CDBs de inflação reaparecem nas prateleiras, mas com juros menores; prefixados pagam até 15,50%

Levantamento da Quantum Finance aponta que última quinzena também foi marcada pela subida dos retornos máximos de CDBs atrelados ao CDI

Bruna Furlani

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A volta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o campo positivo em outubro trouxe também a retomada das ofertas de papéis de renda fixa atreladas ao indicador, que desapareceram das prateleiras nas últimas semanas devido à diminuição da demanda de investidores por títulos atrelados ao índice.

É isso o que mostra levantamento feito a pedido do InfoMoney pela Quantum Finance, empresa de soluções para o mercado financeiro. Entre os dias 8 e 21 de novembro, foram identificadas oito ofertas de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) atrelados à inflação.

A título de comparação, na quinzena anterior (entre 25 de outubro e 7 de novembro), não foram encontradas ofertas de produtos do tipo. Foi a primeira vez desde o começo da pesquisa, em abril deste ano, em que não houve novas ofertas durante o período de análise. Na quinzena anterior, a pesquisa também trouxe apenas a emissão de um CDB atrelado à inflação, o que enfatiza o baixo ritmo de ofertas de papéis do tipo nas últimas semanas.

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Segundo Ronaldo Silvestre, superintendente de Tesouraria e Captação do Banco Pine, as emissões de títulos atrelados à inflação foram disponibilizadas aos investidores na plataforma da instituição, de acordo com a demanda vista nos últimos meses. O que ocorreu, diz Silvestre, é que durante os três meses de deflação os investidores naturalmente evitaram comprar emissões indexadas ao IPCA, sob o risco de que o rendimento oferecido pelo título ficasse no negativo.

“Com o retorno da inflação em outubro, os papéis voltaram a ficar atrativos, dado que o juro real acima de 6% ao ano garante um bom retorno aos investimentos. Assim, esperamos um crescimento dos papéis atrelados ao IPCA nos próximos meses”, comenta Silvestre.

Na volta das emissões de CDBs de inflação, a maior taxa encontrada para produtos com vencimento em 24 meses era equivalente ao IPCA mais uma taxa de 5,95% ao ano. Lembrando que os retornos são brutos, ou seja, não possuem o desconto do Imposto de Renda.

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O papel era emitido pelo Banco ABC Brasil, que possui classificação de risco de crédito (rating) nacional de longo prazo AAA, o mais alto em termos de qualidade, segundo a Fitch Ratings.

Já para prazos um pouco maiores, como a partir de 36 meses, o juro máximo oferecido por CDBs atrelados à inflação era menor, chegando até IPCA mais 5,30%.

Chama atenção que os retornos máximos oferecidos por CDBs atrelados à inflação estão em queda nos últimos meses. Entre o fim de setembro e início de outubro, por exemplo, a rentabilidade máxima oferecida por papéis indexados ao índice era equivalente ao IPCA acrescida de uma taxa de 9,04%, para títulos com vencimento em 12 meses, e de 6,99% mais IPCA, no caso de papéis com vencimento em 24 meses.

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O retorno oferecido por CDBs atrelados ao IPCA também está com um spread (juros a mais oferecidos por investimentos menos conservadores do que um título público), que não é tão elevado na comparação com NTN-Bs, como são chamados os títulos públicos atrelados à inflação, de prazo próximo.

Hoje, por volta das 10h25, uma NTN-B com vencimento em 2026, por exemplo, oferecia uma remuneração real de 6,34% acrescida de IPCA.

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Retornos de CDBs indexados à inflação (de 08/11 a 21/11)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
24 IPCA  IPCA + 5,10%  IPCA + 5,56%  IPCA + 5,95%                                 6 BANCO ABC BRASIL
36+ IPCA  IPCA + 5,00%  IPCA + 5,15%  IPCA + 5,30%                                 2 BANCO ABC BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

CDBs atrelados ao CDI

Além da retomada de ofertas de CDBs atrelados à inflação, a última quinzena foi marcada pelo aumento da maior parte das rentabilidades máximas oferecidas por produtos indexados ao CDI (taxa de referência da renda fixa).

Segundo o levantamento, entre os dias 8 e 21 de novembro, a maior alta ocorreu entre papéis com vencimento a partir de 36 meses, em que a taxa máxima saltou de 103% do CDI, na quinzena anterior, para 109% do CDI agora.

Também houve alta entre papéis com vencimento a partir de 24 meses, em que o retorno máximo passou de 115% do CDI para 118% do CDI na última quinzena.

Avanço também nas taxas médias oferecidas pela maior parte dos títulos atrelados ao CDI. Destaque para a subida nos retornos médios entregues por CDBs com vencimento a partir de três meses, em que a rentabilidade saltou de 101,18% do CDI para 101,88% do CDI.

Retornos de CDBs indexados ao CDI (de 08/11 a 21/11)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 DI 98,00% 101,88% 106,00%                               12 CCB BRASIL BANCO MÚLTIPLO
6 DI 97,50% 99,88% 106,00%                               33 BANCO BTG PACTUAL, BANCO BMG
12 DI 90,00% 99,84% 111,00%                               43 BANCO MERCANTIL BRASIL
24 DI 98,00% 101,07% 118,00%                               55 BANCO PINE
36+ DI 100,00% 102,91% 109,00%                               41 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

CDBs prefixados

A última quinzena também foi marcada pela subida dos retornos máximos de CDBs prefixados, ao contrário do registrado nas semanas anteriores. O movimento pode ter sido impulsionado pela precificação da curva de juros.

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Diante do aumento do risco fiscal e das preocupações em torno da sustentabilidade da dívida pública no longo prazo, agentes financeiros praticamente retiraram da curva de juros a chance de cortes da Selic no ano que vem. Não só isso: investidores passaram a acreditar que a taxa básica de juros poderia subir até 14,50% em 2023.

Em meio a perspectivas de aumento dos juros no ano que vem, os retornos oferecidos por prefixados também sofreram um ajuste para cima. O maior salto foi registrado por CDBs com vencimento em 12 meses que viram a rentabilidade máxima chegar a 15,50%, contra 13,47% na quinzena anterior. O produto em questão era oferecido pelo Banco Master.

Já no quesito taxa média, o movimento foi misto: CDBs com vencimento entre três meses e a partir de 36 meses registraram recuo nos juros, enquanto títulos com prazo de seis e 12 meses apresentaram alta nas remunerações durante o período de análise.

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Retornos de CDBs prefixados (de 08/11 a 21/11)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 PREFIXADO 12,68% 13,60% 13,97%                               21 BANCO DAYCOVAL
6 PREFIXADO 13,45% 13,94% 14,49%                               16 BANCO DAYCOVAL
12 PREFIXADO 13,35% 14,38% 15,50%                               18 BANCO MASTER
36+ PREFIXADO 13,65% 14,30% 14,94%                                 2 BANCO DAYCOVAL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

Olhos “vidrados” na PEC da Transição

Depois de registrar certo alívio na sessão de segunda-feira (21), o mercado de juros futuros voltou a apresentar alta nas taxas no pregão desta terça (22) e quarta-feira (23). Na avaliação de Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, os agentes financeiros estão “sem força” para fazer um movimento mais forte de ajuste para baixo nos juros, diante das incertezas em torno da PEC da Transição.

A razão, segundo ele, é que o noticiário aponta que o governo eleito está disposto a negociar e aceitou manter o Bolsa Família fora do teto de gastos por quatro anos e não mais de forma permanente, segundo informações do jornal O Estado de S.Paulo.

Mesmo assim, o prazo é considerado elevado pelo mercado, que prevê dificuldades na sustentabilidade da dívida pública de longo prazo, se o período desejado pela equipe de Lula for mantido.

Em paralelo, surgem PECs alternativas que apontam gastos fora do teto menores, entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões. Nesse sentido, ele diz que a grande atenção dos agentes financeiros estará no texto definitivo da PEC, que deve ser apresentado nesta quarta-feira (23). Ainda há pontos a serem finalizados, mas a espinha dorsal do texto já estaria pronta, segundo informações da equipe de transição. 

Saindo a minuta, Costa acredita que isso pode ajudar a trazer maior definição para o cenário de juros no Brasil. “Se tivermos uma PEC nos moldes do que o governo está falando, que é algo de R$ 175 bilhões por quatro anos, não haveria muito espaço para o mercado melhorar na margem”, diz.

Para haver algum movimento adicional dos agentes econômicos, o economista defende que deve haver uma sinalização de que o prazo será menor – um ou dois anos, no máximo – e de que o valor deve ser inferior aos R$ 175 bilhões ou R$ 198 bilhões ventilados pela equipe de Lula.

Diante de temores em torno da sustentabilidade da dívida pública nos próximos anos, o especialista da Monte Bravo afirma que os economistas consultados pelo Relatório Focus devem seguir revisando para cima as projeções para a inflação no ano que vem.

“Há muita dúvida em relação ao que vai ser o desenho fiscal e sobre a mudança de âncora do novo governo. Isso faz com que o mercado coloque um prêmio de risco maior e que ele tenha a percepção de uma inflação mais pressionada e de um dólar mais alto”, reforça.

Nesta semana, as estimativas para a inflação em 2023 subiram de 4,94% para 5,01%. Já em 2024, as projeções seguiram em 3,50%. As expectativas para o dólar, que ficaram estáveis por 17 semanas, por sua vez, subiram na semana, com cotação prevista em R$ 5,25 por US$ 1 em 2022. A de 2023 também avançou, de R$ 5,20 para R$ 5,24. Para 2024, a projeção passou de R$ 5,15 para R$ 5,20.

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As estimativas para a Selic também sofreram alteração para cima no ano que vem. Agora, o mercado espera que a taxa básica de juros encerre 2023 em 11,50%, acima dos 11,25% esperados uma semana antes.

Segundo Costa, o mercado tem colocado em dúvida a possibilidade de cortes da Selic no segundo semestre do ano que vem. O economista observa que a política monetária está intimamente ligada à política fiscal e que Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, reforçou isso durante eventos na semana passada.

Na ocasião, Campos Neto disse que “se acreditarmos que a convergência não acontecerá pelo fiscal, vamos reagir”.

Para além do olhar fiscal, a semana também será de divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de novembro, que vai ser apresentado na quinta-feira (24). Segundo Costa, a casa projeta que o indicador tenha alta de 0,57%, praticamente em linha com a mediana da Bloomberg, de 0,55%.

Segundo o especialista da Monte Bravo, o indicador deve trazer algumas pressões em itens que devem ceder até o fim do mês, como em produtos mais ligados à perfumaria e a eletrodomésticos.

“O importante do IPCA é como vão vir os núcleos. Eles têm cedido e isso deve seguir nesse IPCA-15. Também devemos ter continuidade no alívio da inflação de serviços”, avalia o economista.

Outro destaque na agenda está na ata do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) referente ao último encontro em que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) elevou o juro em 0,75 ponto percentual, para a faixa entre 3,75% e 4%. O texto será apresentado nesta quarta-feira (23).

A expectativa de Costa é que o documento reforce a postura mais hawkish (inclinada ao aperto monetário) do Fed, igual ao que ocorreu na reunião do início deste mês. O especialista também acredita que a autoridade monetária deve trazer a discussão de que a taxa terminal de juros deve terminar 2023 em um nível mais alto do que esperado anteriormente. Atualmente, o mercado projeta que a taxa dos Fed Funds encerre o ano que vem entre 5% e 5,25%.

Ainda que haja alguma surpresa no documento a ser apresentado pelo Fed, o economista afirma que isso não deve alterar muito a curva de juros brasileira, embora ela oscilar diante das altas de juros nos Estados Unidos. Isso porque, diz, o olhar do mercado estará focado no texto definitivo que será apresentado sobre a PEC da Transição.