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BlackRock vê forte volatilidade para ambos os lados nas taxas dos Treasuries – e muda alocação

Casa não descarta que rendimentos possam subir mais à medida em que os prêmios pelo prazo fiquem maiores

Bruna Furlani

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Quem acompanha os mercados não tem falado de outra coisa a não ser a alta surpreendente das taxas oferecidas pelos títulos mais longos nos Estados Unidos. Tamanho alvoroço tem explicação: um movimento tão intenso e veloz não era visto há cerca de 16 anos.

A subida tem preocupado alocadores ao redor do mundo, entre eles a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo. Em relatório divulgado nesta semana, a casa afirmou que prevê uma forte volatilidade nas taxas dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) para ambos os lados. Ou seja, há motivos para novas altas, mas também para quedas.

A visão provocou alterações na carteira. Agora, a BlackRock está com uma posição tática neutra em títulos de longo prazo dos EUA — depois de deter uma alocação abaixo da média de mercado (underweight) para os ativos desde o fim de 2020.

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Apesar da mudança, a gestora disse que o próximo passo não é ficar acima da média de mercado (overweight). “Vemos os investidores demandando mais compensação em relação ao risco e ficando abaixo da média de mercado em horizontes estratégicos de longo prazo”, defendeu.

A casa também aproveitou o momento para rebaixar ainda mais a alocação em títulos com grau de investimento. A gestora argumentou que o spread (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos, considerados de baixo risco) oferecido pelos papéis em relação ao rendimento do papel do Tesouro dos EUA de 10 anos não aumentou como esperado.

Ao olhar para os fatores que poderiam impulsionar novas altas, a gestora pontuou que os rendimentos dos Treasuries poderiam avançar mais, à medida em que os prêmios pelo prazo ficassem gradualmente mais elevados, diante da forte volatilidade macroeconômica, persistência inflacionária e aumento do déficit fiscal — o que faz com que o governo americano tenha que emitir mais dívida para se financiar e, portanto, aumente a oferta de títulos.

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Da mesma forma que defende que as taxas poderão subir ainda mais, a gestora não descarta possíveis quedas. A casa lembra que o Fed está próximo de terminar o ciclo de alta mais rápido de juros desde a década de 80 e que os dirigentes destacaram, na última semana, que a subida nos rendimentos dos Treasuries está ajudando o trabalho da autoridade monetária no controle da inflação, o que tenderia a diminuir a necessidade de ajustes maiores.

“Os danos adicionais decorrentes do aumento das taxas deverão ficar mais claros com o tempo. Essas condições nos trazem para perto de um cenário em que a pressão sobre o Fed para conter a inflação se transformará em uma pressão para não afetar a atividade econômica com uma política monetária restritiva”, ponderou a BlackRock.

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Apesar disso, a casa ainda vê a autoridade monetária defendendo uma manutenção de juros mais altos por mais tempo para fazer frente às pressões inflacionárias.

Normalização das taxas

Outra gestora que alterou a visão sobre a renda fixa americana como um todo é a J.P. Morgan Asset Management. Em entrevista ao InfoMoney, Gabriela Santos, estrategista-chefe para as Américas da casa, disse que a chegada do rendimento do papel americano de dez anos para patamares próximos de 5% ao ano abre portas para aumentar a exposição. 

As taxas estão chegando perto do teto de 5% e esperamos uma normalização mais para perto de 3,75%. Ainda tem oportunidade de capturar esses juros e de se beneficiar de uma certa apreciação de preços [dos papéis]”, observa a brasileira. 

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A explicação é que uma eventual queda nas taxas para um patamar perto de 3,75% ajudaria a impulsionar os preços dos títulos. Isso porque, em um cenário de juros menores, os papéis tendem a se valorizar, o que poderia gerar oportunidades de saída antecipada – na chamada marcação a mercado, que envolve um ajuste diário no valor dos ativos.

Embora almeje uma normalização, Santos destaca que o cenário é delicado. Ao olhar para os fatores, a estrategista afirma que uma parte da alta foi puxada por um componente técnico, que estaria estabilizando agora ao olhar para as posições montadas por agentes financeiros.

“Investidores de renda fixa, que tinham aumentado a duration [prazo médio em que o investidor recolhe os rendimentos], começaram a sofrer perdas e decidiram diminuir um pouco esse prazo. Esse fator estava por trás de dias em que vimos as taxas subirem 20 bps [pontos-base]”, destaca a executiva. 

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Outra parte do movimento teria que ser impulsionada por alterações na demanda. Santos lembra que agora há uma participação menor de bancos centrais e de estrangeiros na compra de títulos, ao mesmo tempo em que cresceu o interesse por parte de investidores mais sensíveis a preço e que precisam absorver a demanda internamente.

“O ponto é que para outros investidores começarem a investir nos títulos é preciso ter uma perspectiva mais clara de que o Fed terminou de subir juros e que há cortes no horizonte”, afirma a casa, que acredita que, nas reuniões de novembro e dezembro, será possível ter uma perspectiva mais clara sobre se as condições financeiras estão apertadas o suficiente pelo aumento do juro e também pela subida das taxas longas.

Outros fatores que ajudariam a impulsionar uma normalização seriam uma visão mais clara de que já há um prêmio pelo prazo suficiente na curva, diante da maior oferta de títulos públicos no mercado, além de uma perspectiva de que o Congresso irá votar o novo Orçamento, o que ajudaria do ponto de vista fiscal, observa a executiva do J.P.Morgan.