CPI pede condução coercitiva de Ronaldinho Gaúcho e deputado cogita chamar Jair Renan Bolsonaro

O filho "04" do ex-presidente era embaixador e sócio do Myla, metaverso que não vingou e cujo token nativo despencou 74% após o lançamento

Lucas Gabriel Marins

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O ex-jogador Ronaldinho Gaúcho não compareceu pela segunda vez à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga pirâmides financeiras. A tomada do depoimento do ex-atleta, convocado como testemunha, estava agendada para a manhã desta quinta-feira (24). Ele é acusado de participar de um golpe com criptomoedas, chamado 18k Ronaldinho, que lesou milhares de brasileiras.

Segundo o deputado federal Ricardo Silva (PSD-SP), relator da CPI, a defesa do jogador afirmou que ele não foi porque não teria conseguido pegar um voo de Porto Alegre, onde está, para Brasília, por causa do mau tempo. “Essa justificativa não encontra amparo legal, então compete a essa CPI buscar os meios jurídicos de condução coercitiva. Infelizmente, neste caso, é a medida que se impõe”.

Na sessão de terça-feira (22), quando o ex-jogador faltou pela primeira à sessão, o presidente da CPI, deputado federal Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), disse que, caso ele não comparecesse hoje, agiria “nos termos do artigo 3º, da Lei 1.579, no sentido de viabilizar a condução coercitiva”.

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“A CPI é de grande importância para a recuperação de valores para ressarcimento dos lesados. É importante que todos os convocados compareçam, dentro dos ditamos legais, para prestar os esclarecimentos necessários. O não comparecimento do Ronaldinho Gaúcho é um grande desrespeito ao Legislativo”, disse para a reportagem o advogado Jeferson Brandão, especialista em criptomoedas.

Irmão presta depoimento

Apesar da ausência de Ronaldinho Gaúcho, o irmão do ex-jogador, Roberto de Assis Moreira – também suspeito de participar da 18k Ronaldinho e convocado como testemunha – esteve presente. Ele afirmou que os dois não faziam parte da empresa e também teriam sido vítimas do negócio. Ele foi questionado várias vezes pelos deputados, mas só respondeu que “não responde pela 18k Ronaldinho”.

A sessão, mais uma vez, foi marcada por bate-boca, dessa vez por causa da atuação do advogado de Roberto. Os parlamentares criticaram a constante interferência dele no depoimento de seu cliente. Como justificativa, ele falou que o irmão do ex-atleta está amparado por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), que garantiu a assistência de um advogado.

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A empresa 18k Ronaldinho, fundada em 2018, prometia 400% de lucro ao ano sobre investimentos em criptomoedas, não cumpriu a promessa e deixou um rastro de prejuízo. Em uma única ação em que Ronaldinho Gaúcho é réu, as vítimas pedem ressarcimento de R$ 300 milhões.

Deputado quer Jair Renan Bolsonaro

O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que participou da CPI, disse que vai apresentar um requerimento para chamar o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Jair Renan Bolsonaro, para explicar a participação no “Myla”, um metaverso “político” lançado no ano passado que tinha o ex-mandatário como herói e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, como vilão.

“Vou garantir que ele [Renan] tenha todas as prerrogativas e seja acompanhado por seu advogado no dia em que aqui estiver presente, quando essa convocação for avaliada por essa CPI”. O presidente da comissão disse que o pedido vai ser pautado e apreciado.

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O Myla, que seria uma play-to-earn (jogue para ganhar) semelhante ao Axie Infinity (AXS), tinha uma criptomoeda nativa homônima que, logo após o lançamento do projeto, despencou de US$ 0,079 para US$ 0,02 (-74%), segundo dados da plataforma poocoin, deixando os investidores no prejuízo.

Movimentos bruscos como esse são característicos de esquemas de pump and dump (“inflar e largar”, em tradução livre), um tipo de fraude em que criminosos virtuais acumulam determinado token, inflam o valor dele de forma artificial com informações e recomendações falsas e depois fazem a venda para ficar com o lucro.

Renan Bolsonaro atuava como embaixador e também era sócio do metaverso. Conforme reportagem publicada na época pelo Portal do Bitcoin, site especializado em criptomoedas, o projeto conseguiu arrecadar R$ 250 mil em dois dias. Em dezembro daquele ano, no entanto, o filho do ex-presidente decidiu deixar o negócio por “divergências”, segundo publicou na época em seu Instagram.

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“Prezados seguidores, como é de conhecimento de todos, eu, Renan Bolsonaro, configurava como embaixador e sócio do Myla metaverso. Porém, todavia, por algumas divergências contratuais, decidi me desligar do projeto, bem como do contrato social”.

A defesa de Renan Bolsonaro não foi encontrada para comentar a possível convocação. O espaço fica aberto para o posicionamento.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney