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SÃO PAULO – A economia de R$ 800 bilhões prevista pelo governo com a aprovação da reforma da Previdência virá apenas ao longo de dez anos. Ainda assim, o alívio previsto nas contas públicas já ajuda a economia brasileira, diz Tom Wilson, diretor de renda variável para mercados emergentes da Schroders, gestora que administra meio trilhão de dólares no mundo. O motivo é a queda dos juros de longo prazo, que afetam mais diretamente as decisões de investimento das companhias.
A migração de recursos para o Brasil, contudo, deve ficar para um segundo momento, ressalva Wilson. Para ele, o movimento pode se intensificar se o país começar a retomar o crescimento, projetado hoje em torno de 2% para 2020. “Recomendo paciência. A economia global não ajuda e os investidores estão mais cautelosos com esse ambiente”, afirmou o executivo, em entrevista ao InfoMoney.
A gestora aposta na retomada brasileira e, em seus investimentos globais, está colocando um peso maior em ações brasileiras do que o do índice MSCI para emergentes. A exposição do portfólio de emergentes da Schroders ao Brasil está em 11%, com alocação principalmente em empresas do setor doméstico, três pontos porcentuais acima do MSCI.
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Em passagem pelo Brasil em um momento político agitado na América do Sul, especialmente no Chile e na Argentina, Wilson avalia que as políticas populistas trazem custos fiscais, mas fazem parte de um contexto que não se restringe ao continente e que tem cada vez mais peso nas decisões de investimento. “Há uma discussão sobre o que uma empresa deve fazer e até onde ela serve apenas a seus acionistas, ou se deve ter uma responsabilidade mais ampla com trabalhadores, com a sociedade. Acho que o equilíbrio está mudando e isso é bem-vindo”, diz.
Confira a seguir os principais trechos da conversa com o InfoMoney.
IM: O Brasil está atrativo em meio aos mercados emergentes?
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O ciclo econômico é algo fundamental para os nossos investimentos. No Brasil, a recuperação foi retardada por um tempo, mas a economia está em um estágio inicial de recuperação que não deve levar a uma alta da inflação, então a política monetária pode continuar relativamente mais relaxada. Isso é algo que anima os investidores. Além disso, o governo brasileiro é pró-reformas, tem intenção de realizar uma reforma tributária, que endereça problemas de burocracia e pode melhorar o ambiente de negócios. Tudo isso sustenta um potencial de crescimento.
A reforma da Previdência foi fundamental para reduzir a curva [de juros], diminuindo o custo de financiamento de longo prazo. Também gostamos da cultura empreendedora do Brasil. Se olharmos a disrupção no setor bancário, por exemplo, existe aqui uma comunidade de negócios empreendedora que respondeu e desafiou os retornos excessivos no setor.
IM: Com a reforma da Previdência aprovada, os estrangeiros virão?
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Recomendo paciência. A economia global não ajuda e os investidores estão mais cautelosos com esse ambiente. Quanto da desaceleração econômica no mundo vai se materializar? Hoje pode-se olhar para os Estados Unidos e achar que a indústria está fraca, mas a economia americana é muito mais voltada para o setor de serviços. É preciso entender se a fraqueza da indústria vai afetar o mercado de trabalho e o consumo.
Achamos que vai haver uma desaceleração, mas não é um ambiente parecido com o da crise financeira de 2008. A razão é que as famílias americanas estão em boa condição, reduziram suas dívidas desde a crise. Há elementos de fraqueza, como a dívida de estudantes, mas, no agregado, parece ok. Não vemos uma recessão agressiva. Sobre o Brasil, os investidores provavelmente já assumiam que o Senado aprovaria a reforma, mas uma melhora no crescimento no ano que vem encorajaria um fluxo de capital para o país. O Brasil se destaca entre vários mercados por estar em um estágio inicial de crescimento liderado por reformas e pode atrair recursos.
IM: Em caso de uma recessão global, como fica o Brasil?
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O importante é saber se as políticas do governo brasileiro mudarão em caso de um ambiente global mais fraco, que deixe o crescimento abaixo de 2%. Até onde o governo continua a ter espaço para implementar uma agenda de reformas quando houver mais pressão para satisfazer a base eleitoral. Mas o ambiente econômico que estamos vendo no mundo não é um desastre. Nossa expectativa é que o governo continue com as políticas ortodoxas.
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IM: A imagem do governo no exterior tem atrapalhado o movimento?
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O governo tem sido muito positivo em termos de agenda reformista. Do lado da política econômica, estamos contentes com a perspectiva de uma reforma tributária, por exemplo. Mais esforços para aumentar o PIB potencial seriam muito positivos, ajudariam a construir um país mais rico. Em outros aspectos, como a reação do governo aos incêndios na Amazônia ou ao vazamento de óleo no Nordeste, pode ser que a comunicação do governo possa melhorar e o encorajamos a compreender sua imagem no exterior.
Investidores profissionais estão cientes dos aspectos negativos de uma comunicação mais fraca. Você espera que o governo garanta que a Amazônia não seja desmatada continuamente. Em relação à floresta, houve problemas com a União Europeia, por exemplo e isso pode ter uma consequência econômica. Esperamos que o governo esteja atento à evolução do mundo, ao foco cada vez maior que os investidores darão a questões do tipo ESG [desempenho ambiental, social e de governança corporativa] não apenas no nível empresarial, mas também estatal.
IM: A Schroders enxerga oportunidade na Bolsa brasileira hoje?
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Sim, acreditamos que o mercado brasileiro está atraente. Os múltiplos melhoraram e há também uma recuperação a caminho, então as companhias devem entregar lucros. O fechamento da parte longa da curva de juros é importante, tanto em termos da taxa de desconto [utilizada para calcular o valor das empresas, ao trazer seu fluxo de caixa a valor presente] quanto para a dinâmica do setor exportador.
Enxergamos também uma mudança no apetite dos investidores por tipos de fundos diferentes. Atualmente há fundos que entregam alto retorno, mas têm um perfil de risco super agressivo e sem foco no resultado ajustado pelo risco; operam com posição muito concentrada. Na medida em que as pessoas investem mais em ações, não necessariamente vão querer a volatilidade de alguns fundos. Também queremos ver a cultura evoluir, que os investidores entendam que não se deve investir em ações com um horizonte de seis meses. Decida sua alocação e mantenha ao longo do tempo.
IM: As situações políticas no Chile e na Argentina têm impacto sobre os investimentos no continente?
Será interessante saber como será a agenda de Alberto Fernández [eleito presidente da Argentina no domingo], vamos esperar para ver. No Chile, o mercado fica sob pressão, já vimos um pacote anunciado com implicações fiscais e sobre a confiança. Estamos cientes que há questões em função da desigualdade não apenas na América Latina ou em emergentes. Vemos isso também na França e Reino Unido. Há um ajuste fino a se alcançar em qualquer economia.
É preciso, por exemplo, um grau de flexibilidade do mercado de trabalho para incentivar contratações, mas é preciso garantir que os trabalhadores sejam tratados de maneira justa. Há uma discussão sobre o que uma empresa deve fazer e até que ponto ela serve apenas a seus acionistas, ou se deve ter uma responsabilidade mais ampla com trabalhadores, com a sociedade. Acho que o equilíbrio está mudando e que isso é bem-vindo. Nós integramos esses aspectos em nossos estudos não apenas para sermos investidores éticos, mas também pela sustentabilidade do retorno.
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