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A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de baixar a Selic para 12,75% ao ano, nesta quarta-feira (20), foi acompanhada por um comunicado repleto de ingredientes mais hawkish (inclinados ao aperto monetário) do que Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e atual chairman da gestora Jive Investments, esperava.
Um deles é o uso do plural na indicação de que o corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica – o segundo do atual ciclo de queda – deve ser seguido por outros de mesma magnitude nas próximas reuniões. Entre alguns agentes financeiros, pairava a expectativa de que o ritmo fosse acelerado para 0,75 ou até 1 ponto percentual nos encontros de novembro e dezembro.
Outro destaque do comunicado foi a constatação pelo BC de que a atividade econômica se manteve mais resiliente do que o anteriormente imaginado, destaca Figueiredo.
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Um terceiro ponto, não considerado no balanço de riscos, mas mencionado no documento, foi a importância de alcançar a meta fiscal no ano que vem. “Na medida em que o governo se aproxima da meta, as expectativas melhoram. Se não, pioram”, diz o economista.
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A certa altura, o comunicado do Copom reforça “a importância da firme persecução dessas metas” já estabelecidas “para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária”. “Isso reflete a visão geral das pessoas, não só deles [dos membros do Copom]”, segundo Figueiredo.
A proposta orçamentária para 2024, entregue ainda em agosto ao Congresso Nacional, prevê déficit fiscal zero, o que demanda que o governo encontre fontes adicionais de receita na casa dos R$ 168 bilhões no próximo ano. No mercado, de modo geral, a possibilidade de atingir essa meta é considerada remota.
Embora concorde que as chances de alcançar o déficit zero são pequenas, Figueiredo não está no clube dos mais céticos. “Não acho que o déficit zero vai acontecer, mas também não vai ficar em 1% [do PIB]”, diz. Sua expectativa é de que o governo obtenha “algum sucesso” nas suas tentativas de ampliar a receita, alcançando um resultado mais próximo de 0,50% do PIB (Produto Interno Bruto). “Não é bom, mas também não é um desastre”, avalia.
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Esse é um momento em que o mundo todo está indo muito mal na parte fiscal. E nesse concurso de bruxas, o Brasil está entre as menos feias.
Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e chairman da Jive Investments
Figueiredo acredita que, mesmo menor agora, a possibilidade de uma aceleração dos cortes pelo Copom ainda não é nula. “Na minha visão, o cenário vai continuar sendo mais favorável e o BC vai acabar podendo fazer um corte de 0,75 ponto”, afirmou. “Digamos que a inflação continue surpreendendo [para baixo]. Podemos acumular surpresas positivas. Será preciso se curvar ao novo cenário.”
Futuras decisões dos bancos centrais do mundo desenvolvido – como a do Federal Reserve (Fed) americano, de manter os juros em até 5,50% ao ano também na quarta-feira – podem ter algum peso, mas não o suficiente para mudar a rota do BC brasileiro, avalia o economista.
O mesmo raciocínio vale, segundo Figueiredo, para outras variáveis macroeconômicas, como o câmbio. “Quando o Fed diz que vai ficar mais tempo com juros mais altos, não é suficiente. Pode ter alguma oscilação no dia seguinte, é natural uma reação de curto prazo, mas para mudar muito a trajetória [do câmbio] aqui no Brasil teria de ser mais do que isso.”
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Para Figueiredo, fora a questão fiscal, o Brasil está em um “ciclo virtuoso”, de crescimento mais forte, inflação com tendência positiva e mais avançado no ciclo da política monetária. “Não mudaria a alocação agora. Continuo achando que a curva de juros de longo prazo está alta demais e que a Bolsa tem uma trajetória de melhora. No curto prazo, no entanto, sempre há oscilações”.
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