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O avanço abaixo do esperado para a prévia da inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), em abril, trouxe alívio para alguns gestores, que receberam o indicador como uma notícia positiva.
Luiz Eduardo Portella, sócio fundador da gestora Novus Capital, é um deles. Para ele, o risco altista da inflação é o câmbio. “Porém”, diz, “o juro alto no Brasil – que pode chegar a 13,25% nas contas da casa – será capaz de segurar uma apreciação maior do dólar frente ao real”.
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Segundo os cálculos da Novus, a divisa americana deve encerrar o ano em R$ 4,70. Em sua visão, a apreciação mais recente da moeda tende a ser passageira e está ligada ao fato de que quando o dólar estava entre R$ 4,70 e R$ 4,80, as assets venderam bastante moeda americana.
De acordo com Portella, o ponto é que com a China tentando segurar o enfraquecimento de sua economia e os Estados Unidos em uma situação mais confortável, o mercado externo comprou dólar e passou por um movimento de stop [parada] grande. “Acho que quando acabar esse stop, o mercado deve se reequilibrar porque o juro no Brasil vai seguir alto e isso pode segurar o dólar”, reforçou o sócio da Novus.
Confira os principais trechos da entrevista:
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O IPCA-15 veio abaixo do esperado, mas ainda mostrou que a alta de preços segue disseminada. Como avalia os números divulgados hoje?
Acho que a notícia é positiva. Parou de surpreender pra cima. A gente teve uma antecipação da alta da gasolina no último IPCA e o efeito da bandeira verde, mas os núcleos [medida que procura captar a tendência dos preços, desconsiderando distúrbios resultantes de choques temporários] também vieram abaixo do esperado. Se pegarmos um item que prejudicou muito a inflação antes foi automóveis e a cada mês , ele vem caindo e está próximo do zero a zero. Isso pode indicar que a pressão de automóveis, por exemplo, está perto do fim. O preço dos alimentos in natura no atacado começou a indicar que pode ir para o terreno negativo também. Por outro lado, se o dólar voltar a ultrapassar os R$ 5, a defasagem da gasolina e do diesel que podia recuar, voltaria a subir. Precisamos ver o câmbio estabilizando em algum patamar e o aperto do Fed [banco central americano] está batendo no dólar.
Como o Banco Central deve fazer a leitura desses números?
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O BC está querendo parar [de subir os juros]. Ele quer olhar um pouco os dados, os efeitos defasados e esse número ajuda o BC a parar em junho. Tudo indica que deve haver um aumento de 100 bps [1 ponto percentual] em maio e a alta de junho ficará em aberto. Até lá, teremos mais dados para ver se isso vai de fato acalmar. Com a economia da China decepcionando, as commodities podem ir para baixo e se o dólar não for muito além dos R$ 5, a inflação pode frear. Tudo indica que estamos perto do fim da subida de juros. Matematicamente, a inflação fez pico. Agora, temos que ver se ela vai convergir para 7,5% ou 8%.
Em termos de Selic, o número do IPCA-15 hoje deve afastar as projeções de altas mais agressivas até o fim do ano?
Acredito que sim, afastou. Se olharmos por dentro do IPCA-15, os números trazem um pouco mais de tranquilidade. Itens mais sensíveis ao câmbio, como perfumes e automóveis foram pra baixo, ou ficaram perto da estabilidade. Além disso, a coleta dos preços de alimentos in natura no atacado está começando a cair. O risco altista agora é o câmbio, mas o juro está muito alto. Acredito que isso poderia ajudar a segurar o câmbio.
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Nas últimas sessões, vimos a subida mais forte do dólar contra o real. O que justifica esse movimento?
Quando olhamos os contratos em aberto deu para ver que quando o dólar estava entre R$ 4,70 e R$ 4,80, as assets venderam dólar. Com a piora no cenário com a China tentando segurar a economia e os Estados Unidos bem, o gringo comprou dólar e houve um movimento de stop [parada] grande. Acho que quando acabar esse stop, o mercado deve se reequilibrar porque o juro no Brasil vai seguir alto e isso pode segurar o dólar. Se isso ocorrer, o efeito disso pode ajudar a levar a inflação para baixo. Nas nossas projeções, a inflação deve encerrar o ano em 7,70% e o dólar em R$ 4,70.
Na carta de março, a gestora estava com uma posição vendida (que se beneficia da desvalorização) em dólar contra o real. Houve mudança na posição?
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A gente não quis ficar contra o dólar agora e montamos posição no dólar contra o peso mexicano, por exemplo. Estamos com uma carteira mais negativa no global, apostando que o Fed [banco central americano] vai ter que apertar as condições monetárias. Estamos com posição vendida em Bolsa americana, estamos tomados [posição que se beneficia da alta dos juros] em juros americanos e com posição contra o mercado de crédito americano. Já no Brasil, compramos [quando acredita na alta] um pouco de Bolsa local e estamos de olho para iniciar posição aplicada [que pode se beneficiar do recuo dos juros] em juros no Brasil, acreditando que estamos perto do fim do ciclo. O risco externo que há hoje é que a China não consiga segurar a economia e as commodities caiam. Achamos que isso ajudaria a trazer o juro para baixo.
Quando diz que voltou a comprar um pouco de Bolsa local faz referência a quais papéis? Está interessante olhar para setores da economia doméstica, com um juro tão elevado?
Estamos de olho na parte doméstica. Os resultados do 1º trimestre vieram bons. Historicamente, quando o BC está perto do fim do ciclo, esse setor vai bem. Acredito que o fluxo para ações desse tipo vai voltar. O mercado sempre tenta antecipar tudo. É um setor que sofreu bastante.
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O que faria com que o Brasil fosse mais resiliente, mesmo em um cenário de bloqueios na China, problemas nas cadeias produtivas e um Fed mais agressivo?
Acredito que o juro alto. Os problemas da China em termos de cadeias produtivas não são novidade. A novidade é a commodity parar de subir. A China está conseguindo fazer com que ela não tenha que paralisar os portos. O cenário continua ruim, mas não piorou.
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