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Passado mais de um ano desde a privatização da Eletrobras, quem alocou recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) já pode devolver o valor ao fundo, pois terminou o prazo que impedia esse tipo de movimentação. No entanto, gestoras têm mirado esses recursos – apostando que o investidor preferirá obter maior rentabilidade nos chamados fundos mútuos de privatização FMP-FGTS de “carteira livre”.
Desde dezembro do ano passado, é possível transferir os recursos de FMPs-FGTS da Eletrobras para fundos de privatização que compram outras ações, incluindo os de “carteira livre”, que investem em papéis variados (e não apenas nos de uma única empresa).
Raquel Souza, administradora, é uma das investidoras que optaram por migrar de um fundo FMP Eletrobras tradicional para um do tipo carteira livre em março deste ano, de olho na diversificação e após o resultado pior dos fundos tradicionais.
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“Não aguentava mais ver aquele retorno baixo e entendi que eu teria um risco maior se eu continuasse em um fundo que investe apenas na Eletrobras. Meu assessor me recomendou a mudança e acho que foi uma boa decisão”, diz.
De olho no potencial de crescimento de tais produtos e em oferecer mais uma opção de investimento, a Encore Asset Management prepara o lançamento de um FMP carteira livre da Eletrobras — o primeiro que não é ligado a uma asset de banco ou de corretora, segundo busca feita pela reportagem no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Atualmente, há 12 FMPs carteira livre da Eletrobras em operação no mercado de gestoras ligadas a XP, BTG Pactual, Genial e BB, por exemplo. Os números são de levantamento feito pela Nelogica/Comdinheiro a pedido do InfoMoney. Nenhum dos produtos já lançados está relacionado a uma casa independente.
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Mais captações que resgates
Em um ano difícil para a indústria de fundos de investimentos, com um volume expressivo de saídas líquidas, fundos mútuos de privatização da Eletrobras com carteira livre têm apresentado mais captações do que resgates – na contramão do mercado.
No acumulado do primeiro semestre, os 12 FMPs de carteira livre da Eletrobras apresentaram depósitos líquidos (captações menos resgates) de R$ 722,9 milhões, segundo o levantamento. Enquanto isso, FMPs da Eletrobras tradicionais — ou seja, que podem investir unicamente nas ações da elétrica — acumularam resgates líquidos de R$ 699,6 milhões no mesmo período, conforme o estudo.
O novo fundo da Encore está em fase pré-operacional, ou seja, a casa já pediu o registro do produto na CVM, mas aguarda o desenrolar da parte burocrática.
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De acordo com o fundador da Encore Asset, João Braga, o fundo vai replicar a carteira do Encore Ações FIA. Por enquanto, não há expectativa para o lançamento e o executivo diz que a gestora pretende captar o “máximo possível” com a iniciativa.
No acumulado do ano até a última quinta-feira (13), o produto registra ganhos de 13,60%, acima dos 8,68% do Ibovespa – índice de referência da classe.
Para o analista da DVInvest Renato Reis, a estratégia adotada pela Encore pode representar uma nova linha de receita para casas independentes.
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“A principal vantagem é o alinhamento de interesses. Nos outros casos, a geração de alfa [retorno acima do esperado] não é o foco principal. Já no caso de uma asset independente, ela só sobrevive se gerar alfa”, observa Reis.
Na avaliação do profissional, a novidade pode ser um ganha-ganha. Do lado da gestora, o ponto positivo é a possibilidade de obter reconhecimento e patrimônio. Já do lado do investidor, o produto poderia representar uma opção a mais na hora de diversificar os investimentos.
Sinais mais positivos
Apesar do otimismo da Encore, a recomendação de especialistas é que o investidor tenha cautela antes de realizar a migração.
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Depois de sofrer com ruídos políticos e rumores sobre a privatização no começo do ano, sinais de que o governo pode desistir da vontade de reestatizar a companhia têm ajudado no desempenho dos papéis.
As ações ordinárias (ELET3) da empresa recuam 9,50%, enquanto os papéis preferencias (ELET6) avançam 1,73%, no acumulado do ano até o fechamento da última sexta-feira (14).
No auge das dúvidas de agentes financeiros, as ações chegaram a cair para R$ 35, ou seja, abaixo do preço visto na abertura de capital (IPO) em 2022, que foi de R$ 42.
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Segundo o fechamento da última sexta-feira, os papéis preferenciais terminaram o dia negociados em R$ 42,50. Já as ações ordinárias fecharam em R$ 38,10.
Em relatório, analistas do Itaú BBA destacaram que, durante o Investor Day da empresa feito na semana passada, o vice-presidente jurídico da companhia, Marcelo de Siqueira Freitas, apresentou fortes argumentos contra a ação direta de inconstitucionalidade (ADI).
Em maio deste ano, a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) maior poder de voto da União na companhia.
Durante o Investor Day, os profissionais do Itaú BBA reforçaram que a diretoria da Eletrobras afirmou que não há urgência para uma decisão judicial definitiva. Os especialistas também destacaram uma fala em que Freitas disse que a privatização seguiu todos os trâmites legislativos e legais cabíveis, além de ter sido aprovada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) na época.
Preços-alvo
Nos cálculos do Itaú BBA, o preço-alvo das ações ordinárias da companhia ao fim deste ano seria de R$ 61,60.
Outra casa que também está otimista com os papéis é o Citi. Para os profissionais de lá, o preço-alvo dos papéis ordinárias é um pouco mais baixo, de R$ 51. Segundo eles, o destaque do Investor Day foi a apresentação de toda a liderança.
“A primeira impressão que tivemos do evento foi positiva; Wilson Ferreira construiu uma equipe muito boa, com membros que serão fundamentais no longo prazo da empresa”, afirmaram os especialistas.
Na ocasião, os analistas também destacaram o guidance informado pela companhia sobre a redução de despesas operacionais e economia referente a impostos. A Eletrobras disse que reduzirá as despesas com PMSO (Pessoal, Material, Serviços de Terceiros e Outras despesas) em cerca de 42%, em uma base real entre 2022 e 2026, o que representaria uma economia de R$ 3,7 bilhões.
A administração também afirmou que espera R$ 15 bilhões em economia fiscal (potencialmente) na holding (a partir de diversas iniciativas), além de uma redução do passivo previdenciário em cerca de R$ 2,5 bilhões, ressaltaram os especialistas.