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SÃO PAULO – As ações atreladas a ciclos de crescimento, conhecidas como cíclicas, devem apresentar boas oportunidades de investimento nos próximos meses, em linha com a recuperação da economia global. O otimismo no Brasil, contudo, deve ser mitigado pelas incertezas que cercam as eleições do próximo ano. É com esse olhar mais atento aos aspectos macroeconômicos que a área de renda variável da SPX Capital norteia suas decisões de investimento.
Na avaliação de Leonardo Linhares, sócio responsável por ações na SPX, a saída da crise causada pela pandemia da Covid-19 é desigual. Ainda que esteja atrás de países desenvolvidos, o Brasil vai se beneficiar do excesso de liquidez global, mas o cenário político deve reduzir essa tração.
“Olhando para 2022, é difícil ver uma oportunidade significativa de upside [potencial de valorização] na Bolsa. A Bolsa vai acompanhar o cenário externo, um pouco mais ou um pouco menos, se não fizermos nenhuma besteira”, disse Linhares ao participar do 28º episódio do podcast Outliers, apresentado por Samuel Ponsoni, analista de fundos da XP.
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Apesar desse aparente pessimismo com o Brasil, Linhares afirma que há espaço para ganhos e que as principais teses de investimento dos fundos de ações da SPX estão no país, mesmo com um mandato que permite investir em ativos no exterior.
Esse espaço de ganho recai sobre as ações mais cíclicas ou nas mid caps (de empresas de média capitalização da Bolsa), incluindo papéis de companhias que recém estrearam na Bolsa. “Mesmo com o aumento dos juros no Brasil, achamos que o que é cíclico ainda tem espaço para performar bem”, observou o gestor.
O Banco Central já promoveu duas altas na taxa Selic, atualmente em 3,50% ao ano. O relatório Focus aponta para um juro de 5,50% ao final deste ano e 6,25%, em dezembro de 2022.
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Das empresas mais ligadas ao ciclo global de crescimento, Linhares tem preferência por Vale, Gerdau, Klabin e Marfrig. Entre os papéis atrelados ao mercado interno, os destaques são Assaí – que começou a ser negociada na B3 em março, após a cisão (spin-off) com o Pão de Açúcar – e a Natura.
“Vemos crescimento no negócio do Assaí. Achamos que é a melhor [ação] do setor e pode entrar nos índices, o que irá gerar uma compra forçada”, afirmou Linhares, acrescentando que a empresa ainda tem espaço para explorar novos mercados, como parcerias com financeiras.
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Já a Natura é tida como uma empresa de growth (crescimento), ou seja, com potencial para multiplicar seu próprio valor. “Vemos uma valorização de 30%, 40% em 18 meses, o que é uma oportunidade muito boa.”
Em relação ao setor de tecnologia, não há concentração relevante em nenhuma empresa, mas o gestor mencionou que os papéis de Mercado Livre, Totvs e Enjoei estão na carteira.
Olhar macro
Para Linhares, dar um peso maior às variáveis macroeconômicas na hora de definir as teses de investimento é o que difere a SPX de outras gestoras quando o assunto é fundos de ações. Em sua avaliação, ter esse olhar é diferencial, dado que os prazos para tomada de decisão e entrega de resultados estão cada vez mais curtos.
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“Às vezes, só saber se entraremos em um ambiente de alta ou baixa volatilidade já faz o gestor ganhar muito dinheiro. É preciso saber onde está o problema, mesmo que muitas vezes não se acerte o timing“, explicou.
É por essa característica de se movimentar de acordo com o cenário macro que Linhares é visto como um profissional que gosta de “girar” a carteira. Atualmente, ele é responsável por cerca de R$ 4 bilhões dos R$ 50 bilhões que a SPX tem sob gestão.
“Muitas vezes vemos um ativo se deslocar do seu valor justo. Aí entra a habilidade em se movimentar rápido e a baixo custo. Só fazemos isso quando nos sentimos confortáveis em explorar um ruído”, explicou.
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Ele refuta, porém, ter uma atuação de “day trade“, ou seja, de buscar ganhos com operações diárias ou de curtíssimo prazo. “Acho que não tem day trade milionário. Dinheiro você ganha com suas convicções de investimento e com o tamanho correto da exposição.”
Alocação internacional como complemento
Na renda variável, a SPX tem basicamente duas estratégias de atuação. Uma é representada, principalmente, pelo Patriot (fundo long only, em que se trabalha apenas na compra de ativos esperando a valorização) e outra, pelo Falcon (long biased, em que são feitas algumas posições “vendidas”, com aposta na queda das ações). Nas duas estratégias, as teses de investimento no Brasil prevalecem, com a alocação em ativos no exterior variando entre 10% e 30%.
Embora a exposição ao risco no exterior seja baixa atualmente, Linhares afirma que a SPX acompanha as principais externalidades, uma vez que parte delas pode ter impacto nos negócios no Brasil, como é o caso das commodities.
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No início de 2021, a gestora lançou ainda o SPX Long Biased Previdenciário.
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Experiência com crises
Linhares se formou em economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, na sequência, foi trabalhar no Banco da Bahia, que mais tarde iria se tornar o BBM. De lá, saiu em 1996 para formar sua própria gestora, mas a experiência foi breve, durando menos de um ano.
Assumiu a posição seguinte no banco Modal, mas, em 1997, o carioca foi chamado de volta ao BBM, onde assumiu o posto de gestor de ações e, na sequência, de diretor. O ciclo no banco no qual iniciou a carreira se esgotou em 2012, quando foi para a SPX, gestora fundada por Rogério Xavier, Daniel Scheider e Bruno Pandolfi.
Com sua experiência, também não foram poucas as crises que Linhares presenciou e nas quais aprendeu que a administração de liquidez ajuda a atravessar os períodos de maior turbulência.
Essa lição foi incorporada de forma mais intensa na maxidesvalorização cambial, em 1999, quando o Brasil precisou abandonar o sistema de bandas e adotar o câmbio flutuante.
Naquela época, o economista estava no BBM, que tinha uma visão de que a taxa de câmbio estava fora do lugar. Quando ocorreu a mudança do regime cambial, o banco administrou sua liquidez para aproveitar as oportunidades. “Em crises, vai ter overshooting [reação desproporcional] e vão aparecer as oportunidades”, disse Linhares, na conversa.
Outra crise que marcou a carreira do gestor de renda variável foi a da crise financeira de 2008, que afetou os mercados globais. Esse foi outro momento que, para o gestor, estava claro que os preços dos ativos estavam distorcidos devido à bolha hipotecária americana, o que gerou uma série de descasamentos. Mais uma vez, a gestão da liquidez fez a diferença.
A entrevista com Leonardo Linhares, sócio responsável por ações na SPX Capital, assim como os episódios anteriores do Outliers, pode ser conferida pelo Spotify, Deezer, Spreaker, Apple e demais agregadores de podcast.