Crédito privado aquecido vira opção nos “últimos suspiros” da renda fixa; veja ativos recomendados

Especialistas avaliam que há oportunidades em crédito privado, mas ampla oferta demanda ser mais seletivo; veja os emissores que se destacam

Bruna Furlani

(iStock / Getty Images Plus)

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Com a Selic se aproximando de fechar 2023 abaixo do patamar de 12% ao ano, investidores peneiram o mercado em busca das melhores oportunidades para aproveitar os últimos momentos de renda fixa com retorno nas alturas. Nesse cenário, o crédito privado é opção.

Após um começo de ano atípico marcado pela suspensão da janela de emissões primárias de títulos de crédito privado, impulsionada por eventos como Lojas Americanas e Light, o volume de ofertas voltou a crescer e o quarto trimestre caminha para ser o mais aquecido de 2023.

Nos cálculos do Bradesco BBI, as emissões de debêntures no mercado primário, por exemplo, podem chegar a R$ 230 bilhões, caso seja mantido o volume visto nos últimos meses.

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Outros títulos, com destaque para papéis com isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas, também trilham o mesmo caminho de recuperação. As explicações para a retomada passam pelas taxas elevadas e influências do exterior.

A disparada dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) neste ano afastou do exterior empresas que tradicionalmente emitem bonds (títulos de dívida privada negociados no exterior). Em vez disso, passaram a emitir Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Imobiliário (CRIs) e debêntures incentivadas no Brasil, segundo analistas do Bradesco BBI.

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Embora o aumento das ofertas primárias de crédito privado traga novas oportunidades para investidores, é preciso ser seletivo na hora de escolher, segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney. A razão é que, em alguns casos, há prêmios melhores no secundário.

“Veio uma leva de nomes de empresas muito óbvias e agora está vindo uma menos óbvia, o que torna a conversa mais difícil com o investidor”, observa Walter Fogolin, head de produtos da InvestSmart.

Taxas

O movimento provocou alterações no mercado. O especialista pondera que hoje é possível encontrar diferenças um pouco mais significativas entre os retornos oferecidos no mercado primário e no secundário.

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As casas costumam verificar como estão as taxas do papel no secundário para basear o ponto de entrada no primário, quando a empresa não é novata. “Só vamos para o secundário, quando a taxa teto da oferta primária fica inferior ao secundário”, diz Fogolin.

Emissores preferidos

Recentemente, ele conta que a casa sugeriu a entrada em emissões de nomes mais óbvios como Eletrobras (ELET3), (ELET6), Energisa (ENGI11) e Aegea, que costumam responder pelas maiores posições em crédito privado, como algo entre 3 e 4% do portfólio do cliente, enquanto as demais devem representar até 1,5% da carteira.

Apesar disso, vê oportunidades em companhias que tendem a ser menos conhecidas do setor de açúcar e etanol, que estão pouco endividadas e com índices de liquidez compatíveis com a dívida, caso da Jalles Machado.

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Odilon Costa, head de renda fixa da SWM, também diz que tem adotado uma postura mais cautelosa no mercado primário e que tem encontrado uma melhor relação risco e retorno em nomes com classificação de risco de crédito AA, ou de papéis que tratam sobre projetos de empresas com risco “triple A” (melhor classificação de risco de crédito).

“Para o investidor pessoa física que vai buscar empresa mesmo do tipo ‘triple A’, melhor ir para o secundário”, avalia o profissional da SWM sobre nomes como Taesa, Eletrobras, excluindo projetos de grandes companhias, como o da Hélio Valgas Solar Participações S.A., que envolve a quinta maior usina solar do Brasil.

Alguns gestores também tem aproveitado o momento para entrar em algumas ofertas primárias, com caráter mais defensivo.

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“O mercado primário reabriu com certo viés de ser mais defensivo, tanto para bolso PF quanto para institucional. O mercado ainda não rompeu a barreira qualitativa. Emissores menos óbvios estão com dificuldade de captar, pondera Fernando Marinho, gerente de gestão da Valora Investimentos.

Entre as últimas ofertas relevantes que a casa participou, Marinho cita as emissões da empresa de gás e energia Compass, além da SmartFit (SMFT3) e da Ecorodovias (ECOR3).

A preferência tem sido por companhias mais ligadas a saneamento básico, além de concessão elétrica e de rodovias. Porém, a casa tem aceitado alguns nomes em setores que podem ter certo risco econômico, caso da SmartFit, se a empresa em questão obedecer alguns pré-requisitos como ser líder de fitness na América Latina, por exemplo.

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Papéis mais curtos

Verifica-se ainda uma maior cautela da Valora com relação aos prazos. Marinho destaca que as emissões primárias têm vindo um pouco mais longas do que a gestora gostaria.

No caso das debêntures da SmartFit, que vencem em 2030 e que a casa montou posição, a gestora calcula que a duration do papel estaria em torno de dois a três anos.

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A duration é um tipo de cálculo feito por especialistas para ter uma ideia da velocidade de retorno que o investidor terá com o capital que foi investido. Papéis com uma duration maior também costumam ter maior sensibilidade de preços em relação às variações das taxas.

“Estamos participando das ofertas, mas com posições menores. Há um ambiente mais duro e com grandes incertezas. Não fico à vontade para ter um fundo com prazo maior, estamos mirando algo entre dois e três anos”, defende Marinho.

Pré ou pós?

Para além dos prazos, especialistas estão atentos aos indexadores. Fogolin afirma que vê oportunidades entre prefixados e chama a atenção para a quantidade de ofertas de CRIs e CRAs com retorno travado no ato da compra do título.

“Traz mais previsibilidade para o fluxo da empresa. Ela sabe quanto que vai ter que pagar por essa dívida”, acrescenta o especialista da InvestSmart.

Entre as ofertas em andamento disponíveis no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo menos quatro delas envolvem CRIs e CRAs com taxas prefixadas. É o caso das emissões de Vamos, Cogna e FS Bio.

Embora acredita que o cenário favorece a alocação em ativos isentos prefixados, Fogolin lembra que a posição não deve ser a mais relevante da carteira, como a exposição a pós-fixados.

Costa, da SWM, por outro lado, afirma que tem preferido ativos pós-fixados atrelados ao CDI depois de ver uma forte redução da “gordura” na curva futura.

“Tivemos uns ajustes com o cenário macro melhor nos Estados Unidos, com queda da inflação e desaceleração nos dados de emprego. Esse prêmio diluiu”, conclui o profissional da SWM.