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A corrida dos juros elevou as taxas mundo afora para níveis mais atraentes do que se via em décadas. O capital, normalmente alocado na renda variável, escoou para a renda fixa no Brasil e no mundo. Com os juros na faixa dos 5% a 5,25% ao ano nos Estados Unidos – os mais altos desde 2007 – e em 13,75% no Brasil, há opções de títulos com bons retornos no mercado nacional e internacional.
Para além dos títulos governamentais dos EUA – as chamadas Treasuries – e os títulos do Tesouro Direto do Brasil, a classe de bonds corporativos americanos e as debêntures brasileiras são um destaque.
Por aqui, há dezenas de opções de debêntures com classificação de risco AAA (a melhor possível) pagando taxas acima de 8% ao ano mais a variação do IPCA – considerando o acumulado de 12 meses até abril (inflação de 4,18%), isso equivale a um retorno anual acima de 12%.
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Lá fora, o Goldman Sachs calcula que os bonds corporativos das empresas com grau de investimento (aqueles que apresentam menor risco) irão entregar um retorno médio de 6,8% em 2023. Já os títulos mais arriscados podem chegar a 11,9% de retorno anual total.
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Ambos os ativos são títulos de dívida emitidos por empresas privadas com pelo menos parte dos rendimentos prefixados. Além da remuneração, o prazo também é previamente definido nos dois casos. Com tantas semelhanças entre as duas opções de renda fixa, quais são as diferenças que os investidores devem considerar na hora de escolher?
O fator dólar
As diferenças começam com a moeda de emissão. Enquanto as debêntures são emitidas em real, os bonds corporativos são emitidos em dólar. Analistas ouvidos pelo InfoMoney destacam este como um dos principais fatores que tornam este ativo tão atraente frente seu similar brasileiro.
“Investir nos bonds corporativos é fazer um investimento em dólar, moeda forte que oferece diversificação e proteção à carteira”, afirma Erick Scott Hood, gerente de produtos e portfólios da Inter Invest. “A exposição cambial garante uma correlação negativa que pode proteger os investimentos quando o mercado de ações estiver caindo, por exemplo. Afinal, nesses casos, o dólar provavelmente estará subindo e equilibrando as perdas.”
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O fator dólar também é relevante em outra consideração. Enquanto as debêntures, em sua maioria, têm o retorno atrelado a um indexador somado a uma taxa fixa (IPCA mais 8%, como no caso das debêntures AAA), os bonds possuem apenas uma taxa fixa. Entretanto, para os brasileiros, a variação do dólar no período investido é uma segunda variável acrescida aos juros.
“O carrego em dólar é um detalhe importante que muita gente esquece quando pensa nos títulos de renda fixa americanos”, diz Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos. “O retorno do investimento será a rentabilidade nominal do título mais a variação do câmbio no período.”
A CSN Mineração tem uma debênture com vencimento para julho de 2031 com um retorno prefixado de IPCA mais 8,02% ao ano. Digamos que, no mês de vencimento, o IPCA em 12 meses seja de 4%. O retorno desse título será de 12,02%.
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No exterior, a CSN (matriz da CSN Mineração) tem um bond com vencimento para junho de 2031. O retorno prefixado é de 4,625% ao ano. Supondo que em oito anos o dólar valorize 10%, esse bond poderá gerar um retorno superior a 14% ao ano.
Tanto o IPCA quanto a valorização do dólar são estimativas para calcular os retornos dos ativos. Na década passada, entre 2012 e 2022, a média da inflação no Brasil, calculada pelo IPCA, foi de 6,2%. No mesmo período, o dólar se valorizou 62,26%. O retorno prefixado da debenture considera a inflação de 12 meses para pagar o investidor, já a variação do dólar é considerada do momento da compra do título até a venda.
Os ganhos da marcação a mercado
Embora sejam títulos de renda fixa, os preços pelos quais debêntures e bonds são comprados e vendidos variam todos os dias conforme as condições de mercado – o que significa que, se o investidor decidir vender seus papéis antes do vencimento, ele pode ganhar ou perder dinheiro.
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Isso não era evidente para os brasileiros até recentemente. Mas desde janeiro, as debêntures passaram a ser “marcadas a mercado” nas carteiras dos investidores nas corretoras e plataformas de investimento. Significa que os preços são atualizados todos os dias, de acordo com os encontrados no mercado. Essa sempre foi a prática do mercado americano, agora adotada também no Brasil.
Assim, caso não queira ou não possa esperar o vencimento da debênture ou do bond, o investidor pode checar se o preço do título aumentou ou caiu para decidir se a venda antecipada é um bom negócio.
Atualmente, a expectativa em relação à política monetária no Brasil e nos Estados Unidos tem afetado os valores desses investimentos. O mercado norte-americano trabalha com a sinalização de que o seu banco central (Fed, ou Federal Reserve) manterá os juros estáveis por alguns meses – agora em maio, o Fed subiu os juros pela décima vez seguida, para a faixa de 5% a 5,25% ao ano.
Quando a política monetária passa por um ciclo de aumento dos juros, os títulos de renda fixa emitidos em meses e anos anteriores ao ajuste perdem valor. Isso porque os retornos prefixados naquele momento eram menores do que os de títulos emitidos com a taxa atual.
O contrário também é verdadeiro. Quando a política monetária vira para um ciclo de queda dos juros, os preços dos títulos antigos sobem, porque as taxas anteriores eram maiores do que os juros futuros. A marcação a mercado permite a visualização dessas mudanças.
Breno Kehler, assessor de investimentos da Ável, afirma que o ciclo de juros dos EUA é um fator importante a se considerar para entrar no mercado de bonds.
“Investir em bonds não se trata apenas de ganhos com o retorno prefixado, mas também da valorização do ativo com a marcação a mercado”, diz Kehler. “A possibilidade de estabilidade dos juros nos EUA por alguns meses, somada à posterior queda das taxas torna o momento atraente.”
A liquidez do mercado norte-americano representa outra vantagem para os bonds em relação às debêntures. O mercado de bonds governamentais e corporativos dos Estados Unidos somou US$ 55,1 trilhões (R$ 275,2 trilhões) em 2022, o mais desenvolvido do mundo. No mesmo ano, o estoque brasileiro foi de R$ 6,7 trilhões – mais de 40 vezes menor.
A negociação média diária de bonds nos EUA em 2022 foi de R$ 36 bilhões (R$ 184 bilhões). No Brasil, debêntures, CRIs e CRAs somaram uma média diária de R$ 1,5 bilhão no período.
“Nos Estados Unidos, há mais liquidez para compra e venda dos bonds. A chance de se desfazer do ativo antes do vencimento com ganhos é maior. Além disso, como o mercado é grande, há mais opções de empresas e setores para investimento”, afirma Hood, da Inter Invest.
Bonds ou debêntures?
Para quem tem interesse em investir no exterior, os bonds estão pagando bons retornos neste momento. Em relatório sobre alocação de ativos, os analistas da Levante, por exemplo, destacaram quatro empresas americanas com opções atrativas: Dell, Expedia, Dow e Amazon, com taxa interna de retorno (TIR) entre 8,5% e 12,5% no início de maio.
Entretanto, os especialistas ponderam duas questões. A primeira é a oscilação do dólar. É preciso estar disposto a correr o risco do câmbio. A valorização da moeda norte-americana pode fazer o retorno dos bonds aumentar consideravelmente. Mas também pode causar prejuízo.
O segundo ponto é o pagamento de juros dos títulos brasileiros. As taxas aqui também estão altas e garantindo bons retornos em títulos conservadores, com menos exposição a risco.
Para quem deseja a exposição internacional e garantir retornos em dólar, Meira, do Valor Investimentos, diz que 10% é o número ideal.
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Gabriel Meira, da Valor Investimentos
Para investir em bonds no exterior, é precisa ter uma conta internacional e considerar a conversão do câmbio e a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Os analistas afirmam que não existe um valor mínimo, mas a indicação inicial varia em torno de US$ 1.000 (aproximadamente R$ 5.000). Por aqui, o investimento mínimo nas debêntures fica na faixa de R$ 1.000.
O Imposto de Renda também não pode ficar de fora da análise. Existe uma classe de debêntures – as incentivadas ou de infraestrutura – que têm isenção. Já os bonds estão sujeitos à tributação. Atualmente, as alíquotas são as da tabela de ganhos de capital. Quando o investidor obtém lucro com a venda do título ou por meio do recebimento de juros, a incidência é a seguinte:
- para ganhos abaixo de R$ 5 milhões, a alíquota cobrada é de 15%;
- já para ganhos entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões, a tributação é de 17,5%;
- entre R$ 10 milhões e R$ 30 milhões, a alíquota chega a 20%;
- para ganhos acima de R$ 30 milhões, o percentual é de 22,5%.
Com a Medida Provisória 1171/2023, publicada pelo governo em 30 de abril e em tramitação no Congresso Nacional, os rendimentos obtidos a partir de 2024 passariam a ser tributados de outra forma: rendimento anual menor que R$ 6.000 é isento; ganhos entre R$ 6.000 e R$ 50.000 por ano pagam 15%; e ganhos acima de R$ 50.000 são tributados em 22,5%.