Como investir com a Selic a 12,25% ao ano? Renda fixa segue forte, mas outros ativos já devem ficar no radar

FIIs de tijolo animam analistas, que pregam cautela no mercado acionário e indicam setores defensivos

Leonardo Guimarães

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A referência para os investimentos no Brasil mudou: o Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (1º), cortar a taxa básica de juros para 12,25%. O movimento já era esperado pelo mercado financeiro e afeta a todos, do pequeno ao grande investidor. Por isso, o InfoMoney ouviu analistas para colher recomendações na renda fixa e variável.

Em comunicado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reiterou que o ritmo de cortes de 0,5 ponto percentual é adequado para as próximas reuniões – o uso do plural é elemento importante. Para João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, o comunicado “pode ser recebido como dovish (favorável ao afrouxamento monetário), já que havia a possibilidade de sinalização da manutenção do ritmo de corte apenas na próxima reunião”.

O resumo da ópera: mesmo com o corte já aguardado, analistas ainda veem muitas incertezas no cenário doméstico e optam pela cautela no mercado acionário. Na renda fixa, especialistas voltam a enxergar prêmio nos prefixados. Já o mercado de fundos imobiliários deve ter um movimento de melhora gradual, puxado por FIIs de tijolo.

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Confira, a seguir, as principais recomendações dos especialistas para o investimentos com a Selic em novo patamar:

Renda fixa

Pós-fixados

Na segurança da renda fixa, os ativos ligados à taxa Selic – como o Tesouro Selic – e ao CDI – como CDBs –, que acompanham a taxa básica de juros, têm cadeira cativa nas recomendações. “Como não esperamos que a Selic caia abaixo de 8% (ao ano) pelos próximos dois anos, continuamos tendo o CDI como principal indexador em nossa carteira de renda fixa”, diz Ângelo Belitardo, gestor de investimentos da Hike Capital.

Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, diz que para aplicações de curto prazo, ficar atrelado à Selic ou ao CDI é a melhor opção “por causa da previsibilidade e do alto rendimento”.

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Prefixados

Os títulos com retorno acordado no ato da compra voltaram às recomendações após juros futuros subirem entre setembro e outubro, trazendo novamente prêmio para esses ativos em relação à curva de juros precificada pelos contratos futuros de DI. “Não via muito ganho (nos prefixados), mas as taxas abriram muito, agora vejo atratividade no indexador”, afirma Clayton Calixto, especialista de portfólio da Santander Asset.

Em relatório, o Itaú voltou a recomendar prefixados. O documento diz que “os mercados voltaram a embutir nos preços (dos prefixados) a perspectiva de que o ciclo atual de redução dos juros será interrompido em 2024, com a taxa Selic ainda em dois dígitos, o que aumenta o prêmio frente ao nosso cenário de Selic nos próximos meses”.

Os títulos de prazos intermediários ou curtos são os preferidos de Victor Luque, assessor de investimentos da RJ+ Investimentos, entre os prefixados. “Papéis de longo prazo podem trazer risco desnecessário ao investidor”. Isso porque, quanto maior o prazo, mais volátil é o papel.

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Títulos atrelados à inflação

Para o longo prazo, ativos ligados à inflação “protegem mais o investidor em um cenário conturbado”, segundo Fonseca. Ele ainda acrescenta que as taxas estão “interessantes devido à piora no cenário internacional e o risco fiscal mais latente no Brasil”.

Calixto destaca o retorno real (além da inflação) próximo a 6% oferecido pelos títulos do Tesouro IPCA+: “é uma proteção ótima para o cenário atual, que é desafiador”.

Ações

Na Bolsa, ações de setores com demanda cíclica – sensíveis aos movimento dos juros – ainda são vistos com desconfiança pelo mercado financeiro, caso do varejo, educação, companhias aéreas e construção civil.

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“O modelo de negócio dessas empresas perdeu rentabilidade com a inflação e elas possuem uma elevada dependência de dívidas para manter a atividade operacional”, analisa Belitardo, da Hike Capital.

Setores defensivos

Por ora, segmentos considerados defensivos são a escolha de especialistas em um momento turbulento como o atual.

Bancos, exportadoras – com receita em dólar – e produtores de commodities são os grupos mais citados por analistas. “Acho que China pode surpreender. Com isto, Vale e empresas do setor podem se beneficiar”, diz Rodrigo Cohen, analista CNPI e cofundador da Escola de Investimentos.

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Nos bancos, “a discussão que trata do fim dos JCP (juros sobre capital próprio) esfriou, o que contribuiu para a melhora do Ibovespa”, analisa Calixto.

Locação de veículos e transporte

Fugindo do tradicional, Belitardo destaca quatro empresas de locação de veículos e transportes: Simpar, Vamos, Movida e Armac.

“São companhias com consistência na geração de receitas, uma elevada margem de lucro operacional e uma avenida enorme de crescimento no curto e médio prazo”, diz o especialista. Essas ações, porém, são penalizadas pelo alto índice de endividamento para financiar o crescimento.

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No geral, o sentimento dos analistas com a Bolsa é de otimismo cauteloso. “O cenário macroeconômico está sobrepondo o que acontece dentro das empresas”, segundo Clayton Calixto.

A fraqueza do fluxo estrangeiro na B3 é um fator adicional que inspira cuidado. Em agosto, o saldo de investimento estrangeiro na Bolsa ficou negativo em R$ 10,4 bilhões, ante R$ 1,5 bilhão em setembro. O resultado foi 77% pior do que o registrado no mesmo período do ano passado.

FIIs

A avaliação de analistas é de que o mercado de fundos imobiliários responderá de maneira gradual ao corte de juros, que deve beneficiar os fundos de tijolo, que investem diretamente em imóveis.

Carolina Borges, analista de fundos imobiliários da EQI Research, explica que o mercado já precifica a Selic em 11,75% ainda em 2023 e que “uma alteração neste cenário é que poderia trazer maior volatilidade” para os FIIs.

Com os juros caindo, a melhora gradual deve ser sentida nos FIIs de tijolo. Marcos Baroni, head de pesquisas sobre FIIs da Suno Research, diz que o segmento é sensível às mudanças nos juros, “especialmente os que possuem contratos mais seguros, de longo prazo”.

Borges destaca os shoppings e galpões logísticos como segmentos que devem ser mais beneficiados nos próximos meses.

Nos FIIs de shoppings, a especialista enxerga “um bom potencial de expansão de operações já consolidadas, com acesso mais barato a linhas de financiamento para obras e consumo aquecido”. Nos galpões logísticos, a vacância baixa pode impulsionar os aluguéis vigentes, o que engordaria os dividendos e causaria valorização das cotas.

Contudo, o investidor precisa ficar atento aos cenários macroeconômicos local e externo, que ainda carregam muitas incertezas. “As empresas tendem a adiar suas decisões de investimento, como ampliação de área e novas locações, quando não há previsibilidade; logo, o mercado de FIIs também está exposto aos riscos macro”, analisa Baroni.

Fundos de investimento

Os fundos de infraestrutura, que investem em dívida de empresas do setor, seguem como boas opções para o investidor que quer diversificação, segundo Calixto. Fundos de crédito privado, que investem em títulos de dívida de empresas não financeiras, também estão na lista de recomendações do especialista.

Os multimercados, que aplicam em instrumentos de renda fixa e variável, no Brasil e no exterior, também são indicados pelo especialista da Santander Asset – apesar do desempenho ruim em 2023, abaixo do CDI. “É uma classe que tem opção de operar em vários mercados, inclusive no exterior, e tem uma perspectiva muito boa”.