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Contrariando a tendência natural dos preços do ouro quando as taxas de juros nos Estados Unidos sobem, as cotações da commodity têm apresentado alta neste ano — ainda que tenha recuado um pouco nos últimos dias, o que impulsionou também o aumento das alocações no metal para o maior nível desde 2012, segundo relatório divulgado em setembro pelo J.P.Morgan.
Um dos pontos que tem impulsionado as cotações é a ebulição de tensões geopolíticas com contornos imprevisíveis ao redor do mundo.
“Temos dois conflitos armados acontecendo, com Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas. Mas temos também China e Taiwan com desavenças em termos de política econômica. Quando olhamos para isso, vemos o ouro como uma parcela de proteção nos portfólios”, afirma Rodrigo Sgavioli, chefe de alocação e fundos da XP.
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Outro detalhe que tem pesado é o aumento das reservas de ouro por parte de bancos centrais desde 2022, além da subida do déficit fiscal nos Estados Unidos.
Diante do aumento da emissão de dívida pelo governo americano, investidores estão mais desconfiados com a situação das contas públicas no País, lembra Sgavioli. Com isso, títulos do Tesouro americano (Treasuries) parecem estar perdendo um pouco a fama de “porto seguro” e cedendo o lugar de “refúgio” ao ouro, pondera.
A situação mostra-se diferente do passado — quando o ouro tendia a ter um desempenho pior quando as taxas de juros nos Estados Unidos estavam em alta.
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“Quando o juro está baixo [nos EUA], eu não tenho o custo de ter ouro. Quando tem um temor de que o governo vai continuar emitindo dívida para pegar o déficit, isso muda”, afirma José Eduardo Daronco, analista da Suno Research.
Embora a cotação da commodity tenha subido nos últimos meses, especialistas consultados pelo InfoMoney divergem sobre a necessidade de estar exposto ao ouro neste momento.
Ter ou não ter?
Na ponta menos otimista com a alocação no metal, Daronco destaca que o ouro deve representar mais uma posição tática e que não vê sentido em se expor à commodity quando é possível comprar ativos locais a preços interessantes, como ações, além de títulos públicos, que estão com taxas atrativas e que geram valor ao investidor.
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“Não temos recomendação. A melhor maneira de se proteger ao aumento da base monetária de governos é comprando ativos da economia real. Tem muita empresa na mínima histórica no Brasil”, afirma o analista da Suno.
Na mesma linha, Catherine Cruz, alocadora, diz que prefere fazer uma diversificação da carteira primeiramente em dólar, o que garantiria uma renda ao investidor — ao contrário do ouro, que não oferece o rendimento de juros ou de dividendos.
Por outro lado, há quem defenda que o momento é um dos poucos em que faz sentido deter uma alocação em ouro — caso da XP.
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Sgavioli explica que a casa passou a recomendar ter uma parcela da alocação, entre 1% e 4% na commodity, dado o nível de tensão geopolítica que se espalhou pelo mundo.
“Não estamos muito grande. Não é uma core position [posição central] da carteira. É um play mais tático. Se tiver um retorno positivo, vai impactar positivamente, mas se a tese não andar, não machucamos o portfólio”, diz o profissional.
Embora o preço do metal esteja perto das suas máximas e o nível para entrar não seja tão confortável, o especialista afirma o nível de tensão geopolítico tende a favorecer a busca por ativos considerados como porto seguro.
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“Quando olhamos para o qualitativo, o caldeirão geopolítico está aquecido”, diz Sgavioli ao citar que o Indicador de Risco Geopolítico (BGRI, na sigla em inglês) da gestora BlackRock chegou agora em outubro ao nível mais alto desde o começo do ano.
Como alocar?
Entre as várias opções disponíveis no mercado hoje, as melhores para investidores pessoa física tendem a ser o investimento via fundos de ouro, ETFs (fundos de índice) ou BDR de ETFs (recibos emitido por uma instituição depositária e que possui como lastro cotas de ETFs emitidos no exterior).
Segundo Sgavioli, a preferência é por fundos e ETFs porque ambos são baratos e fáceis de entrar e de sair, além do que os ganhos não são corroídos por taxas de administração elevadas.
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No caso do ETF mais comum de ouro, o GOLD11, é cobrada uma taxa de administração de 0,30%, o que não ocorre no caso do BDR de ETF de ouro ([ativo=BIUA39]), em que não há cobrança dessa taxa. A cotação de ambos varia de acordo com câmbio.
Outra opção é investir via fundos, que podem cobrar taxas de administração mais baratas ou percentuais um pouco mais elevados de até 1,5%, em alguns casos.
Na hora de escolher, Sgavioli destaca que o ideal é optar por um fundo que tenha exposição integral ao metal. “Senão, acaba comprando uma coisa com um objetivo específico e leva junto outra tese”, observa o alocador.
A razão é que também é possível se expor ao ouro, de forma indireta, por meio de multimercados, que também poderiam investir em outras classes de ativos, como ações e câmbio.
Outro detalhe está no hedge (proteção) do câmbio. Como a casa acredita que o cenário atual pode ser de valorização do dólar frente a outras moedas, a sugestão é optar por fundos de ouro sem hedge cambial, ou seja, que também estão expostos às variações da moeda americana.