Bitcoin atinge alta de 100% em 2023 – segundo especialistas, ainda há espaço para mais

Mesmo após franca retomada no ano, analistas ainda enxergam oportunidades em BTC com expectativa de dois eventos positivo para 2024

Lucas Gabriel Marins

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O burburinho sobre o possível lançamento de um ETF (fundo de índice) de Bitcoin (BTC) à vista nos Estados Unidos fez a principal criptomoeda do mercado disparar 20% em uma semana, alcançando níveis que não eram vistos desde o início de 2022. No ano, os ganhos do ativo digital já superam os 100%, segundo dados da ferramenta CoinMarketCap.

Para efeito de comparação, o índice Nasdaq 100 saltou 25% entre o dia 1º de janeiro e esta quarta-feira (25), o S&P 500 avançou 9,85% e o Dow Jones recuou 0,15%. No Brasil, o Ibovespa subiu 6,22% no mesmo período.

Não faltam motivos para agradar quem já estava comprado em Bitcoin. Mas, quem está de fora ainda tem chance de surfar a alta mesmo após tanta valorização em 2023?

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Para Felipe Martorano, analista de criptomoedas da VG Research, sim, desde que o investidor entenda o próprio perfil (conservador, moderado ou agressivo) e leve em conta os riscos macroeconômicos que podem afetar o mercado, em especial os problemas regulatórios, a volatilidade e a ainda persistente aversão global ao risco.

Tendo isso em conta, Martorano recomenda alocar entre 2% e 5% do portfólio em Bitcoin. “A alocação em Bitcoin pode se tornar fundamental e estratégica para basicamente qualquer carteira de investimento. Dado principalmente o seu crescimento exponencial e a melhor assimetria risco/retorno do mercado”, falou.

“Em outras palavras, apenas uma pequena alocação pode gerar resultados substanciais e, no caso de um desempenho negativo ou para uma desvalorização total do ativo (para aqueles mais céticos), isso não afetaria significativamente a saúde de sua carteira de investimentos”.

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Uma ferramenta da Hashdex, gestora brasileira de fundos de criptoativos, simula o impacto que o investimento em criptos teria em uma carteira, composta por ativos pós-fixados (CDI) e crédito privado IPCA. O resultado, que leva em consideração os 12 meses até o dia 10 de outubro, mostra vantagem na alocação em ativos digitais – em tese, sem afetar substancialmente a volatilidade da carteira.

Comparação de rentabilidades com diferentes composições (de 0% a 5% em criptoativos):

Ativos pós-fixados (CDI) Crédito Privado IPCA (IDA-IPCA) Criptoativos Retorno anualizado
80% 20% 0% 12,85%
78,4% 19,6% 2% 13,34%
76% 19% 5% 14,06%

Fonte: Hashdex

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Importante ressaltar, no entanto, que rentabilidade passada não representa ganho futuro.

Para Theodoro Fleury, gestor da QR Asset, é possível atingir um retorno esperado maior para o mesmo nível de risco com o Bitcoin, por simulações de fronteira eficiente (uma forma de analisar retorno e risco de uma carteira de investimento). Segundo ele, só por essa ótica, já valeria o risco de alocar na criptomoeda.

“Por exemplo, se uma pessoa investe 2% do seu patrimônio em BTC, e o ativo vai a zero, ela perdeu 2% do seu capital. Se ela investe os mesmos 2% do seu capital e o preço do BTC se multiplicar por 5 ou 10, o que essa pessoa deixa de ganhar é muito se comparado com os 2% originalmente investidos. Ou seja, por uma simples conta de esperança matemática, o risco de não ter nada é muito maior do que o de ter um percentual pequeno do seu patrimônio investido no ativo”.

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Riscos

Apesar das possíveis vantagens de adicionar Bitcoin ao portfólio, a criptomoeda é um ativo de risco com bastante volatilidade. “Portanto, o investidor tem que estar preparado para aguentar essas flutuações e investir um valor que não o preocupe a ponto de se ver forçado a vender na baixa”, disse Fleury, sinalizando ainda que o BTC é um investimento de longo prazo, e quanto maior o horizonte de investimento, menor o risco.

Martorano, da VG Research, lembrou que, além das constantes oscilações, o mercado de criptomoedas lida com questões regulatórias em toda parte do mundo, o que gera incertezas no âmbito jurídico e pode respingar no preço. Falou ainda que o BTC sofre com o ciclo de aperto monetário nos EUA.

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“Atualmente, o maior risco macroeconômico está relacionado à inflação global, que, por sua vez, mantém as taxas de juros nos Estados Unidos em níveis historicamente elevados. Essa situação tende a afastar capital dos investimentos de maior risco, especialmente em ativos de renda variável como o caso das criptomoedas”.

Outro risco inerente aos criptoativos, ventilou Martorano, envolve o armazenamento dos ativos digitais. Se o investidor faz a custódia por meio de carteiras cripto privadas , ele precisa tomar cuidado para não perder as chaves de acesso – caso isso ocorra, é praticamente impossível recuperar as criptomoedas.

Já se decidir manter os ativos digitais em uma exchange, existe o perigo dos hacks ou mesmo das falências. “As corretoras, de certo modo, estão expostas aos mesmos riscos (dos bancos), no entanto, não há um Fundo Garantidor de Crédito (FGC)” que protege o usuário em caso de quebra, disse.

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Catalisadores

A possível aprovação de um ETF de Bitcoin à vista é apontada por especialistas como um catalisador de alta da criptomoeda.

Na semana passada, a gigante BlackRock teve listado seu ETF sob análise regulatória listado na DTCC, que opera compensações e liquidações para a Nasdaq, e a Grayscale recebeu aval da Justiça para converter seu principal fundo de criptomoedas em um ETF de Bitcoin, finalizando uma disputa judicial que corria desde o ano passado.

Um ETF com exposição direta à criptomoeda, segundo defensores do ativo, tem força para atrair investidores institucionais, principalmente dos EUA. A Galaxy Digital, empresa de serviços financeiros focada em criptomoedas, estima que o montante de aportes em Bitcoin via fundo na Bolsa pode chegar a US$ 14,4 bilhões no primeiro ano – mais de 2% do valor de mercado da criptomoeda hoje.

“O sentimento é claramente otimista à medida que mais e mais sinais começam a revelar o que parece ser uma listagem provável e iminente de um ETF de Bitcoin à vista nos EUA”, disse Darius Tabatabai, cofundador da bolsa descentralizada Vertex Protocol, para a Bloomberg.

Além do ETF, outro catalisador de alta para o ativo digital é o halving, um ajuste na blockchain da moeda que reduz pela metade a recompensa dos mineradores, cortando, como consequência, a oferta de novas criptomoedas. O evento, que garante a característica deflacionária do ativo, ocorre a cada quatro anos. O próximo será em abril de 2024.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney