IPCA de maio ainda não “crava” tendência de melhora e BC deve subir Selic em 0,5 ponto, diz sócio da Rio Bravo

Para Evandro Buccini, autoridade monetária deve parar para observar os efeitos defasados da política monetária após a reunião de junho

Bruna Furlani

Evandro Buccini - Rio Bravo Investimentos
Evandro Buccini - Rio Bravo Investimentos

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Após sucessivas surpresas negativas com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o mês de maio não confirmou uma piora da inflação, mas também não corroborou uma tendência de melhora. A avaliação é de Evandro Buccini, sócio-diretor da gestora Rio Bravo Investimentos.

Ao analisar o avanço de 0,47% da inflação oficial em maio na comparação mensal, Buccini diz que o número absoluto não é algo a ser “comemorado”, porque segue um percentual elevado. Ele chama a atenção para o fato de que o mês é naturalmente um período em que a inflação estrutural começa a desacelerar.

Ainda assim, ele cita alguns destaques positivos como alimentação, que avançou 0,48% em maio, ante 2,06% em abril. Além disso, ele fala que o índice foi ajudado por alguns artigos de residência e pelo efeito da mudança de bandeira energética que voltou a ser verde há cerca de dois meses. Em maio, por exemplo, a energia elétrica residencial recuou 0,36 ponto percentual, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Por outro lado, a gasolina seguiu trazendo problemas para o índice, ao avançar 0,92% em maio, na opinião do sócio-diretor. Embora o combustível tenha desacelerado em relação ao mês anterior, o combustível ajudou a fazer com que outros itens com preços regulados viessem acima do esperado.

Outro ponto de atenção está na inflação de serviços e nos núcleos de inflação – que servem para mitigar impactos transitórios sobre o comportamento dos preços – e que vieram um pouco melhor do que o esperado, mas seguem altos. A inflação de serviços, por exemplo, terminou maio em 0,85%, na comparação mensal, enquanto a média dos núcleos encerrou em 0,92%.

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“Estamos de olho porque é uma inflação que é difícil de ser vencida. Se ela ficar alta por muito tempo, junto com um mercado de trabalho forte, pode caminhar para um cenário de emprego de Nairu”, afirma o executivo. Na prática, essa definição corresponde a um conceito econômico segundo o qual a partir de certo nível o mercado de trabalho começa a ser fonte de inflação.

O especialista, no entanto, reforça que, em maio, a inflação de serviços não mostrou que está “saindo de controle”, ao contrário do mês anterior.

Destaque também para o índice de difusão – que mede o percentual de itens com aumento de preços – que ficou em 72% em maio, o que representa leve recuo em relação a abril. Ao olhar o número, Buccini disse que o indicador segue elevado e com comportamento mais estável, se mantendo acima dos 70% desde dezembro de 2021, o que também preocupa.

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Selic a 13,25% e Copom mantendo portas abertas

Com os números mostrando que ainda não é possível “cravar” uma tendência de melhora da inflação, Buccini diz que, em sua visão, o IPCA confirmou que o Comitê de Política Monetária (Copom) terá que elevar os juros em 0,50 ponto percentual na reunião deste mês, o que levaria a Selic para 13,25% ao ano.

“Segue o plano que eles tinham de realizar mais uma alta e de parar para observar”, afirma. “O desafio será escrever isso de uma forma que seja crível e clara para o mercado”.

O executivo afirma que, se o BC for vago, o mercado pode ficar sem âncora. Por isso, será muito importante encontrar o tom ideal para não provocar grandes alterações entre as projeções dos agentes financeiros.

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“Me parece que a curva de juros está indo para o caminho que ele [BC] quer. Pode ter mais uma alta [depois de junho], mas é pouca coisa. Acho que o plano A do BC é parar para observar os efeitos defasados”, pondera o profissional.

Em meio aos imbróglios envolvendo projetos de lei com foco em reduzir o preço dos combustíveis, Buccini diz que a ata deve trazer também mais detalhes sobre a preocupação do BC com relação a esse tema. “Vai ter que ter algo tratando sobre isso, porque gera muita volatilidade para a inflação”, afirma.

Ao ser questionado se tais projetos podem postergar o ciclo de cortes da Selic no ano que vem, Buccini diz que essa é a grande pergunta do momento. Ele destaca que o movimento que tem sido feito pelo Congresso e pelo Executivo tem um potencial grande em termos de estragos fiscais e que é apenas “mais um exemplo de destruição do teto de gastos”.

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Olhando os números, Buccini diz que as grandes casas projetam que tais medidas podem retirar entre 2 e 3 pontos percentuais das projeções de inflação deste ano. Porém, no ano que vem, ele conta que isso deve retornar sob a forma de 1 ponto percentual a mais para a inflação.

Tais fatores devem pressionar os juros de 2023 e fazer com que o BC tenha que postergar o início do ciclo de cortes. Para o executivo, a Selic deve encerrar o ano que vem cada vez mais perto dos 10%, sendo que antes as expectativas da casa giravam em torno dos 8%. Da mesma forma, as projeções de inflação da casa para o ano que vem – que hoje estão em 4,5% – devem ser revisadas para cima.

Possíveis reajustes no preço da gasolina e do diesel também estão no radar do executivo. Segundo ele, o momento atual é favorável para que a gasolina fique mais alta no hemisfério norte e isso também pode ajudar a forçar os preços pra cima aqui no Brasil.

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“Dependendo do que ocorrer com o câmbio e com o petróleo, essas medidas de redução de ICMS podem ser completamente compensadas pelo preço da commodity”, alerta.

Alocação em títulos de inflação

Ao ser questionado sobre o cenário que prevê para a curva de juros, o sócio da Rio Bravo argumentou que a maior parte dos ativos está em “momento de muita volatilidade e sem muita tendência”.

Nesse sentido, a casa não fez grandes alterações recentes no portfólio e apenas seguiu com a maior parte da alocação nos multimercados em títulos públicos atrelados à inflação (NTN-Bs) com prazo de seis anos.

Segundo ele, a gestora também tem adotado algumas posições táticas de olho na piora da inclinação da curva (em que os títulos de prazo mais longo oferecem juros mais atrativos porque estão mais suscetíveis ao risco), apesar de destacar que “é preciso estômago”, porque esses papéis vão seguir muito voláteis.

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