Dinheiro na poupança e ‘esquecido’ na conta: quanto renderia se tivesse sido aplicado em renda fixa?

Taxas de juros elevadas favorecem outros investimentos, já que retorno da caderneta é de, no máximo, 0,50% ao mês mais TR (Taxa Referencial)

Neide Martingo

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Uma pequena fortuna de mais de R$ 930 bilhões é mantida pelos brasileiros em quase 240 milhões de contas de poupança. Se já era considerada pouco atrativa no passado, agora – com os juros estacionados no patamar de 13,75% ao ano – a caderneta é vista como um investimento ainda pior.

Afinal, enquanto as aplicações de renda fixa em geral oferecem juros maiores quando a Selic sobe, a poupança mantém sua remuneração clássica: 0,50% ao mês, mais a variação da TR (Taxa Referencial).

Nélio Costa, head de planejamento da Nord Research, afirma que as pessoas optam pela poupança porque não conhecem outras possibilidades de investimento. Faz sentido, porque a caderneta é uma aplicação de renda fixa simples e acessível para todo mundo. Até menores de idade também podem ter uma conta em seu nome, desde que sejam representados ou assistidos pelo pai, mãe ou responsável legal.

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Não significa, no entanto, que seja a melhor opção para todo mundo. Outros investimentos de risco equivalente, como um CDB (Certificado de Depósito Bancário), são uma alternativa para quem quer começar uma reserva financeira – e ganhando bem mais.

Mas quanto mais?

Simulações realizadas pela Rico Investimentos mostram que deixar o dinheiro na poupança pode ser sinônimo de desperdiçar uma boa rentabilidade. Desde que a taxa Selic começou a subir para frear a inflação, a partir de março de 2021, após ter passado seis meses em 2%, menor patamar histórico, os ganhos dos ativos de renda fixa têm atraído todos os perfis de investidores.

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Antonio Sanches, analista da Rico Investimentos, diz que o valor médio aplicado na poupança por investidor nos últimos 12 meses é de R$ 3.982,76. Se mantivesse os recursos na caderneta por mais 12 meses, o investidor teria um ganho de R$ 330, saindo com um total de R$ 4.312,76 ao fim do período.

Mas se o destino do dinheiro fosse um título público como o Tesouro Selic, o mesmo montante teria rendimento de R$ 455,93 – e o investidor receberia na conta R$ 4.438,69 depois de 12 meses, já descontando os impostos.

Se a escolha fosse por um CDB (com rendimento de 100% do CDI), o ganho seria de R$ 435,54, e o valor total acumulado, de R$ 4.418,30, também após impostos.

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Numa LCI (Letra de Câmbio Imobiliário), isenta de tributos, o retorno chegaria a R$ 475,13 (com valor final a resgatar de R$ 4.457,89), considerando uma rentabilidade de 90% do CDI. Já uma LCI com 100% de CDI renderia R$ 527,92 em um ano (com valor final de R$ 4.510,68).

Confira quanto renderiam R$ 3.982,76 em 12 meses na poupança e em outras quatro aplicações de renda fixa:

Investimento Valor a resgatar após 12 meses Rendimento obtido em 12 meses
Poupança R$ 4.312,76 R$ 330,00
Tesouro Selic após imposto R$ 4.438,69 R$ 455,93
CDB 100% CDI após imposto R$ 4.418,30 R$ 435,54
LCI 90% CDI isento R$ 4.457,89 R$ 475,13
LCI 100% CDI isento R$ 4.510,68 R$ 527,92

Fonte: Rico Investimentos

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Dinheiro “esquecido”

Pior do que manter o dinheiro na poupança é deixar o dinheiro “esquecido” nos bancos. De acordo com o Banco Central, que no ano passado criou o Sistema de Valores a Receber (SVR) para facilitar o resgate de recursos mantidos em contas correntes, cadernetas e consórcios encerrados, entre outros, 40 milhões de pessoas físicas e jurídicas têm até R$ 6 bilhões para receber.

Tanto dinheiro poderia estar rendendo, se tivesse sido “lembrado”. Para se ter uma ideia do que foi jogado fora, em dez anos, R$ 500 aplicados em um título de renda fixa poderiam se transformar em mais do que o dobro, caso não fossem “esquecidos” em uma conta bancária antiga – que não rende nada.

E mais: além de não ser remunerado, o dinheiro que fica parado perde poder de compra, já que a inflação registrada ano após ano encarece os produtos e serviços. Assim, os mesmos R$ 500 “esquecidos” por aí dez anos atrás hoje equivaleriam a não mais do que R$ 280,70, considerando a inflação acumulada desde 2012. Isso representa uma “perda”, na prática, de R$ 219,30 em capacidade de compra no período.

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Se, por outro lado, os R$ 500 tivessem sido aplicados em um título público atrelado à inflação com as taxas de juros oferecidas dez anos atrás – na média, de 5,23% ao ano em março de 2012 no caso do Tesouro IPCA+ 2024 – eles hoje somariam R$ 1.297,36. Já um aporte de R$ 100 teria aumentado para R$ 259,47.

“Vale lembrar que os títulos atrelados à inflação registram o que chamamos de marcação a mercado. Títulos com essa característica, apesar de em alguns casos (como no Tesouro IPCA+) poderem ser resgatados a qualquer momento, poderão valer menos ou mais do que o valor aplicado – a depender dos movimentos de mercado no momento do resgate”, explica Sanches, da Rico.

“Em resumo, é como se fosse um valor de revenda desse título, de acordo com os preços negociados no mercado naquele dia”, complementa.

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Segundo o analista, outra opção, para quem precisa resgatar o dinheiro para alguma emergência, seria investir no Tesouro Selic ou no fundo Trend DI Simples (que oferece uma rentabilidade de aproximadamente 100% do CDI). Nesse cenário, teríamos os seguintes valores finais: os R$ 100 se transformariam em R$ R$ 204,88 em dez anos, e R$ 500, em R$ 1.024,43.

Veja os detalhes no quadro abaixo:

Valor “esquecido” há dez anos (2012) Valor atual (se investido em Tesouro IPCA+ com taxa de 5,23% ao ano) Valor atual (se investido a 100% do CDI e descontando IR) Valor atual (se aplicado na poupança)
R$ 100 R$ 259,47 R$ 204,88 R$ 175,92
R$ 500 R$ 1.297,36 R$ 1.024,43 R$ 879,61

Fonte: Rico Investimentos

Primeira opção de investimento, poupança: por quê?

Alexandre Fernandes de Barros, operador de produção, sempre quis investir. Mas antes de começar, precisava se livrar de dívidas que representavam praticamente o dobro do salário que recebia. “Foi um empréstimo atrás do outro. Recorri até a agiota”, conta. Orientado por um profissional de finanças, decidiu trocar os vários débitos por um crédito só de R$ 68 mil, num programa para funcionários da empresa em que trabalha, de saúde financeira, que os ajuda a encontrar melhores estratégias.

Resolvida a vida financeira, era hora de cumprir sua meta e começar finalmente a investir. Sua primeira opção era a poupança, mas a sugestão do consultor financeiro que o acompanhava foi outra: um CDB, em que poderia obter ganhos maiores e que seria uma boa opção para começar uma reserva financeira. E foi isso que aconteceu.

Barros hoje investe R$ 100 mensais num CDB e pretende aumentar o valor ao longo dos meses. “Nunca havia investido. O importante é começar”, conta.

Entre os investimentos de renda fixa, os CDBs são os mais conhecidos. Eles estão disponíveis na maioria dos bancos – e, por essa comodidade, acabam sendo uma das primeiras opções para quem quer migrar o dinheiro da poupança para algo mais rentável.

Nélio Costa, da Nord, costuma dizer às pessoas que orienta que o CDB é quase uma “poupança 2.0”: alguns deles permitem o resgate com liquidez diária, com retornos melhores que os da caderneta.

“O investidor começa a se sentir à vontade. Ele teme que o dinheiro suma ou tem medo de tomar uma atitude sem conhecer exatamente as consequências, achando que vai enfrentar problemas. Sentindo confiança, a tendência é de que voos mais altos aconteçam depois”.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney