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Um tipo especial de ETFs (Exchange Traded Funds) – fundos de índices com cotas listadas na B3 – tem chamado a atenção dos investidores brasileiros. Enquanto, de maneira geral, a negociação de ETFs diminuiu na Bolsa do fim do ano para cá, os de renda fixa apresentaram o movimento oposto.
Considerando tanto os ETFs quanto os BDRs de ETFs (recibos de fundos estrangeiros negociados no pregão local), o volume total negociado pelos produtos que replicam índices de renda fixa cresceu 250% de novembro para cá.
Em fevereiro, as operações com cotas de ETFs e BDRs de ETFs de renda fixa – que totalizam 29 fundos atualmente – somaram R$ 472 milhões, contra R$ 135 milhões em novembro e R$ 265 milhões em dezembro, conforme dados coletados na plataforma Economatica.
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Dois movimentos simultâneos ajudam a entender os resultados.
De um lado, aumentou o interesse dos investidores pelo investimento em renda fixa americana, dado o nível atual de juros nos Estados Unidos. A taxa básica do país alcançou a faixa de 4,75% a 5% ao ano, após a decisão de política monetária desta semana do Fed (Federal Reserve, banco central americano).
Isso jogou luz sobre os BDRs de ETFs de renda fixa. Todos os cinco recibos do tipo mais negociados na B3 replicam índices americanos de títulos públicos e de papéis privados, emitidos por empresas, segundo dados da Bolsa.
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Por outro lado, as taxas de juros brasileiras – há mais de seis meses estacionadas em 13,75% ao ano – também não deixam por menos.
Lançado em novembro de 2022, o LFTS11 foi o primeiro ETF de títulos públicos pós-fixados da B3, replicando um índice formado por LFTs (ou Tesouro Selic). E rapidamente se tornou o mais negociado entre todos os fundos de índices de renda fixa, com um volume médio diário de quase R$ 13 milhões em fevereiro, mostram os dados da Economatica.
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Entre ETFs de renda fixa e de renda variável, a Investo – gestora do LFTS11 – tem 17 fundos listados na B3. “Em apenas quatro meses, o ETF de LFTs somou quase R$ 600 milhões em patrimônio, tornando-se o nosso maior fundo”, diz Cauê Mançanares, CEO da Investo.
Recibos de ETFs de renda fixa internacional
O volume médio diário de negociação dos BDRs de ETFs de renda fixa somou R$ 9,1 milhões em fevereiro, contra míseros R$ 164 mil em novembro, segundo a B3. “Faz um ano que trouxemos os primeirospara o Brasil e, na época, não havia uma demanda específica por renda fixa internacional”, diz Paula Salamonde, diretora da BlackRock no País.
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Trata-se da maior gestora de fundos do mundo e a responsável por oito dos 18 BDRs de ETFs de renda fixa disponíveis na B3.
“Não que tenhamos antevisto o ciclo de alta dos juros, mas trouxemos produtos que entendíamos que podiam ter um lugar no portfólio dos investidores”, explica. Mas diante de uma das elevações mais rápidas e importantes das taxas já vistas nos Estados Unidos, os BDRs de fundos acabaram apresentando retornos atrativos, mudando a história dos produtos em solo nacional.
Dos oito BDRs de ETFs de renda fixa da BlackRock, seis reproduzem índices de títulos do Tesouro americano e dois investem em papéis corporativos de empresas “grau de investimento” – ou seja, aquelas com menor risco de crédito. Ganhou a preferência dos investidores o BHYG39, recibo de um fundo que compra títulos do Tesouro com vencimento de curto prazo (até um ano).
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Outra fonte de interesse é o BSHV39, BDR de um ETF que investe em papéis de empresas com grau de investimento. O rendimento do produto é de aproximadamente 5,3% ao ano, em dólar, enquanto o do BHYG39, de títulos públicos, alcança 4,6% ao ano em dólar.
Os BDRs de ETFs não são “hedgeados”, o que significa dizer que seu desempenho no Brasil incorpora também as variações do câmbio – o que pode ser bom ou ruim para os rendimentos, a depender do momento econômico.
O investimento inicial é baixo, a partir de R$ 50, lembra Paula. E todos os BDRs de ETFs possuem formadores de mercado, instituições financeiras contratadas para assegurar que haja liquidez dos papéis para os investidores.
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ETF de títulos públicos pós-fixados
Maçanares, da Investo, lembra que a renda fixa sempre foi muito atrativa para os brasileiros. Com o LFTS11, a possibilidade de capturar um ganho até superior ao da taxa do CDI (indicador de referência para essa classe de ativos) foi um dos motores do ETF – mas não o único.
Segundo o executivo, uma das vantagens do ETF em relação a outras aplicações de renda fixa está na tributação. Sobre elas, o Imposto de Renda incidente varia de acordo com o prazo do investimento. A alíquota mais alta é de 22,5%, caso o resgate seja realizado em até seis meses. A mais baixa, de 15%, só é aplicada se o investimento durar pelo menos dois anos.
Nos ETFs de renda fixa, o que conta é o prazo médio dos títulos que compõem a carteira do fundo. No caso do LFTS11, diz Maçanares, todos os papéis têm vencimento acima de dois anos — e, por isso, a alíquota de Imposto de Renda sempre é de 15%. Mesmo que o investidor venda suas cotas no curto prazo.
A tributação é mais vantajosa inclusive do que a aplicada no investimento direto em títulos públicos, por meio do Tesouro Direto.
Fora isso, nas aplicações de renda fixa de até 30 dias, é cobrado também o IOF (Imposto sofre Operações Financeiras). Já no caso de ETFs de renda fixa, não há incidência desse imposto.
“Caímos naquilo que o brasileiro busca hoje: segurança rendimento em um investimento que ele já conhece, os títulos públicos”, diz Maçanares. “Temos tanto investidores pessoas físicas, que estão aplicando sua reserva de emergência, quanto empresas e gestores de fundo, que estão usando o ETF para alocar e manter o caixa”.