Como investir para o futuro dos filhos; 5 gestores contam suas experiências

Fundos de ações, previdência e seguro de vida estão entre os produtos mais presentes nos portfólios; na casa dos gestores, educação financeira começa cedo

Mariana Zonta d'Ávila Beatriz Cutait

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – Previdência, ações, seguro de vida: existe um produto ideal quando o assunto é o futuro financeiro das crianças? E de que forma e em qual momento é recomendável abordar o tema da educação financeira com os filhos?

A julgar pelas respostas de alguns dos principais gestores de fundos no Brasil, não há uma única alternativa para essas questões; o importante é dar o primeiro passo e planejar investimentos que façam sentido para o longo prazo.

O InfoMoney conversou com gestores e diretores da BlackRock, Dahlia, Fama, Studio e XP Asset para conhecer como eles lidam (ou lidaram) com as finanças em casa e como pensam no patrimônio para o futuro de seus filhos, e netos, em um dos casos.

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Dentre os grandes desafios apontados está a dificuldade de ensinar o valor do dinheiro, em um período de fácil acesso das crianças ao consumo.

Há ainda preocupação com o maior imediatismo demandado pela nova geração e como tratar de um tema ainda árido de forma lúdica, de forma que seja incorporado no dia a dia dos pequenos.

Confira a seguir os principais trechos das entrevistas:

Sara Delfim, sócia-fundadora Dahlia Capital

Sara Delfim, sócia-fundadora da Dahlia Capital, tem um desafio financeiro em dose dupla: orientar um casal de filhos gêmeos de seis anos.

As conversas em casa já começaram, com objetivo de ajudar as crianças a terem noção do valor e da importância do dinheiro, compreenderem o propósito de se poupar e também receberem incentivos para economizar.

“É preciso guardar dinheiro para fazer alguma coisa, mas também é importante incentivar a poupar. E o incentivo que eu dou a eles é uma semanada em que, a cada R$ 10 reais poupados, eles ganham um juro de R$ 1”, conta Sara, ressaltando que os filhos não gastam o dinheiro diante da oferta. “O incentivo deles é ver os cofrinhos encherem.”

A gestora defende ainda a importância de não relacionar mesada com punição ou prêmio. “Mesmo que a semana tenha sido péssima, eles recebem semanada toda segunda-feira.”

A referência para a educação financeira dos filhos veio de casa, mas Sara nota grandes diferenças em relação à nova geração, em meio à maior facilidade de acesso.

“Meus pais precisavam restringir e ensinavam escolhas. Hoje, o conceito é um pouco diferente, de tentar controlar. Não é por restrição financeira, é para dar limite, mostrar que as coisas são difíceis, têm valor, e que precisamos poupar para ter no futuro”, diz.

O dinheiro dos filhos está investido em um fundo de previdência da própria Dahlia, diante da visão de longo prazo e do benefício fiscal do produto, além da rápida liberação em casa de morte, já que previdência não entra em espólio.

Mauricio Levi, fundador e gestor da Fama

Se o fruto realmente não cai longe da árvore, o futuro dos filhos de um gestor de ações não tem como se distanciar da Bolsa. Em qualquer idade.

Pelo menos é o que sugere a iniciativa de Mauricio Levi, um dos fundadores da Fama Investimentos, que já inseriu os três filhos, de três, nove e dez anos, no universo da renda variável.

“Sempre tive seguro de vida e invisto em ações para o longo prazo. Dada as idades, eles não precisam mexer nesse dinheiro por um longo período de tempo, então não penso em um investimento tão balanceado. Não faz sentido ter aplicação de renda fixa hoje”, aponta Levi, que destina esse patrimônio dos filhos ao próprio fundo da Fama. “Não vejo nenhuma alternativa melhor do que colocar em ações.”

E qual o entendimento das crianças em relação a essa poupança? Levi conta que costuma mostrar no dia a dia quais empresas fazem parte do fundo e como atuam, caso da Localiza (RENT3).

“Se estamos no aeroporto, mostro para eles o que é a empresa, conto que eles investem nela para saberem que ela está lá, o que representa. Ter dinheiro num fundo é ainda algo muito teórico, não palpável, então vai dando uma conotação de que um investimento em ação não é só um número, mas uma empresa que existe, que está ali.”

O maior desafio, diz Levi, é passar o valor do dinheiro, respeitando a idade de cada um. Desde cedo, as crianças recebem uma pequena semanada para terem noção do que é caro ou barato, e os valores são ajustados conforme eles crescem, mas com foco em mostrar que, para adquirir algo de maior valor, é necessário economizar por mais tempo. “O mais importante não é o valor em si, mas que a criança entenda o quanto vale o dinheiro.”

O maior acesso das crianças aos sonhados presentes dificulta o trabalho dos pais, e Levi chama atenção para o que considera uma “deseducação financeira”, que não vem de hoje.

“Percebo isso não só em crianças, mas também em adultos. Essa deseducação leva as pessoas a não terem o hábito de poupar, a fazerem uso desmensurado de crédito com um endividamento excessivo, e as escolas não têm nenhuma disciplina voltada a ajudar as crianças a entenderem a vida na realidade, a verem como funciona a organização do dinheiro”, critica.

João Braga, gestor da XP Asset

Pai de um menino de dois anos e meio e de uma menina de sete meses, João Braga, gestor da XP Asset, conta que ainda não possui aplicações financeiras em nome dos filhos, por serem muito novos e por estar estudando como viabilizar os investimentos.

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Gestor de ações, Braga afirma que gostaria de uma seleção de ativos mais arrojados para as crianças, como uma carteira de renda variável. “A ideia é comprar ações diretamente para que eles se sintam donos de um pedacinho da empresa, vejam os dividendos pingando”, diz.

Com a estratégia, Braga quer passar para os filhos a importância de que investir um pouco de cada vez é sempre melhor do que tentar acertar o timing e aplicar uma grande quantia.

“Vou investir assim até o momento que eles tiverem mais base. A partir de então, penso em começar a ensiná-los a caminhar sozinhos, ensinar os múltiplos e os conceitos de análise fundamentalista”, afirma. “Nunca vi ninguém se arrepender por começar cedo.”

O gestor da XP conta que seu pai teve papel fundamental em sua educação financeira, fornecendo recursos para sua primeira aplicação. “Quando eu tinha 18 anos, meu pai, que não tinha muito dinheiro, conseguiu juntar R$ 5 mil e me deu para investir”, lembra.

Com o montante, Braga começou a operar na Bolsa por meio de opções, e se surpreendeu positivamente ao conseguir quadruplicar o montante inicial. Logo na sequência, porém, perdeu tudo ao operar “vendido” (com aposta na queda) na antiga concessionária de telefonia carioca Telemar. “Foi um grande aprendizado em termos de risco.”

Beatriz Fortunato, gestora e sócia da Studio Investimentos

Mãe de uma menina de nove anos e de um menino de sete, Beatriz Fortunato, gestora e sócia da Studio Investimentos, conta que possui um patrimônio financeiro já “razoável” para as duas crianças, mas que não tem aplicações específicas em nome deles.

“Não gostaria de deixar nenhum tipo de garantia que não seja a de criá-los para serem independentes”, diz. Não descarta, contudo, que possa vir a investir no futuro.

Na infância e na adolescência, Beatriz conta que aprendeu a lidar com suas finanças de forma prática e objetiva. Funcionários públicos, seus pais eram de classe média e a gestora estudou até o ensino médio na rede pública do Rio de Janeiro. Aprendeu que não podia ter tudo, então tinha que pesar o que queria na balança.

Com uma situação financeira mais confortável atualmente, Beatriz avalia que a dificuldade está em passar os valores que aprendeu no passado para os filhos. “É um desafio, porque tenho que educá-los em um ambiente de abundância”, observa.

Em casa, a gestora da Studio busca transmitir valores que aprendeu quando mais nova às crianças, como esforço e autocontrole, e abordar, neste contexto, o assunto financeiro. Desde cedo, os dois filhos ganham uma semanada de R$ 20 para já aprenderem a se organizar.

E o planejamento parece estar surtindo efeito. “É muito comum eles juntarem o dinheiro para comprar coisas mais caras juntos”, afirma Beatriz.

Carlos Takahashi, CEO da BlackRock no Brasil

Enquanto alguns dos entrevistados estão começando a pensar em como tratar de dinheiro com seus filhos, Carlos Takahashi, CEO da gestora BlackRock no Brasil, está em outra fase: a da terceira geração.

Com três filhos de 35, 37 e 38 anos, e três netos com idades de três a dez anos, Cacá, como o executivo é conhecido, diz que investiu em planos de previdência para cada um dos filhos desde a criação do produto.

“E eles sabiam qual era a finalidade e que era um investimento de longo prazo para o futuro deles, fosse para a faculdade ou para outras necessidades”, diz. “E fizemos os mesmos para os nossos netos.”

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A diferença entre as gerações está no nível de risco assumido: enquanto a previdência dos filhos tinha foco na renda fixa, em meio a um ambiente de juros muito mais altos no Brasil, a dos netos tem o perfil “ciclo de vida”, que é iniciada com mais presença de renda variável (ações) e, conforme se aproxima da data de saída, a composição dos fundos se concentra em renda fixa.

E qual foi o efeito da decisão sobre a vida dos filhos? Segundo Takahashi, nenhum resgatou o plano de previdência quando atingiu a maioridade e os três estão inclusive adotando a mesma iniciativa para seus próprios filhos.

“Eu e minha esposa sempre tivemos uma discussão financeira muito aberta em casa, sobre as necessidades de sempre, sobre o termo poupar, que era muito mais presente que investir, e também com relação às dificuldades”, conta.

A sua própria criação, por sua vez, foi diferente, sem discussões sobre finanças com sua família, exceto pela necessidade de guardar algum dinheiro na poupança. O que mudou sua perspectiva foi começar a trabalhar cedo, aos 14 anos, no Banco do Brasil, onde ficou por mais de 30 anos e chegou ao comando da gestora BB DTVM.

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