Mercado global de ações está com “cara de bolha”, na visão do gestor Roberto Vinhaes

SÃO PAULO – Embora o ambiente global se desenhe bastante favorável para 2021 na visão do mercado, devido ao início da vacinação e dos estímulos dos governos, é preciso lembrar que existe ainda uma série de incertezas no radar internacional.

O ciclo econômico continua atípico, com a retração brusca das economias por conta da pandemia e a reação igualmente intensa em termos fiscais e monetários, com consequências ainda desconhecidas.

E com a forte alta dos ativos de maior risco ao longo dos últimos meses, é preciso ter ainda mais cuidado na seleção dos melhores investimentos internacionais, segundo especialistas da gestora especializada em ações globais Nextep e da XP Private, que participaram de painel do evento Onde Investir 2021 na quinta-feira (28).

Olhando a média de preços das Bolsas, o mercado global de ações está hoje com “uma cara de bolha”, afirmou Roberto Vinhaes, sócio da Nextep Investimentos e um dos fundadores da IP Capital Partners, primeira gestora independente de recursos do país. Ele fez a ressalva de que o estatístico “é o cara que morre afogado num rio com profundidade média de 40 centímetros”, mas ressaltou os riscos do mercado atual.

E não só por uma questão do patamar de preço das Bolsas, prosseguiu o especialista, mas pela falta de qualidade de alguns dos negócios que têm conseguido captar dinheiro com certa facilidade.

Quando o custo de capital está muito abaixo da média, o que acontece hoje em razão das políticas de salvamento dos bancos centrais pelo mundo, inevitavelmente os investidores são induzidos a uma má alocação de capital, que resulta no surgimento de negócios que muito provavelmente não conseguirão se provar um pouco mais à frente, afirmou o gestor.

“Esse cenário para os investidores é muito perigoso”, disse Vinhaes, que enxerga um paralelo do quadro atual com o observado no início dos anos 2000, quando estourou a bolha das empresas de internet. “Para chegar em primeiro, primeiro é preciso chegar”, alertou o gestor.

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Artur Wichmann, CIO da XP Private, foi ainda até um pouco mais enfático em sua avaliação sobre o nível atual dos preços, como reflexo da postura altamente estimulativa por parte dos governos.

“Tem uma bolha gigante de liquidez no mundo”, comentou o CIO da XP Private, que citou como reflexo desse excesso de dinheiro em circulação no mercado distorções como as taxas de juros reais negativas pagas hoje por países desenvolvidos.

“O ativo livre de risco virou o ativo livre de retorno”, assinalou Wichmann.

Ações ainda promissoras

Diante desse cenário, como encontrar ações promissoras? A aposta em pessoas capacitadas, que fazem a diferença à frente de um determinado negócio, é um dos grandes segredos para se ter sucesso com os investimentos, afirmou Rodrigo Lobo, sócio da Nextep.

Em certas situações, prosseguiu o especialista, é melhor investir em uma empresa que está em um ambiente desafiador, mas com gente de confiança para liderar o processo de recuperação, do que naquelas que estão em um momento favorável, o que poderia dar espaço a líderes complacentes.

As ações da empresa GE no portfólio dos fundos da gestora foram citadas para exemplificar o raciocínio. A companhia tem uma área importante de fabricação e manutenção de turbinas de aeronaves mundo afora, e naturalmente sofreu por conta disso na pandemia.

No entanto, se a visão de mais longo prazo é a de que o transporte aéreo não vai simplesmente desaparecer da face da Terra, a GE, pelo modelo de negócio e pelas pessoas responsáveis por implementá-lo, é uma empresa bastante atraente na visão da Nextep.

“É muito mais um trabalho de headhunter e investigação do que qualquer outra coisa. Os números vêm depois”, complementou Vinhaes sobre a filosofia de investimento da casa, citando ainda Disney, Adidas e Cable One entre as posições que carrega na carteira.

Amanhã tem mais

Nesta sexta-feira, último dia do evento Onde Investir 2021, o investidor poderá acompanhar, a partir das 18 horas, painel com a participação de Albano Franco (SPX) e Marcelo Urbano (Augme Capital), que vão falar sobre como investir na renda fixa em um cenário de juros menores que a inflação.

Logo em seguida, às 19h15, Tiago Berriel (Gávea) e Felipe Guerra (Legacy) vão debater quais são as melhores estratégias de fundos multimercados para este ano. Para acompanhar o evento, basta se inscrever por aqui.