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Mais do que o balanço em si, os ajustes contábeis de R$ 830 milhões no patrimônio líquido do Magazine Luiza (MGLU3) referentes a incorreções em lançamentos de bonificações a fornecedores voltaram a preocupar o mercado na manhã desta terça-feira (14) — abalado ainda por eventos passados como o das Lojas Americanas e Light, no começo deste ano.
Na mínima intradiária, as ações ordinárias do Magazine Luiza (MGLU3) chegaram a ser negociadas a R$ 1,55 nesta manhã, o que representa uma queda de 10,4%. O movimento, porém, perdeu força ao longo do dia e virou para o campo positivo. Por volta das 16h20 (horário de Brasília), os papéis subiam 2,31%, a R$ 1,77.
A terça-feira também foi mais agitada no mercado de crédito. Após dias sem um negócio sequer, um grande investidor realizou a venda de cerca de R$ 27 milhões em debêntures com vencimento em 2024 da Magazine Luiza nesta terça-feira, conforme informou uma fonte do mercado.
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A taxa foi de CDI+10%, percentual bem acima do CDI+1,25% vistos no momento da emissão das debêntures.
A situação chama atenção, especialmente porque o fluxo nos papéis do Magazine Luiza tem sido mais “comportado” nos últimos dias, diante da falta de liquidez dos papéis, segundo destacou uma fonte com conhecimento no assunto.
“Os detentores dos ativos que compraram com taxa maior estão confortáveis com o risco e não estão dispostos a vender nos atuais patamares”, destacou o profissional. Para ele, quem comprou a taxas elevadas só irá vender quando elas caírem. Por isso, a falta de liquidez agora nos papéis.
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Embora o rendimento obtido nos negócios esteja elevado, a avaliação de especialistas ouvidos pelo InfoMoney sob condição de anonimato é que os erros contábeis envolvendo o Magazine Luiza não devem levar a desdobramentos semelhantes aos vistos com as Lojas Americanas no começo do ano no mercado de crédito, pelo menos por enquanto.
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“Não é explosivo. Não vai fazer ir para uma RJ [recuperação judicial]. As dívidas do Magazine Luiza são bem menores do que as detidas pelas Americanas, que também envolvem mais bancos. Lá ocorreu uma fraude. Agora, estamos falando de um erro contábil”, destaca uma fonte que atua com gestão de fundos.
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O profissional também lembra que o Magazine Luiza possui algo próximo de R$ 5 bilhões em debêntures que estão espalhadas por fundos e tesouraria de bancos, montante bem abaixo dos cerca de R$ 10 bilhões em títulos de crédito da Americanas que estavam espalhados por vários investidores, inclusive fundos de crédito privado.
Outro especialista concorda que os papéis de Magazine Luiza não são tão pulverizados no mercado e reforça que eles já estavam sendo negociados a CDI+8% ou CDI+9% no secundário.
“No limite, seria algo tipo Credz, mas não vejo resgates massificados”, destacou o profissional, ao ser questionado se o evento poderia levar a uma nova onda de saques em fundos de crédito e uma necessidade de venda forçada de títulos por parte dos gestores.
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Não é explosivo. Não vai fazer ir para uma RJ [recuperação judicial]
Outro fator que parece pesar a favor da empresa e que pode ter ajudado a abrandar a queda do papel ao longo do dia é a informação de que a empresa não estaria considerando um aumento de capital. “O fato de eles terem negado o aumento pode indicar que a situação não está crítica. Tem uma percepção do controlador que dá para esperar para ver se não é possível melhorar antes de tentar o aumento. Agora, só o tempo dirá se ele estará certo ou não”, afirma uma fonte.
Segundo reportagem do jornal Valor Econômico veiculada nesta manhã, a família fundadora do Magazine Luiza estaria conversando com bancos e investidores sobre uma potencial capitalização da companhia da ordem de R$ 2 bilhões, no qual os Trajano entrariam com cerca de metade desse volume. A família detém 56% do Magalu.
A informação, porém, foi negada pelo diretor financeiro do grupo de varejo, Roberto Bellissimo Rodrigues, em teleconferência na manhã desta terça-feira. Segundo ele, a estrutura de capital da empresa é sólida e líquida e a companhia não tem discussão ou necessidade de uma operação de aumento de capital.
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Entenda o caso
Toda a história começou quando o Magazine Luiza (MGLU3) afirmou, na última segunda-feira (13), que foram identificadas incorreções em lançamentos contábeis de bonificações a fornecedores, levando à reapresentação de demonstrações financeiras da companhia, conforme fato relevante. As incorreções levaram à redução de R$ 830 milhões no patrimônio líquido da empresa.
Segundo a varejista, os erros foram encontrados em lançamentos contábeis no âmbito de apurações internas, junto a TozziniFreire Advogados e à PwC, após denúncia anônima mais ampla, e que não se confirmou, em março deste ano.
Na época da denúncia, a varejista declarou que ela mencionava três distribuidores, os quais, ao longo de 2022, representaram aproximadamente 3,5% do valor total de compra de mercadorias da empresa. A sugestão era que existiam operações de bonificação relativas à compra de fornecedores e distribuidores.
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Em teleconferência pela manhã, o CEO do Magazine Luiza, Frederico Trajano, apontou que a apuração da denúncia anônima sobre problemas nos balanços foi realizada de forma “transparente, rigorosa e independente”. E, de acordo com o CFO Roberto Bellissimo, estão sendo tomadas medidas de governança e em sistemas para evitar que novos problemas como este encontrado nas bonificações voltem a ocorrer.
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Entre as medidas citadas está o aprimoramento do sistema automatizado de gestão de verbas de fornecedores e mecanismos que permitam acompanhar o cumprimento das obrigações de desempenho de cada negociação. Outra medida é a melhoria dos mecanismos de governança que garantam a segregação das funções relacionadas à execução das etapas do processo de negociação e apropriação de bonificações.
Bellissimo destacou que não houve alteração no fluxo de caixa operacional da empresa, bem como nas posições de caixa e dívida. Segundo ele, os problemas encontrados afetaram somente as contas de bonificações do Magalu. Ele pontuou ainda que os “números foram exaustivamente revisados de 2022 a setembro de 2023” e que a empresa está “convicta de que os números reportados no 3T23 são “os números finais” e eles não serão alterados. “Os processos de auditoria do 3T23 foram bem revisados”, afirmou.