Publicidade
Às vésperas da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), investidores se viram diante de uma abertura um pouco mais expressiva da curva de juros futura americana.
Na manhã desta segunda-feira (18), os rendimentos dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) de dez anos voltavam para os 4,334%, por volta das 11h30, acima dos 4,322% de sexta-feira (15).
Outros títulos também eram afetados, caso do papel com vencimento em dois anos. O rendimento entregue pelo título chegou aos 5,079% na máxima intradiária e passou a ser negociado a 5,054% perto das 14h30, acima dos 5,033% de sexta.
Newsletter
Liga de FIIs
Receba em primeira mão notícias exclusivas sobre fundos imobiliários
Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.
Ao longo do dia, porém, o movimento de alta foi perdendo um pouco de força nos papéis mais longos. No caso do título de dez anos, o retorno chegou a 4,315% perto das 14h30.
Na avaliação de José Pena, economista-chefe da Porto Asset, o movimento de abertura (elevação das taxas) é fruto da divulgação de indicadores que mostraram “grande resiliência” da economia americana, juntamente com a piora gradual da percepção do quadro fiscal de médio e longo prazos nos Estados Unidos.
Leia mais:
• “Bonds não vão se sustentar”: Ray Dalio dispensa títulos de dívida em meio a juros altos nos EUA
Continua depois da publicidade
Diante de um cenário delicado e que exige cautela, Pena espera que o Fomc mantenha as taxas de juros americanas entre 5,25% e 5,50% na reunião desta quarta-feira (20), mas não descarta a possibilidade de que a autoridade monetária volte a elevar os juros nos próximos encontros.
“A sinalização de uma ou mais eventuais altas não está descartada, sobretudo se a economia seguir mostrando força nos próximos meses e trimestres, e se os preços do petróleo mantiverem a trajetória de elevação”, pondera o economista.
Por volta das 11h30 desta segunda-feira (19), os contratos futuros de petróleo do tipo Brent eram cotados a US$ 94,91, enquanto o WTI era negociado a US$ 92,13, valores bem acima dos US$ 81,37 e US$ 85, respectivamente, vistos no começo de agosto, menos de dois meses atrás.
Continua depois da publicidade
A aposta de Pena sobre a direção a ser adotada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) está em linha com o mercado. Segundo a plataforma CME Group, agentes precificam uma probabilidade de 99% de manutenção dos juros nos Estados Unidos na reunião desta quarta-feira.
Já para o encontro de novembro, há certa divisão: 31% dos agentes acreditam que o Fed deverá elevar os juros em 0,25 ponto percentual para o patamar entre 5,50% e 5,75%, enquanto 68% defendem uma manutenção.
Atualmente, a Porto Asset está com uma posição ligeiramente tomada (que se beneficia da alta) em juros americanos e sem alocações relevantes nas Bolsas do País.
Continua depois da publicidade
Quem também está posicionado em juros americanos é a Novus Capital. Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor da casa, explica que a gestora tem uma exposição que se beneficia do aumento da inclinação na curva dos Estados Unidos, ou seja, quando aumenta a diferença entre as taxas de curto prazo e as de longo prazo.
A Novus Capital possui ainda uma posição que se beneficia da alta do dólar contra o euro.
Visão de Ray Dalio
Embora a abertura da curva futura de juros nos Estados Unidos nos últimos meses traga uma perspectiva mais positiva para o mercado de títulos públicos americanos, o otimismo com esse tipo de investimento não é compartilhado pelo megainvestidor de Wall Street Ray Dalio, que deixou o controle da Bridgewater Associates no fim do ano passado.
Continua depois da publicidade
Para Dalio, a preferência agora é por caixa e não por deter esse tipo de papel.
“Temporariamente, neste momento, acho que caixa é bom. As taxas de juros estão boas. Não creio que isso [taxas] vai conseguir se sustentar dessa forma”, disse em seminário do Instituto Milken na Ásia, em Singapura, na quinta-feira (14), segundo informações da Bloomberg e da CNBC.
Dalio reforçou certa preocupação com o aumento da dívida americana. O gestor alertou que quando o endividamento representa uma parte substancial da economia de um país, a situação “tende a se agravar e a acelerar”, com o aumento das despesas com juros.
Continua depois da publicidade
Leia mais:
• “Super Quarta” com Fed e Copom movimenta os mercados junto com prévia do PIB: Confira o que acompanhar na semana
Na sua avaliação, investidores estão chegando perto do ponto de aceleração em que o tamanho do déficit poderá exigir um movimento de venda de títulos, se as taxas de juros reais não forem suficientemente altas.
Em um eventual movimento de venda generalizada, Dalio lembra que os preços irão cair e as taxas, subir. “Como resultado, os custos dos empréstimos vão ficar mais altos e haverá maior pressão sobre a inflação, o que vai dificultar a tarefa dos bancos centrais”, diz.
Se isso ocorrer, o megainvestidor lembra que a autoridade monetária americana terá que decidir se prefere sofrer as consequências de deixar as taxas de juros mais elevadas, ou se prefere imprimir dinheiro e comprar os títulos, o que poderá trazer consequências inflacionárias.
“Estamos vendo essa dinâmica acontecer agora. Pessoalmente, acredito que os títulos de longo prazo não são um bom investimento”, frisou.
Na contramão de outras casas
A opinião de Dalio, porém, vai na direção contrária de outros especialistas. Em entrevista ao InfoMoney no começo do mês, David Rosenberg, corresponsável por portfólios e diretor-executivo da Oaktree, ressaltou o momento único que vive a renda fixa americana.
“A beleza da renda fixa hoje é que você não precisa ser um herói e ir para um ativo muito arriscado. Os retornos já estão elevados”, disse Rosenberg.
Com mais de 20 anos de experiência no mercado, o executivo afirmou que não consegue pensar em outro momento em que era possível receber um retorno de duplo dígito em crédito sem que um desastre tivesse puxado os rendimentos para cima.