Com a Selic a 9,25% ao ano, perspectivas de novas altas e aproximação das eleições, quais são os melhores investimentos?

Gestores priorizam alocações em títulos públicos de curto prazo. Multimercados e Bolsa local seguem entre as opções, porém em volume menor

Bruna Furlani

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Em decisão amplamente esperada pelo mercado na noite desta quarta-feira (8), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou por manter o plano de voo contratado na última reunião do colegiado e elevar a Selic para 9,25% ao ano – em uma nova alta de 1,5 ponto percentual.

No comunicado, o comitê também informou que contratou outro ajuste de mesma magnitude, o que elevaria a taxa básica de juros para 10,75% ao ano, na reunião de fevereiro do ano que vem.

O colegiado disse ainda que a decisão tomada hoje é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023. Destacando que isso deve ocorrer “sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços”.

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Mais uma vez, o Copom reforçou que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário “avance significativamente em território contracionista”.

“O Comitê irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, reiteraram os dirigentes no comunicado de hoje.

Na avaliação do mercado, apesar de entender que as pressões inflacionárias devem persistir no ano que vem, a ideia de que uma subida mais forte dos juros poderia frear ainda mais a atividade econômica – que já se mostra bastante enfraquecida – vem tirando o ímpeto por acelerações mais agressivas da Selic em 2022 e dividindo os agentes financeiros sobre como deve ser a atuação do Banco Central no ano que vem.

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Pela terceira semana consecutiva, economistas consultados pelo Banco Central preferiram manter a projeção de alta para a taxa básica de juros em 11,25% até o fim de 2022, segundo o último Relatório Focus. Ao mesmo tempo, passaram a projetar a Selic mais alta por mais tempo, com a expectativa de que esteja em 8% ao ano em 2023, ante projeção de 7,75% no levantamento anterior.

Na esteira de mais ajustes para cima na Selic até o ano que vem, em meio a um cenário de forte volatilidade com a aproximação das eleições e identificação de novas variantes do coronavírus, especialistas ouvidos pelo InfoMoney permanecem com maior parte das apostas em renda fixa pública de curto prazo.

A preferência: títulos de vencimento até 2024, no caso de prefixados, e de vencimento até 2026, quando o foco está em títulos atrelados à inflação. Papéis pós-fixados também seguem uma boa pedida. Há oportunidades também na renda fixa privada em ativos isentos de Imposto de Renda ou em produtos bancários.

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Fundos de crédito privado seguem atrativos, mas há quem diga que a diminuição dos spreads – como são chamados os juros a mais que o investidor recebe por aplicar nos papéis (e não em opções mais conservadoras) exige atenção na hora de escolher as carteiras.

Apesar de um cenário mais adverso, fundos multimercados continuam entre as sugestões de alocadores – ainda que em posições menores, assim como posições em Bolsa local.

Renda fixa pública

Quando o assunto são os títulos públicos, a preferência dos especialistas é por papéis de prazo mais curto, recomendação que vale tanto para prefixados quanto para papéis atrelados à inflação. Vinicius Romano, especialista em renda fixa na Suno Research, diz que há muitas incertezas no radar do mercado, com a chegada da nova variante ômicron, a aproximação das eleições e a postura que o Banco Central deve adotar sobre a Selic no ano que vem.

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“Outro ponto é que os vencimentos mais longos, como o Tesouro Prefixado 2031 e o Tesouro IPCA + 2055 estão pagando taxas próximas às dos vencimentos mais curtos, como o Tesouro Prefixado 2024 e o Tesouro IPCA+ 2026”, explica Romano, embora ressalte que essa diferença já foi maior no começo de novembro. Sua recomendação é optar por papéis de até três anos de prazo.

Após alcançar uma distância de 51 pontos-base (0,51 ponto percentual) no ápice do estresse com o drible ao teto de gastos pelo governo federal, a distância entre o retorno oferecido pelo Prefixado 2024 e o 2031 recuou de forma significativa e estava em apenas 2 pontos-base (0,02 ponto percentual), na primeira atualização desta quarta-feira (8).

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A explicação, segundo Patrícia Pereira, estrategista-chefe da Mag Investimentos, é que as taxas da porção curta da curva de juros aumentaram ao longo do tempo, enquanto os juros mais longos estabilizaram. “Ela não retorna porque a visão institucional do Brasil está abalada. A curva está flat [horizontal] nos prazos mais longos porque o cenário está mais aberto. Não sabemos quem vai ser o candidato, não conseguimos aprovar reformas”, destaca.

A visão sobre os títulos prefixados é compartilhada por Betina Roxo, estrategista-chefe da Rico. Segundo ela, a casa projeta que a Selic deveria voltar para o patamar de um dígito, ou seja, abaixo de 10% ao ano, a partir de 2023. Logo, observa, a melhor forma de aproveitar esse movimento seria por meio de títulos prefixados com vencimentos entre dois e três anos.

Ao mesmo tempo, Betina destaca que a alta dos juros torna as alocações em títulos pós-fixados, como o Tesouro Selic, mais atrativas. Na Rico, a indicação é pelo Tesouro Selic 2027, especialmente para investidores de perfis considerados precavidos, cautelosos e defensivos pela casa.

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Já no caso dos títulos atrelados à inflação, Romano, da Suno Research, avalia que é possível alongar um pouco mais, com prazos de até seis anos. No entanto, hoje, o único título disponível pelo Tesouro Direto para tal horizonte é o Tesouro IPCA+ 2026.

Ele explica que a alocação em papéis mais longos exige cuidado: quanto maior o prazo, maior costuma ser a volatilidade do título por causa da marcação a mercado.

Isso ocorre porque, na prática, a taxa de juros oferecida por um título de renda fixa tem uma relação inversa com o seu valor de negociação no mercado. Quando as taxas recuam, como tem sido o caso do último mês, seu preço tende a subir. Mas o contrário também é verdadeiro. “A curva de juros inverteu e vemos que ela não está estável. Por isso, é difícil alongar o prazo para títulos públicos”, observa Romano.

Renda fixa privada

As opções, no entanto, não se restringem a títulos públicos. Na renda fixa privada, há oportunidades em produtos bancários e em ativos com isenção tributária, como debêntures incentivadas, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do Agronegócio (CRAs).

Han Kim, responsável por investimentos na Azimut Brasil, diz que entre os papéis atrelados à inflação, o olhar está focado naqueles que pagam juros reais acima de 5% ao ano. Isso porque o Tesouro IPCA+ já está oferecendo um retorno próximo desse patamar.

“Se, no mercado de crédito privado, o título pagar menos do que a NTN-B [Tesouro IPCA+], o investidor precisa se questionar se vale a pena deixar a liquidez na mesa e ter um rendimento abaixo”, pondera.

Outro ponto importante, segundo Han, é que dentro do crédito corporativo (debêntures, CRIs e CRAs) as empresas com melhor classificação de risco de crédito, como AAA e AA estão oferecendo retornos atrativos hoje. Portanto, observa, não há necessidade de correr risco em empresas com pior classificação em termos de risco.

Uma rápida busca na plataforma da XP na última segunda-feira (6), por exemplo, mostrou que havia debêntures incentivadas, como as da Concessionária Rota das Bandeiras (CBAN12), que ofereciam juros reais de 5,25% ao ano, com vencimento em 2034 e rating AAA – considerado o melhor entre as classificações de risco.

Ao mesmo tempo, era possível encontrar na plataforma uma debênture da empresa do setor sucroenergético Tereos Açúcar e Energia (TAEB15), que oferecia retorno real semelhante (5,25% ao ano), com vencimento em 2027 e rating AA-, ou seja, de maior risco do que a primeira debênture.

Em um cenário mais conturbado, a preferência dos analistas é justamente por papéis com maior previsibilidade de caixa, como é o caso de títulos emitidos por empresas de transporte, energia e saneamento.

(Karsten Würth/Unsplash)

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Um detalhe: debêntures, CRIs e CRAs não possuem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), como é o caso dos investimentos bancários.

Os CDBs e outros papéis emitidos por bancos, aliás, também podem ser uma opção. A sugestão, porém, é ter atenção ao indexador. A preferência, segundo Romano, da Suno Research, é por ativos pós-fixados, já que se os juros subirem mais e o investidor precisar vender, ele não seria tão penalizado quanto ocorreria se optasse por um papel prefixado.

Na hora de selecionar uma opção, o especialista da Suno observa que é preciso ficar atento ao spread. Logo, se o título público Tesouro IPCA+ está oferecendo juros reais a partir de 4,90% ao ano, o título privado precisa pagar retornos mais altos do que isso para valer a pena.

Com a subida dos juros, outro tipo de investimento que ganha maior tração é a aplicação em fundos de crédito. Han, da Azimut Brasil, diz que tem dado preferência para produtos com liquidez mais curta e que vê boa atratividade na categoria.

Rodrigo Eboli, gestor de portfólio da Brainvest, por sua vez, prefere ter maior cautela. Ele observa que no ano passado, os spreads estavam muito elevados. A razão, explica, é que as pessoas estavam saindo dos fundos para ir para a Bolsa e houve uma oportunidade grande de entrada.

Eboli pondera, no entanto, que agora, com o spread diminuindo porque a demanda para a renda fixa voltou a subir e o número de ofertas também cresceu, ele prefere manter apenas a pequena posição que montou na carteira dos clientes.

“Acreditamos que as empresas estão bem capitalizadas e a qualidade das carteiras é boa. Agora, pro mesmo risco, o retorno oferecido é muito magro. A relação risco-retorno está pior. Não devemos aumentar posição agora”, avalia o gestor da Brainvest.

Fundos multimercado

Embora a missão de gestores de fundos multimercados seja ainda mais difícil em um cenário de aumento da Selic, esses tipos de fundos não saíram totalmente do radar de especialistas. Após a redução de parte da posição, a carteira de multimercados na Brainvest tem priorizado a alocação em quantitativos – fundos que usam modelos matemáticos e algoritmos que já foram amplamente testados para a tomada de decisão.

A boa performance em cenários de forte volatilidade tem sido um dos pontos que chamam a atenção da casa. Eboli, gestor da Brainvest, explica que a vantagem é que os fundos quantitativos costumam capturar algumas tendências que o mercado tradicional não costuma acompanhar.

“Historicamente, os gestores de multimercados ganham quando a Selic está num ciclo de baixa [caindo]. Quando há um ciclo de alta, é mais difícil para eles capturarem essa subida e com isso, acabam perdendo dinheiro com juros”, diz o gestor que segue também com posições em estratégias macro (que aplicam em juros, moedas, ações e commodities no Brasil e fora) e long and short (estratégia com posições que apostam na alta e na queda de ativos), por exemplo.

Bolsa local

Outra classe de ativos que continua no radar dos gestores é a renda variável – especialmente, a Bolsa local. Ainda que algumas casas tenham diminuído a posição por causa do cenário mais conturbado do ponto de vista econômico e político, a avaliação é de que ainda faz sentido manter uma alocação, especialmente em ativos com potencial de crescimento que pareçam descontados, com foco no longo prazo.

Betina, da Rico, afirma que o Ibovespa segue barato quando observada a relação preço/lucro (P/L) – indicador que sinaliza quantos anos seriam necessários para que o investidor conseguisse o retorno das ações que possui ou que planeja adquirir.

Isso porque, segundo ela, em 12 meses, esse múltiplo é de 7,6 vezes, o que representaria um desconto de quase 30% em relação à média dos últimos 15 anos. No entanto, ela pondera que nem todos os setores apresentam preços atrativos.

“O Ibovespa como um todo é barato, mas quando tiramos commodities não parece tanto”, observa a especialista dizendo que a relação muda com a presença das ações da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR3;PETR4).

Na avaliação de Betina, os setores que negociam abaixo da sua média histórica com base na relação preço/lucro são telecomunicações, elétricas, materiais e energia. Entre os papéis, relatório da Rico de novembro aponta que as ações da Equatorial (EQTL3), CPFL Energia (CPFE3) e TIM (TIMS3) estão descontadas.

Já saúde e tecnologia, segundo a especialista, estão em linha ou até com certo prêmio em relação ao histórico. Em outras palavras, seus preços não parecem tão atrativos.

Para a executiva da Rico, a alta dos juros não retira oportunidades, apenas faz com que seja preciso escolher as ações com mais sabedoria. Entre as preferências estão papéis de empresas ligadas a commodities, por representarem uma boa proteção em relação à inflação e ao dólar alto na comparação com o real, além de empresas com crescimento secular, que dependem menos do ambiente macroeconômico mais desafiador.

Uma opção é o investimento em ações via fundos. Na Brainvest, a escolha é dividida entre fundos long biased (que atuam com o viés de compra de ativos, mas também realizam operações na ponta vendedora, em determinados cenários) e long only (que apostam unicamente na valorização das ações) tradicionais.

Poupança

A rápida subida da taxa básica de juros ao longo deste ano promete trazer um certo respiro para a velha caderneta, a poupança. Isso porque, após cerca de quatro anos, a Selic voltou a superar o patamar de 8,5% ao ano, o que muda tudo no retorno da aplicação financeira mais tradicional entre os brasileiros.

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A razão é simples: desde 2012 a poupança tem duas formas de remuneração. A vigência de uma ou de outra está diretamente ligadas à taxa básica de juros. Quando a Selic está abaixo de 8,5% ao ano, como foi o caso desde 2017 até agora, o rendimento da caderneta equivale a 70% da taxa acrescido da variação da taxa referencial (TR).

Já quando a Selic supera o patamar de 8,5%, o retorno passa a ser de 0,5% ao mês mais a TR – ou 6,17% ao ano – mais a TR.

Embora os rendimentos de fato aumentem, eles seguem moderados e abaixo da inflação corrente. Na prática, o investidor continua a perder dinheiro ao deixar seus recursos aplicados na caderneta.

No melhor dos cenários, com a Selic a 9,25% ao ano, um investimento de R$ 10 mil na poupança renderia 6,96% – ou R$ 696 – em um ano. Se o investidor destinasse o mesmo valor a um produto de renda fixa com retorno de 100% do CDI, como um CDB, teria um retorno de 7,63% no mesmo período, já considerando o desconto do Imposto de Renda. Se a rentabilidade prometida fosse maior, como 120% do CDI, o rendimento chegaria a 9,16% ao ano.

Confira simulações de retorno considerando três diferentes níveis da taxa Selic na tabela a seguir:

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