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Quem investe em renda fixa está sorrindo à toa. Dois movimentos que acontecem simultaneamente neste momento estão beneficiando essa classe de ativos.
De um lado, a taxa Selic estacionou em 13,75% ao ano na reunião desta quarta-feira (21) do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central – e o comunicado emitido junto com o anúncio da decisão reforçou a ideia de que o Brasil terá juros altos por mais tempo.
Do outro, as perspectivas para a inflação nos próximos 12 meses estão em queda, segundo projeções de economistas, e abaixo do patamar acumulado acima de dois dígitos visto até poucos meses atrás.
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Somados, os dois fatores ajudam a elevar o chamado “ganho real” obtido pelos investidores, que representa a rentabilidade acima da inflação de uma aplicação financeira. A boa notícia é que as perspectivas devem seguir favoráveis para quem deseja manter um bom retorno sem arriscar muito.
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Acompanhando a Selic, a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) – indicador de referência para aplicações de renda fixa – tem registrado retornos cada vez mais altos. A consequência é que está ficando mais fácil obter bons níveis de “ganho real” mesmo quando o percentual do CDI oferecido como remuneração de um investimento for um pouco menor.
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Uma simulação realizada por Michael Viriato, estrategista da Casa do Investidor, demonstra que um Certificado de Depósito Bancário (CDB) que ofereça a partir de 79% do CDI já é capaz de entregar um retorno igual a duas vezes a inflação projetada para os próximos 12 meses. Os cálculos levam em conta uma rentabilidade bruta, ou seja, sem desconto de Imposto de Renda (IR).
Para a simulação, foi levada em consideração uma projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,30% nos próximos 12 meses. Logo, o dobro da inflação seria algo em torno de 10,60%. Em seguida, foi feito o cálculo de qual seria o percentual necessário de CDI que um investimento teria que oferecer para ganhar o dobro da inflação no período.
Se a mesma aplicação tivesse sido feita 12 meses atrás, o CDB precisaria oferecer 168,90% do CDI para entregar um retorno equivalente ao dobro da inflação (que, no período até agosto, foi de 8,73%).
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Os números indicam que se o investidor adquirir agora um CDB que entrega 100% do CDI – retorno mínimo que especialistas sugerem que os investidores procurem – ele deverá receber mais do que duas vezes o valor da inflação se mantivesse a aplicação por um ano. Se o investidor quisesse ganhar o triplo da inflação, seria preciso procurar papéis que oferecessem ao menos 118,57% do CDI.
Veja detalhes da simulação no quadro abaixo:
Qual percentual do CDI equivalerá ao dobro do IPCA? |
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Prazo | Projeção do IPCA para o período | Projeção do CDI para o período | Percentual do CDI necessário para ganhar o dobro da inflação projetada |
1 ano | 5,30% | 13,40% | 79,0% do CDI |
2 anos | 5,25% | 12,14% | 86,5% do CDI |
3 anos | 5,35% | 11,61% | 92,2% do CDI |
5 anos | 5,49% | 11,50% | 95,5% do CDI |
Fonte: Anbima e Michael Viriato. Dados do dia 21/09/22. Os retornos calculados são brutos e foram anualizados.
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A simulação de Viriato parte de algumas premissas. Foram consideradas as curvas projetadas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e para a taxa do DI calculadas pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Os dados foram coletados na quarta-feira (21).
Os cálculos são de Viriato e não descontam o Imposto de Renda (IR) que seria cobrado se o investidor carregasse o investimento por um ano.
Nesta quinta-feira (22), por exemplo, era possível encontrar CDBs com vencimento em um ano com retornos brutos de até 120,56% do CDI. Os números fazem parte de levantamento do InfoMoney com dados da plataforma Yubb (que compila informações de várias corretoras). O produto com a taxa mais alta era emitido pela BRK Financeira, que não possui classificação de risco de crédito (rating).
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Mudanças no IPCA
Os dados obtidos no levantamento são resultado de revisões mais baixas para a inflação de 2023. Segundo o último Relatório Focus, divulgado nesta semana, a estimativa dos economistas para o IPCA estava em 5,01%, valor inferior aos 5,33% registrados um mês antes.
Em relatório divulgado no começo deste mês, a equipe de macroeconomia da XP, reforçou que os ajustes para baixo nas previsões para a inflação do ano que vem são consequência da menor inércia inflacionária.
Isso porque as projeções para a inflação deste ano também estão passando por alterações, puxadas em grande parte pelas desonerações de ICMS sobre combustíveis e outros itens considerados essenciais, além da expectativa de descompressão nos preços de alimentos. As projeções do Focus para 2022, por exemplo, agora estão em 6%, contra 6,82% registrados quatro semanas atrás.
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“A inflação mais baixa de 2022 exerce menor pressão sobre reajustes de bens administrados, como plano de saúde, medicamentos, água, esgoto e energia elétrica, dependendo de cada regra setorial, assim como uma inércia menor em preços livres”, destacaram os analistas da XP em documento.
Como era no passado?
Embora a tendência agora é de que o retorno “cheio” do CDI consiga ultrapassar com maior facilidade a inflação, dadas as revisões para baixo, nem sempre foi assim.
Estudo feito por Viriato mostra que, levando em conta a inflação dos últimos 12 meses até agosto, que chegou a 8,73%, seria preciso encontrar um título que oferecesse 168,90% do CDI para obter uma rentabilidade duas vezes maior do que a inflação registrada no período.
A situação é ainda pior ao utilizar a inflação de dois anos, que chegou a 9,20%, em média. No mesmo período, o CDI avançou 6,60%, em média. Dessa forma, para conseguir o dobro da inflação, um CDB teria que oferecer pelo 287,89% do CDI. “No passado, o dobro da inflação era muito mais do que o CDI”, observa o estrategista da Casa do Investidor. Isso ocorre porque o CDI não estava muito alto e a inflação, por vezes, ficou bastante pressionada e bastante elevada.
Qual percentual do CDI foi equivalente ao dobro do IPCA nos últimos anos? |
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Anos passados | IPCA | CDI | Percentual do CDI necessário para ganhar o dobro da inflação |
1 ano | 8,73% | 10,33% | 168,90% |
2 anos | 9,20% | 6,60% | 278,89% |
3 anos | 6,90% | 5,58% | 247,50% |
5 anos | 5,65% | 5,93% | 190,61% |
Fonte: Michael Viriato. Os retornos são médios, anuais e não consideram o desconto de Imposto de Renda, ou seja, são brutos.