor. Pense nisso.