Brasil ficou “refém do populismo” e “austeridade fiscal virou inimigo público”, diz Stuhlberger

Eventual governo Lula deve ser bom para a Bolsa no começo, mas problemas virão com o passar do tempo, disse o gestor durante o congresso MKBR22

Katherine Rivas

Foto: Caue Diniz
Foto: Caue Diniz

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Os possíveis desfechos das eleições presidenciais de outubro, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva liderando as pesquisas de intenção de voto, e a tolerância da sociedade diante do descumprimento de regras fiscais, como o teto de gastos, dominaram o debate desta manhã no congresso MKBR22, promovido pela B3 e pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

O gestor Luis Stuhlberger, do fundo Verde, disse que considera preocupante o fato de os empresários e a sociedade brasileira terem ficados “reféns do populismo”, na medida que o atual presidente, Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, vem ampliando gastos numa tentativa de se fortalecer para a disputa.

“A austeridade fiscal do teto de gastos eu diria que praticamente virou um inimigo público do Brasil. O executivo, o legislativo e o judiciário entendem que o teto é algo ruim, e isso é uma pena”, afirmou Stuhlberger durante um dos painéis.

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Na visão dele, no caso de Lula ganhar as eleições, o Brasil entraria em uma sintonia em que a sociedade acreditaria que “gastar mais é melhor para o Brasil”.

O gestor reforçou ainda que o mercado financeiro tem tolerado governos de esquerda, na esperança de ter um Congresso Nacional de centro que evite que o Brasil se transforme em uma “esquerda latino-americana ao estilo Argentina”.  Ele destacou que um eventual governo do PT teria dois desafios: a pressão da sociedade por elevação do salário mínimo e os gastos com o funcionalismo público.

“Lula teria que lidar com aumento de gastos sem tirar a credibilidade fiscal do Brasil, que naturalmente vai gerar uma taxa de longo prazo maior”, afirmou. “Ninguém sabe o que o Lula quer. Ser uma esquerda raivosa ou passar a história como um estatista? Acredito que seja a segunda opção”, avaliou.

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Por esse motivo, segundo Stuhlberger, a Bolsa se sairia bem no começo de um eventual governo Lula, dado que, em sua visão, não seria uma administração “radical”. Mas os problemas viriam com o passar do tempo.

Stuhlberger manifestou preocupação de que um eventual governo do PT repita erros do passado. Ele citou como exemplos propostas do partido para destinar recursos para programas de financiamento estudantil, como o Fies e Prouni, focados na educação superior, enquanto em sua visão o País necessita fortalecer os ensinos fundamental, médio e técnico.

O gestor também apontou para a falta de investimento público como dilema. “Difícil ter retornos substanciais na Bolsa se o Produto Bruto Interno (PIB) não cresce”, afirmou. Para Stuhlberger, a inflação brasileira é muito indexada e a redução da Selic para um digito não será uma tarefa fácil, principalmente se o governo gasta mais.

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Investimento estrangeiro e agronegócio favoráveis

Pedro Parente, ex-ministro, ex-presidente da Petrobras e hoje sócio da EB Capital, participou do painel com Stuhlberger e manifestou preocupação com a falta de indignação da sociedade brasileira diante de questões que atrapalham o potencial produtivo do País. “Orçamento secreto é inaceitável. No meu tempo, se a gente fosse ao Congresso falando de orçamento secreto, seria preso”, afirmou.

Questionados sobre a possibilidade de atrair o investidor estrangeiro em um eventual governo Lula, tanto Parente quanto Stuhlberger citaram o fortalecimento de laços com a China.

Na visão de Parente, ter uma boa relação com a China – algo que ficou de lado nos últimos anos – traria oportunidades extraordinárias para o Brasil, recuperando a atratividade como um destino de escolha para os investimentos internacionais.

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Parente citou que diante do crescimento da população na Índia e outros países asiáticos, além da necessidade de aumento de produção, o Brasil se tornaria indispensável para estas economias no médio e longo prazo. “A conexão com a China traz uma avenida importante para o crescimento do agronegócio”, afirmou.

Já Stuhlberger destacou que o Brasil está descontado diante de outras nações, mas é importante considerar que nenhum outro país tem uma taxa real de juros de 6% para médio e longo prazo.

“O Brasil é um inferno tributário, fiscal, trabalhista, mas não é hostil para o investidor estrangeiro”, apontou. Ele também reforçou que o governo Bolsonaro foi um pouco hostil nas relações internacionais e nas questões ambientais. “Um aceno do PT para China já seria muito relevante”.

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Mercado de capitais

Ao Infomoney, o presidente da B3, Gilson Finkelsztain afirmou que independentemente de quem ganhe a eleição, existem oportunidades no mercado de capitais para ajudar a financiar projetos. Contudo, o que vai definir a agenda de produtos a serem desenvolvidos pela Bolsa serão os rumos da política monetária global e local, assim como o desafio fiscal do Brasil, com as vertentes de inflação e responsabilidade fiscal.

“Com isso o Brasil vai ter uma oportunidade grande no início de 2023 de retomar o crescimento e as atividades no mercado de capitais, como emissões de ações e follow-on [ofertas subsequentes]”, afirmou Finkelsztain.

Questionado sobre as oportunidades de investimento no agronegócio por meio do mercado de capitais, em um cenário que a aproximação da China se concretize, Finkelsztain afirmou que o setor vai continuar sendo uma fonte de excelentes produtos para os investidores ficarem atentos.

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O executivo citou os Fiagros, fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais, que vêm crescendo e representam a presença do agribusiness na Bolsa. “Acho que o agro vem surpreendendo nos últimos dez anos. Há uma década, representava perto de 15% do PIB do Brasil e hoje está perto de 28%”, destacou.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.