Investidores se assustam com perda de até 95% em antigos fundos da Infinity e nova suspensão de resgates

Vanquish, que assumiu a gestão das carteiras, alega que fundos estavam concentradas em opções IDIs flexíveis, instrumentos sem liquidez

Bruna Furlani

(Getty Images)

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A saga dos cotistas que aplicaram em fundos da Infinity Asset para reaver o dinheiro parece longe de terminar.

A falta de liquidez dos ativos das carteiras levou a Vanquish Asset Management – nova responsável pela gestão de fundos que pertenciam à Infinity Asset – fechasse mais dois fundos para resgate e aplicações nesta segunda-feira (22): o Vanquish Coral FIRF LP e o Vanquish Forte Alocação Dinâmica FIRF LP, anteriormente chamados de Infinity Lotus e Infinity Tiger.

Essa é a segunda leva de produtos originados da Infinity que são fechados em um curto período de tempo. Na semana passada, a gestora já tinha anunciado o fechamento para resgates e aplicações do Infinity Select Renda Fixa Longo Prazo, atual Vanquish Pipa FIRF LP.

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Atualmente, a casa possui sete fundos sob gestão, sendo que cinco vieram da antiga Infinity. Em dezembro do ano passado, a Vanquish possuía R$ 521,8 milhões sob gestão, enquanto no fim de abril o volume cresceu para R$ 604,0 milhões.

Ao adquirir parte das operações ligadas à gestão dos produtos da Infinity, a gestora também incorporou os principais executivos responsáveis pela gestão, como Felipe Wada de Souza, que aparece como diretor de gestão da Vanquish na proposta comercial para absorver os fundos – sendo que anteriormente ele era gestor de volatilidade e fundos de fundos na própria Infinity Asset.

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Em carta aos cotistas divulgada na segunda, a Vanquish alegou que, nas datas de transferências dos fundos da Infinity para a nova gestora, as aplicações das carteiras estavam concentradas em opções IDIs flexíveis, que foram estruturadas pelo antigo gestor e com registro na Cetip.

“Como não apresentam liquidez, isso impossibilitou a execução de zeragem desses ativos. A alternativa adotada então foi no sentido de se aguardar a liquidação de tais operações em seu vencimento, previsto para 17 de maio deste ano”, diz a carta.

De acordo com o especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, Ricardo Jorge, opções IDIs são um instrumento utilizado pelo mercado institucional em que o principal objetivo é tentar “acertar” o ritmo de altas ou quedas de juros que será adotado nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) até a data de vencimento do ativo.

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Jorge explica que há opções IDIs padrão e IDIs flexíveis – sendo que as primeiras são as mais comuns no mercado e as mais líquidas. Já as últimas se diferenciam por não ter características pré-definidas pela Bolsa. Na prática, as definições ficam a cargo das partes (comprador e vendedor) e podem envolver o tamanho do contrato, o vencimento etc.

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Problemas com a iliquidez de ativos têm feito estragos nas cotas de alguns fundos. Na semana passada, entre os dias 16 e 18, as cotas do Vanquish Forte Alocação Dinâmica tiveram queda de 94,55%, passando de R$ 2,87 para R$ 0,16. No mesmo período, o Vanquish Cora FIRF LP registrou recuo de 86,24% na cota, com o valor chegando a R$ 0,73, bem abaixo dos R$ 5,28 vistos anteriormente.

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Cotistas desesperados

A forte contração dos ativos e a incerteza se terão ou não o dinheiro de volta têm tirado o sono de alguns investidores. “Estou na base de medicação. Cerca de 80% da minha vida está ali. Estou desesperado”, disse ao InfoMoney um cotista que aplicou em mais de um fundo da casa e preferiu não se identificar.

O investidor alega que sempre aplicou em produtos conservadores e já tinha tido a experiência de aplicar em fundos de renda fixa de outras casas, mas nunca havia tido nenhum problema.

Um grupo de cotistas agora tenta negociar com a gestora, mas defende que as informações disponibilizadas são “superficiais”. Segundo um deles, a Vanquish teria informado apenas que está em conversas com a contraparte, sem ainda ter chegado a um acordo.

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Em nota, a gestora respondeu que segue em tratativas para elaborar um plano de pagamento que será apresentado ao administrador do fundo e analisado em assembleia de cotistas. “Uma vez concluída essa negociação, o administrador poderá reavaliar o assunto e reverter o PDD”, destaca a casa.

Segundo a Vanquish, será enviado ainda nesta terça-feira (23) a convocação da assembleia, data em que será apresentado todo o plano de pagamento, condições, prazos, possibilidade de pagamentos parciais, pagamentos de juros periódicos e tudo mais que for pertinente.

Entenda o caso

No começo de fevereiro, a conhecida gestora Infinity Asset, fundada em 1999, anunciou o fechamento para resgates e aplicações de três fundos de renda fixa da casa: Infinity Tiger Alocação Dinâmica, Infinity Lotus e Infinity Select.

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A medida foi tomada em razão do “aumento repentino e atípico, considerando o histórico do fundo, de pedidos de resgate por parte dos cotistas”, segundo fato relevante divulgado na época. Os saques na gestora começaram após a casa perder o selo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em dezembro de 2022.

De acordo com informações da associação, a casa foi desligada por causa do descumprimento de melhores práticas, como a realização de investimentos em violação aos limites previstos nos regulamentos; falhas no processo de acompanhamento dos riscos de crédito das operações realizadas nos fundos; falhas na administração de potenciais conflitos de interesses; falta de independência na área responsável por gestão de risco e compliance e falhas no processo de rateio de ordens.

O julgamento pelo conselho de melhores práticas da Anbima aconteceu em dezembro de 2020, mas os efeitos da decisão estavam suspensos em cumprimento de liminar, que tinha sido concedida à Infinity em ação que tramita em segredo de Justiça no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

A perda do selo da Anbima não impedia a gestora de continuar operando, já que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o órgão responsável por autorizar o funcionamento e registro da instituição.

Em fato relevante divulgado na época, a Infinity defendia que não foi assegurado o seu pleno exercício do contraditório e da ampla defesa na ação judicial. A casa disse ainda que permanecia “cumprindo em todos os seus atos as diretrizes contidas nos manuais de melhores práticas e respeitando os códigos da Anbima”.