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SÃO PAULO – Nos últimos anos, na onda de popularização do mercado de capitais no país em meio à redução da taxa básica de juros, a Alaska Asset Management se tornou um dos maiores símbolos do universo das gestoras. Para o bem e, mais recentemente, para o mal.
Com retornos bastante chamativos de maneira praticamente ininterrupta entre 2016 e 2019, com ganhos que oscilaram de 30% a 130% ao ano nos fundos da família Alaska Black BDR, graças a uma combinação comprada (que aposta na alta) em ações e na moeda brasileira e com uma aposta na queda dos juros, a Alaska se tornou um dos nomes mais falados entre os investidores no mercado local.
Tanto que, em dezembro de 2016, a gestora, que conta com o renomado gestor Luiz Alves Paes de Barros no quadro societário, tinha menos de mil investidores em seus fundos, segundo dados da Economatica. Um ano depois, o número já havia superado a casa dos 10 mil cotistas e, no início de 2020, chegou à marca dos 200 mil investidores.
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A evolução foi naturalmente acompanhada de um crescimento do patrimônio líquido sob gestão, que era de aproximadamente R$ 1,5 bilhão em dezembro de 2016, e saltou para R$ 11 bilhões no começo de 2020.
A situação começou a mudar de figura, e rapidamente, no carnaval de 2020, quando os inesperados estragos causados pela pandemia provocaram quedas abruptas do fundo Alaska Black BDR, que só em março tombou 60%, justamente pela combinação que tinha dado tantos frutos nos anos anteriores. A gestora encerrou o ano com um patrimônio de cerca de R$ 8,1 bilhões.
Em março, quando o patrimônio sob gestão desabou para a casa dos R$ 6 bilhões, a Alaska foi cobrada por investidores e chegou a fazer teleconferências que foram acompanhadas simultaneamente por cerca de 6 mil possíveis e apreensivos cotistas, para acalmar os ânimos e até desmentir os boatos que chegaram a circular de quebra da gestora.
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Como reflexo da performance na crise, o fundo Alaska Black BDR esteve entre os que mais perderam cotistas em 2020, tendo fechado o período com um retorno negativo de 45%. As perdas foram compensadas parcialmente no fim do ano, quando da forte alta das commodities. Essa, inclusive, é uma das maiores apostas da casa para 2021.
Além do fundo Alaska Black BDR, a gestora conta na prateleira com o fundo de ações long only Black Institucional e com produtos de previdência que seguem a estratégia focada apenas em ações.
Em entrevista concedida ao InfoMoney, o principal porta-voz da Alaska, o sócio fundador Henrique Bredda faz uma retrospectiva do histórico ano de 2020 à frente dos fundos da gestora, e traça também as perspectivas para 2021.
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Na conversa, ele fala sobre a decisão de voltar a apostar na queda do dólar já em meados de abril, e sobre as principais convicções na carteira de ações.
Embora os nomes no portfólio não tenham tido alteração relevante nos últimos meses, o peso foi redistribuído, com uma aposta maior hoje em empresas de commodities como Cosan, Rumo, Petrobras e Vale.
Na conversa, o gestor da Alaska diz que tem acompanhado os IPOs recentes da Bolsa, mas que tem preferido não participar no momento, frente às “barganhas” em nomes já mais conhecidos.
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Confira a seguir aos principais trechos da conversa, em que o gestor, conhecido por ser ativo em redes sociais como o Twitter, aborda ainda a recente redução das postagens.
InfoMoney: Quais foram as principais lições tiradas da crise?
Henrique Bredda: O ano de 2020 reforçou ainda mais a importância das pessoas por trás dos negócios. A qualidade de quem está gerindo realmente é muito importante e, na hora que vem uma crise e uma dificuldade muito grande, você depende muito da criatividade e da capacidade dessas pessoas, e nem tanto do setor em si.
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No caso da família de fundos Alaska Black BDR, o que fica como lição após uma deterioração tão rápida de todas as classes de ativos em um curtíssimo espaço de tempo é de tentar combinar os ativos de outras formas. Por exemplo, em vez de vender dólar no mercado futuro, comprar uma opção de venda de dólar. Se o dólar cair, nas duas alternativas você ganha. Mas se o dólar subir, se você estiver no mercado futuro, tem mais a perder do que se comprar a opção de venda de dólar.
Se pudesse voltar no passado, teria mais opções que futuros, que em eventos de estresse são uma posição um pouco mais protegida. Nos fundos da família BDR sem dúvida carregamos na memória as decisões de fevereiro e março, e o efeito prático disso é ter mais opções do que tivemos no passado.
IM: Você tem sido menos vocal nas redes sociais. O que houve?
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Bredda: Estou repensando como delimitar mais os assuntos, como focar mais. O Twitter começou como um negócio muito pessoal que foi crescendo e ganhando dimensões maiores, com a intenção de passar o que realmente penso sobre economia, política, aborto, e acho que as pessoas não sabem lidar muito bem com isso.
Elas confundem as posições políticas com as posições nas carteiras. No futuro, quando voltar a ter uma presença maior, pode ser que trate de temas mais delimitados, específicos. Mas é importante essa pausa para dar uma respirada, consome muita energia, e o tempo é bem escasso. A ideia é focar um pouco mais.
IM: Como você resume o ano de 2020 estando à frente dos fundos da Alaska?
Bredda: Importante dizer que, desde meados de 2015 até a crise no início de 2020, a estratégia da família Alaska Black BDR foi a mesma: comprada em ações brasileiras, vendida em dólar. E para proteger a carteira de uma possível guinada populista do governo Dilma que poderia ser feita via corte irresponsável da taxa de juros, montamos uma estratégia vendida em juros.
Caso a Selic fosse cortada demais, o dólar subiria, perderíamos no câmbio, mas ganharíamos nos juros, e assim foi feito. Entre 2016 e 2019 ganhamos nas ações e perdemos no dólar, mas com as perdas mais que compensadas com os ganhos nos juros. Até que chegou fevereiro de 2020.
O estresse foi extremamente violento, vimos em duas semanas o mercado praticamente se dividir por dois, dos 120 mil para os 60 mil pontos, com o câmbio saindo de cerca de R$ 4 para quase R$ 6, e com os juros estressando bastante também.
IM: Qual foi a decisão diante de movimentos tão fortes?
Bredda: Naquele momento, a posição em juros não protegeu a posição no dólar, e, portanto, ficou uma combinação sem utilidade. Foi muito bom nos quatro anos anteriores, mas carregávamos os juros para proteger a posição no câmbio, e, se não protege, decidimos cair fora, mas não de um dia para o outro. Fizemos uma redução gradual e saímos das posições em juros e dólar.
Mas quando o governo cortou a Selic para 2,75% e depois para 2%, entendemos que os juros já estavam no limite de baixa, e vimos que o dólar tinha subido demais. E com a conta corrente do Brasil por volta de abril virando para o positivo, tomamos a decisão de voltar a ter a posição vendida no dólar, mas sem a necessidade de ter a proteção nos juros.
IM: Por que não voltar também nos juros?
Bredda: A visão era de que os juros deveriam ser mais para cima do que para baixo. Um corte na magnitude de 14,25% para 2% nós não veremos mais. E assim fomos a partir de abril, carregando uma posição comprada em Bolsa e vendida em dólar. No fim do ano chegamos com a carteira de ações com uma rentabilidade negativa de aproximadamente 5%, mas com muita volatilidade, chegando a cair 40% e depois recuperando quase tudo, o que está refletido em todos os fundos da gestora.
No caso do fundo de BDRs, a carteira de ações foi exatamente assim, só que com uma queda de quase 30% do dólar no ano.
IM: E como está a perspectiva para 2021?
Bredda: O que temos nos fundos hoje segue na mesma linha, com uma carteira comprada em ações, por estarmos com uma visão otimista com os resultados para os próximos anos, e continuamos achando que o dólar está muito caro contra o real, em um cenário muito bom para as exportadoras brasileiras.
Se continuar nesse ritmo, o Brasil vai obter resultados na balança comercial e na conta corrente muito fortes, o que vai acabar ajudando o país. E se o dólar cair, extraímos esse ganho a mais no fundo de BDR, mas não nos fundos long only e de previdência.
IM: Quais principais razões embasam a visão positiva para a Bolsa hoje?
Bredda: Temos uma visão de recuperação cíclica e basicamente os preços das ações refletem as operações das empresas não do dia a dia, semana a semana, até porque o noticiário e a política são muito imprevisíveis, mas em um horizonte de três, quatro anos. E como estamos otimistas com os resultados operacionais das empresas da Bolsa, inevitavelmente ficamos otimistas também com os preços das ações.
IM: Quais são os setores preferidos?
Bredda: Hoje o viés está um pouco mais voltado para as commodities. Os principais nomes na carteira são Rumo, Cosan, além de Cogna [leia mais sobre a visão de Bredda sobre a empresa aqui] do setor de educação. Mas temos também Vale, Petrobras, Braskem, e Localiza e Lojas Renner, essas duas últimas mais ligadas à atividade doméstica.
Na sequência temos Log-In, de logística, Magazine Luiza, que por muito tempo foi nossa maior posição, mas que agora está com um tamanho intermediário, e Suzano e Klabin, que também já foram muito grandes e hoje são posições menores, embora estejamos otimistas com o setor de papel e celulose.
Nesse nível de preços, essas empresas produtoras de commodities geram muita caixa, o que é muito bom para elas e para a própria economia brasileira. Já estamos em um ritmo de recuperação há alguns meses, desde maio que praticamente todo mês melhora o nível de emprego, o faturamento das companhias. Concordamos com as projeções de PIB do Brasil de 3%, 3,5% em 2021, faz muito sentido frente ao que estamos observando nas empresas. Não é “achismo”, não é torcida, vemos realmente que mês a mês as empresas estão se recuperando.
IM: Após o desempenho de 2020, vocês promoveram trocas importantes na carteira de ações?
Bredda: Os nomes na carteira de ações não são novidade, o que é novidade é que alguns engordaram o tamanho, e outros emagreceram. Basicamente os que emagreceram são Localiza, Lojas Renner e Magazine Luiza, que eram posições muito grandes e diminuímos, e passamos para Rumo, Cosan, Petrobras, Vale e Braskem. Fizemos uma redistribuição.
O perfil de risco da carteira mudou, ficou mais pesado em commodities, mas não temos empresas novas já faz alguns meses. A última mudança foi no meio da crise, quando a Bolsa desabou e colocamos dois novos nomes: Lojas Renner e Localiza.
IM: Desde meados de 2015, o fundo Alaska Black BDR não carrega posições em BDRs. Os nomes locais ainda são mais atraentes?
Bredda: Quando fazemos uma conta de qual é a métrica da taxa interna de retorno de empresas no exterior como Colgate, Disney, que não exigem um exercício de futurismo tão grande como a Tesla, e compara com as empresas do Brasil, entendemos que a taxa interna de retorno das empresas brasileiras está muito maior. Não sei se o S&P 500 vai andar mais que o Ibovespa, mas sei que estamos comprando, com o mesmo dinheiro, mais geração de caixa no Brasil do que lá fora. Para nós, ainda não compensa fazer a troca.
IM: Quais são os maiores riscos no radar?
Bredda: Os grandes riscos são termos um novo abalo na confiança dos empresários e dos consumidores basicamente pelo medo do vírus, e em relação ao governo tomar as medidas necessárias para dar continuidade nas reformas. Se o Brasil tiver um processo de vacinação muito ruim, ou se o Congresso bater cabeça de novo com o Planalto e não tiver reforma, a confiança vai ficar abalada. E se a confiança for abalada, muito provavelmente a economia não vai crescer o que deveria, já que as pessoas vão consumir menos e os empresários também vão investir menos. Assim, vemos como os principais riscos as reformas e a vacinação.
IM: Tem sido debatido no mercado já há bastante tempo qual a melhor estratégia de investimento, de valor ou de crescimento. Qual a sua visão a esse respeito?
Bredda: Historicamente, se pegarmos os últimos 60, 70 anos das bolsas, principalmente nos Estados Unidos, vemos que o estilo valor fica alternando a melhor performance com o estilo crescimento. Só que sempre que a estratégia de valor vai mal, as pessoas falam que o estilo está ultrapassado.
Não ficamos carimbando muito as empresas por estilos, tentamos procurar a taxa interna de retorno. Às vezes vem por meio de muita geração de caixa já no curto prazo, como no caso das empresas de commodities, e, em alguns outros casos, a taxa interna de retorno é baseada em uma confiança muito grande de que as empresas continuarão crescendo bastante ao longo do tempo, como Magazine Luiza e Localiza. Hoje os ativos do primeiro grupo estão muito difíceis de serem ignorados e estão mais atrativos, na nossa opinião, do que as empresas de crescimento.
IM: Alguma mensagem final para os investidores?
Bredda: Quando olhamos para a história de grandes investidores do mercado, quem de fato fez coisa importante na Bolsa como o Luiz Alves ou o Luis Barsi, fica evidente que eles se preocupam mais com algumas coisas com as quais as pessoas não estão prestando tanta atenção, e se preocupam menos com algumas coisas que a maior parte das pessoas acompanha demais, principalmente relacionadas a questões políticas.
Esses nomes estão muito focados nos resultados operacionais das empresas, nos ciclos econômicos, e não dão tanta bola para as notícias de curto prazo ou sobre o que está sendo aprovado no Congresso. Minha recomendação é para as pessoas olharem mais para as empresas, e menos para Brasília.
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