Buffett destaca resultado recorde da Berkshire em 2022 e ‘quer’ pagar mais impostos

Bilionário não falou sobre o polêmico desinvestimento feito na TSMC e nem sobre a possibilidade de aposentadoria

Rikardy Tooge

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Warren Buffett publicou neste sábado (25) sua tradicional carta anual destinada aos acionistas da Berkshire Hathaway, grupo que investe em algumas das maiores empresas do mundo, como Coca-Cola, Apple e American Express.

Decepcionando a expectativa de alguns, o CEO da  Berkshire não falou sobre o polêmico desinvestimento feito recentemente na empresa de semicondutores TSMC e nem sobre a possibilidade de aposentadoria – Buffett está com 92 anos, prestes a completar 93 anos.

Embora o lucro líquido no quarto trimestre de 2022 tenha sido menor do que o registrado em igual período de 2021, o bilionário destacou o resultado operacional recorde de US$ 30,8 bilhões em 2022 e a resiliência de suas investidas.

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Em outro momento, o bilionário reforçou o desejo em pagar mais impostos. “Durante a década que termina em 2021, o Tesouro dos Estados Unidos recebeu cerca de US$ 32,3 trilhões em impostos, enquanto gastou US$ 43,9 trilhões”, iniciou Buffett.

Segundo cálculos do megainvestidor, a contribuição da Berkshire em impostos federais foi de R$ 32 bilhões no mesmo período, o equivalente a 0,1% de todo o dinheiro arrecadado pelo país. No entanto, destaca que se o país tivesse outros mil empresas que prosperassem iguais ou parecidos com a holding, nenhum americano mais precisaria pagar impostos.

Para Buffett, o pagamento dos tributos é um sinal de prosperidade dos negócios. “Na Berkshire, esperamos pagar muito mais impostos durante a próxima década. Não devemos menos ao país: o dinamismo da América deu uma enorme contribuição para qualquer sucesso que a Berkshire tenha alcançado”, defendeu o “Oráculo de Omaha”.

Buffett destacou ainda resiliência da economia dos Estados Unidos e afirmou ser difícil apostar contra o país. “Charlie [Munger, sócio de Buffett] e eu e acreditamos firmemente que as previsões econômicas e de mercado de curto prazo são mais do que inúteis”, disse.

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“Nosso trabalho é administrar as operações e finanças da Berkshire de uma maneira que alcance um resultado aceitável ao longo do tempo e que preserve o poder de permanência incomparável da empresa quando ocorrerem pânicos financeiros ou graves recessões mundiais”, acrescentou Warren Buffett.

Resultados em 2022

A Berkshire Hathaway registrou neste sábado que seu lucro no quarto trimestre de 2022 caiu em relação ao mesmo intervalo de 2021 por conta de ganhos menores em investimentos e perdas cambiais à medida que o dólar se desvalorizou frente a outras moedas.

Com isso, o lucro líquido trimestral caiu 54%, para US$ 18,16 bilhões, ante US$ 39,6 bilhões de um ano antes. O lucro operacional caiu 8% na mesma comparação, de US$ 7,3 bilhões para US$ 6,7 bilhões.

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Os resultados incluíram cerca de US$ 1,2 bilhão em perdas cambiais e mais perdas de subscrição na seguradora de automóveis Geico, que tem lutado mais do que alguns rivais com reivindicações de acidentes e apólices de preços adequadas para refletir o risco.

O lucro também caiu na ferrovia BNSF, enquanto a Berkshire gerou mais lucro com seus negócios de energia e mais receita com seus investimentos em seguros à medida que as taxas de juros subiam.

Na carta, Buffett defendeu os resultados da companhia e diz que a demonstração reportada dentro dos padrões contábeis aceitos (GAAP, em inglês) não traduz a realidade de uma companhia.

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No conceito de “ganhos operacionais” apontado por ele, o resultado anual da Berkshire chegou a US$ 30,8 bilhões em todo 2022, um recorde para a holding. Nesta métrica, conseguiu um ganho de 4% por ação ante uma queda de 18,1% do S&P500 com dividendos inclusos – que é o benchmark da Berkshire.

“O resultado GAAP é enganoso quando visto trimestralmente ou mesmo anualmente. Os ganhos de capital, com certeza, foram extremamente importantes para a Berkshire nas últimas décadas, e esperamos que sejam significativamente positivos nas próximas décadas”, disse o CEO.

A Berkshire também aumentou seu caixa, encerrando o ano com US$ 128,6 bilhões. O conglomerado com sede em Omaha, Nebraska, vendeu cerca de US$ 16,3 bilhões em ações no quarto trimestre e encontrou melhor valor ao recomprar suas próprias ações, recomprando US$ 2,6 bilhões no trimestre e US$ 7,9 bilhões em todo o ano de 2022.

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Durante todo o ano de 2022, a Berkshire perdeu US$ 22,82 bilhões, principalmente por causa de perdas em sua carteira de ações ordinárias de US$ 308,8 bilhões.

Críticas às fraudes corporativas

Em um trecho da carta, o bilionário criticou as fraudes corporativas e destacou que sua holding sempre buscou se associar com executivos que fossem éticos, caso contrário nem entrariam no negócio.

Buffett foi sócio do trio Jorge Paulo Lehmann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles na formação da Kraft Heinz. O trio do 3G está envolvido no escândalo contábil da Americanas (AMER3) no Brasil.

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Recentemente o sócio de Buffett, Charlie Munger, disse que a aproximação da empresa de investimentos dos bilionários brasileiros “não funcionou bem nos últimos anos como seria o ideal”.

A Kraft Heinz foi criada em 2015 a partir da união das duas empresas de alimentos. Em 2019, Warren Buffett afirmou que a companhia “pagou caro demais pela Kraft”.

Embora Buffett não tenha citado em nenhum momento o episódio da varejista brasileira, algumas críticas encontram aderência ao atual momento. O CEO da Berkshire foi vocal em suas críticas contra a manipulação de balanços.

“Por fim um alerta importante: mesmo o valor do lucro operacional que nos favorece poderia ser facilmente manipulado. Superar as “expectativas” é anunciado como um triunfo gerencial, mas é atividade é nojenta. Não requer talento para manipular números”, disse Buffett.

Futuro 

Sem tratar sobre sua retirada dos negócios, Warren Buffett traçou o horizonte que a Berkshire deverá seguir nos próximos anos.  

“Sempre [a Berkshire] terá um monte de moedas e títulos do Tesouro dos EUA, além de uma ampla gama de negócios. Também evitaremos comportamentos que possam resultar em necessidades de caixa desconfortáveis em momentos inconvenientes, incluindo pânicos financeiros e perdas de seguro sem precedentes”, disse.

Para Buffett, o CEO da holding, seja quem for, terá que ser um Chief Risk Officer (CRO), o que, segundo ele, é “uma tarefa que é irresponsável delegar”. “Nossos futuros CEOs terão parte significativa de seu patrimônio líquido em ações da Berkshire, compradas com seu próprio dinheiro”. 

Gigantes na carteira 

Embora não tenha citado o caso da TSMC, Warren Buffett lembrou os acionistas que a Berkshire encerrou o último ano com participação relevante em oito grandes empresas globais: American Express, Bank of America, Chevron, Coca-Cola, HP Inc., Moody’s, Occidental Petroleum e Paramount Global. 

Além dos investimentos nessas empresas listadas na Bolsa, Buffett destacou o controle da holding na BNSF, que atua em ferrovias dos EUA, e na BH Energy, que juntas obtiveram ganhos de US$ 10,2 bilhões no último ano. “Se essas empresas fossem abertas, elas substituiriam dois membros atuais do S&P 500”. 

“Ao todo, nossos dez gigantes controlados e não controlados deixam a Berkshire mais amplamente alinhada com o futuro econômico do país do que qualquer outra empresa dos EUA”, completou o bilionário.

(Com Reuters)

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br