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Os índices de ações americanas tiveram fortes ganhos em 2021, liderando os melhores desempenhos entre as principais bolsas do mundo. Segundo um levantamento da Austin Rating feito para o InfoMoney, entre os principais índices de Estados Unidos, Brasil, China, Europa e Japão, o destaque foi para o S&P 500 – que no ano passado valorizou 26,9%.
Na segunda posição está o índice Nasdaq, que subiu 21,4%, e na quarta o índice Dow Jones com ganhos de 18,7%. Na contramão, o Ibovespa teve o pior desempenho em dólar, com queda de 18% em 2021.
Numa avaliação rápida, o histórico de desempenho favorável lá fora – enquanto a inflação e os riscos fiscal e político continuam assombrando o mercado local – faz parecer que investir em ações nos Estados Unidos é um jogo melhor do que apostar na Bolsa brasileira. Será realmente o caso?
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O InfoMoney consultou diversos analistas para encontrar as melhores alternativas de alocação, e suas avalições levam a crer que a resposta não é tão óbvia.
Segundo agentes de mercado, não há dúvidas que o Brasil se encontra barato, fruto da forte desvalorização no ano anterior. Ao mesmo tempo, os índices americanos devem apresentar um desempenho mais modesto em 2022, distante dos ganhos observados anteriormente.
Para Fernando Lovisotto, CIO da Vinci Partners, faz mais sentido para o investidor individual ter uma carteira com 50% de alocação no Brasil e 50% no exterior, contudo rebalanceando e aumentando a posição no Brasil. “Eu estaria rebalanceando em direção ao Brasil e não em direção ao exterior”, defende. Lovisotto também aconselha evitar movimentos abruptos, como migrar todo o patrimônio para o exterior.
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Roberto Attuch, da Ohm Research, acredita que os investidores devem fazer aportes no exterior de forma estrutural, para evitar sofrer com a variação cambial, por exemplo. “O investidor que for investir no exterior tem que ter sempre um bolso em real e outro em dólar, ou outras moedas, pensando no longo prazo”, diz. Confira como investir diante dessa perspectiva.
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Ganhos modestos previstos lá fora
César Crivelli, sócio da Nord Research, explica que em 2021, o bom desempenho das bolsas americanas foi concentrado na valorização de poucas empresas. É o caso das que compõem o índice Nasdaq, que teve um desempenho de 21,4% no ano passado graças às cinco principais companhias da carteira: Apple (AAPL34), Microsoft (MSFT34), Amazon (AMZO34), Meta (FBOK34) e Tesla (TSLA34).
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“Não fosse pelo retorno dessas cinco empresas, o índice Nasdaq teria recuado 22,6% em 2021”, defende Crivelli.
Considerando que as companhias já estão relativamente caras, ele acha difícil que os índices americanos tenham forte valorização em 2022. “Os ganhos devem ser modestos”, reforça.
Já Flávio Conde, head de renda variável da Levante Investimentos, acredita que os índices americanos devem ter comportamentos diferentes em 2022, a depender das companhias que os integram.
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Para o índice Dow Jones, por exemplo, a perspectiva é positiva, com ganhos entre 5% e 15%, de acordo com projeções da Levante. Conde explica que o motivo é que o índice tem maior presença de bancos e empresas da economia real, como as farmacêuticas. E em tempos de inflação elevada, empresas mais sólidas tendem a se beneficiar.
Já o índice Nasdaq, que concentra grandes empresas de tecnologia, deve sentir os efeitos da alta dos juros americanos, o que prejudica empresas de crescimento. Segundo Conde, o índice Nasdaq pode fechar 2022 em queda entre 5% e 10%.
O índice S&P 500, que também reúne na sua composição empresas de tecnologia, pode ter ganhos de até 5% este ano, de acordo com Conde. O banco UBS, por sua vez, projeta valorização de até 12% para o S&P 500 em 2022.
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Nos últimos cinco anos, o índice Dow Jones acumulou ganhos de 81,1%, o Nasdaq saltou 168,9% e o índice S&P 500 teve alta de 105,6%. Na contramão, o Ibovespa acumulou perdas de 3,6% em dólar.
Inflação e juros atrapalham
Somado ao fato de as bolsas americanas terem subido bastante, Crivelli destaca a inflação e os juros americanos como principal empecilho para o desempenho dos índices neste ano.
No patamar de 7%, a inflação ao consumidor americano é a maior em 40 anos, motivo que levou o Federal Reserve, banco central americano, a promover um aperto monetário nos Estados Unidos com possíveis três ou quatro ajustes nas taxas de juros do país.
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Segundo projeções da gestora Blackstone, títulos do Tesouro americano de longo prazo, com vencimentos em até 10 anos, podem chegar a 2,75% em 2022. Já o banco UBS projeta três aumentos de 25 pontos base para as taxas de juros dos EUA em 2022, com o primeiro já acontecendo em março.
Com a alta dos juros, a expectativa é que a inflação americana ceda na segunda metade do ano, puxada pelos problemas na cadeia de suprimentos resolvidos, preços de energia estáveis, além da normalização do crescimento da economia dos EUA.
Contudo, o receio dos agentes de mercado é de que nada disso tenha efeito. Crivelli aponta que em caso de a inflação americana não cair na segunda metade do ano, o Federal Reserve precisará fazer um aumento de juros rápido, que deve puxar as bolsas americanas para baixo.
A queda dos índices nesse possível cenário não estaria relacionada aos fundamentos das companhias, e, sim, ao movimento de realocação de grandes investidores, tais como fundos de pensão e hedge, segundo o sócio da Nord Research.
Brasil é uma “pechincha”?
Enquanto as bolsas americanas avançaram com força em 2021, o Ibovespa teve um dos piores desempenhos a nível global. O índice brasileiro ficou entre os piores desempenhos em um ranking de 79 índices, atrás apenas do índice IBC da Venezuela, segundo dados da Austin Rating, com variações em moedas locais.
Já considerando o acumulado de 2021, o Ibovespa fechou em queda de 11,9%. Em dólar, a variação foi negativa em 18%.
Segundo Conde, da Levante, a Bolsa brasileira está muito barata, especialmente considerando o valor em dólar – e, por isso, ele sugere que investidor continuem aplicando em ações locais, mas sem deixar de lado as oportunidades no exterior.
Olhando apenas para o Ibovespa, que fechou 2021 aos 104.822 pontos, Conde acredita em um potencial de alta entre 14% e 25% para 2022. “Acredito que o índice deve fechar o ano entre 120 mil e 130 mil pontos, considerando que um candidato da terceira via seja eleito ou caso o mercado goste da dupla Lula-Alckmin, que representa um Lula moderado, que segue a economia de mercado”, aponta.
Apesar do otimismo com a Bolsa brasileira, é importante destacar os riscos políticos para os investidores, além da possibilidade valorização do câmbio em 2022, que pode pressionar ainda mais a inflação e os juros provocando uma fuga de investidores no mercado acionário local.
Neste cenário, Crivelli destaca a importância da diversificação em vários países, evitando a exposição apenas ao risco Brasil, com pelo menos 10% do patrimônio em ativos internacionais.
Ele afirma que com exposição aos EUA, por exemplo, o investidor tem acesso a um universo maior de ativos – superior a 4 mil empresas listadas – além de investir em uma moeda forte como o dólar.
Além das ações, é possível encontrar um universo diverso de fundos de índices (ETFs), focados em segmentos que a Bolsa brasileira ainda não possui nos seus 65 ETFs listados.
Onde investir?
Considerando que é possível diversificar investindo no Brasil e nos EUA, a tarefa do investidor será garimpar as melhores oportunidades em cada mercado.
Entre as oportunidades de investimento no Brasil, Conde destaca as commodities, principalmente companhias de petróleo, minério de ferro e celulose que devem se beneficiar com a demanda da China e mercados globais, além da cotação do dólar. Os frigoríficos também podem ter um bom desempenho, segundo ele.
Com o mercado bastante descontado, Conde também aconselha ao investidor ficar de olho nas companhias com bons fundamentos, mas que sofreram desvalorização no segundo semestre de 2021. É o caso de varejistas, como Via (VIIA3), Magazine Luiza (MGLU3) e Lojas Renner (LREN3) que foram amassadas pelo mercado com quedas superiores a 50%.
Segundo Conde, estas companhias podem se recuperar na segunda metade de 2022. Ele também cita construtoras como MRV, Cyrela e Eztec que podem retomar no segundo semestre.
Já nas bolsas americanas, Crivelli cita como segmentos interessantes o de infraestrutura e 5G.
Ele explica que com o pacote de investimento em infraestrutura aprovado nos Estados Unidos no terceiro trimestre de 2021, serão destinados centenas de bilhões de dólares para companhias do setor durante a próxima década.
Empresas com expertise no segmento, tais como a Primoris (PRIM), acabam se beneficiando com um volume de obras maior e aumento dos lucros.
Crivelli cita também companhias de telecomunicações como a Verizon (VERZ34), que ganham tração com a implementação do 5G nos EUA, com novas tecnologias na indústria da realidade virtual, carros autônomos e entretenimento nos jogos esportivos.
Conde, por sua vez, enxerga boas oportunidades em bancos tradicionais e de investimentos, tais como JP Morgan (JPMC34) e Goldman Sachs (GSGI34), empresas do segmento da saúde, como a Pfizer (PFIZ34), e o setor de petróleo.
Considerando que as techs valorizaram muito em 2021, ele recomenda não investir em empresas de tecnologia em 2022, tais como Apple (AAPL34), Tesla (TSLA34), Netflix (NFLX34) e Amazon (AMZO34), que correm o risco de despencar por causa dos juros americanos.
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