SÃO PAULO – Com a valorização de 18% do ouro em 2019 e de quase 30%, neste ano, diante da busca de investidores por ativos considerados mais seguros e com a atratividade cada vez menor dos títulos americanos, outro metal precioso tem entrado em evidência nos portfólios: a prata.
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No ano, a prata acumula valorização em dólar de 54,6% na bolsa de Nova York, com a onça troy (medida equivalente a cerca de 31 gramas) cotada a US$ 26,26. A variação é a maior desde 2010, quando o preço do metal disparou mais de 80%.
Com diferentes finalidades buscadas pelo setor industrial, a prata tem como sua principal aplicação a tecnologia, como para a fabricação de chips e eletrônicos em geral.
Como investimento, o metal é negociado em bolsas de valores em países da Europa e nos Estados Unidos e, por lá, pode ser acessado diretamente também via fundos de índice (ETFs).
No Brasil, contudo, o investimento começa só agora a contar com alternativas mais acessíveis ao investidor pessoa física, com fundos de investimento com posição em prata ou por meio de Certificados de Operações Estruturadas (COEs).
De olho na apreciação do metal, a XP anunciou o lançamento de um COE sem risco cambial que vai acompanhar o desempenho do fundo de índice iShares Silver Trust (SLV), negociado nos Estados Unidos e exposto ao movimento diário do preço das barras de prata em Nova York.
O produto, que será lançado na terça-feira (18), terá aplicação mínima de R$ 5 mil, prazo de cinco anos e meio e vai contar com a proteção do capital investido, em caso de retorno negativo. Em outras palavras, se a prata cair ao longo do período, o investidor receberá o montante aplicado inicialmente.
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A Vitreo, por sua vez, lançou no fim de julho um fundo que investe no metal via mercado futuro e ETFs internacionais, com exposição ao dólar. Com investimento mínimo de R$ 1 mil, o Vitreo Prata FIM é destinado ao público geral.
“Com juro real negativo no Brasil, os investidores estão obrigados a diversificar para conseguir um bom rendimento. O investidor, na busca por opções com mais risco, precisa contrabalancear a carteira para mitigar o risco e manter o principal”, afirmou George Wachsmann, CIO da Vitreo, em nota à imprensa.
Por que a prata disparou em 2020?
Segundo Guilherme Giserman, estrategista internacional da XP, a alta recente do metal se deve às políticas fiscais e monetárias ao redor do mundo para minimizar os impactos da Covid-19, ao ambiente de juros negativos e a um ecossistema cada vez mais permeado por equipamentos eletrônicos e sedento por celulares e semicondutores, com desenvolvimentos constantes na medicina.
Ele destaca a ação antibiótica e de baixa toxicidade da prata para células animais, o que permite que o metal seja usado em loções antibacterianas, bem como para confeccionar tubos de respiradores e, equipamentos de raio-x, entre outros.
Programas voltados para questões de ESG, que avaliam empresas de acordo com seus impactos e desempenho nas áreas de meio ambiente, social e de governança corporativa, também contribuem para a trajetória da prata, afirma Ricardo Kazan, gestor da Novus Capital. Isso porque o metal entra como condutor das placas de energia solar, os painéis fotovoltaicos.
“É uma demanda grande que está acontecendo nesse segmento, com a possibilidade de expansão do preço”, diz.
Ouro como reserva de valor
Uma combinação de piora da economia global com a pandemia do coronavírus e do atual patamar de juros baixos ao redor do mundo colocou o ouro sob os holofotes nos últimos meses, por ser considerado um “porto seguro” em momentos de grande volatilidade e incertezas no mercado.
Desde a mínima, em 19 de março, o ouro em dólar já subiu 32,6% até sexta-feira (14). “Não ter ouro hoje na carteira é muito arriscado em termos de um portfólio diversificado”, afirma Rafael Gaspar, gestor da estratégia macro focado em mercados internacionais da Truxt Investimentos.
Na B3, o contrato de ouro negociado na Bolsa sobe 65,1% em 2020, impulsionado pela variação cambial no período.
A casa, que chegou a ter 10% do Truxt I Macro alocado em ouro no primeiro semestre, reduziu a posição para 3,5% no começo de agosto em meio à forte alta. “É a menor alocação que temos há muito tempo. O fundamento permanece bom para o médio prazo, mas o preço subiu muito”, assinala.
Atualmente, a Truxt não possui posição em prata devido à rápida apreciação do metal e à característica mais volátil, sensível à economia real, que segue enfraquecida em meio à pandemia.
“Como o ouro é o ativo que vamos querer ter pelos próximos dez anos, nos sentimos mais confortáveis nele por enquanto”, diz, destacando o caráter mais defensivo do metal dourado em momentos de incerteza.
Gaspar afirma, contudo, que, se a correção nos preços, como a vista na terça-feira (11) continuar, pode vir a incluir a prata na carteira de forma a ampliar a diversificação do fundo. “Se o índice de atividade voltar nos países, a prata pode ser mais beneficiada que o ouro”, avalia.
Prata x ouro
Embora ambos sejam metais preciosos, a prata e o ouro possuem características e usos distintos.
Enquanto 50% da demanda por prata é industrial, segundo dados do Silver Institute, no ouro, o segmento responde por uma fatia entre 10% e 15%.
“Muita gente prefere a prata por ter um componente industrial ligado à atividade. Pode ter uma volta mais forte [da atividade econômica] pós-pandemia e a prata deixar o ouro para trás por ser menos “porto seguro”, assinala o gestor da Truxt, ao brincar que a prata é um “ouro alavancado por componente industrial”.
Kazan, da Novus, destaca que a prata se encaixa em um cenário parecido com o ouro, marcado por um grande fluxo de investimento via ETFs nos últimos meses, mas que o tamanho de mercado é diferente.
“A prata tem um mercado muito menor que o do ouro. Então um fluxo de investimento intenso gera um movimento muito maior do que geraria no outro metal”, explica, citando o rali dos últimos meses.
Segundo dados da CPM Group, empresa americana especializada em pesquisa, consultoria e gestão de commodities, o valor de mercado do ouro ficou em US$ 192,6 bilhões em 2019, enquanto o de prata correspondeu a US$ 16 bilhões.
Na sexta-feira (14), o ouro à vista era cotado acima dos US$ 1,9 mil. O recorde foi registrado no dia 6 de agosto, quando a onça troy do metal dourado ficou acima dos US$ 2 mil. Já a prata era negociada a US$ 26,26 na sexta-feira.
Para Kazan, a prata não pode ser considerada uma reserva de valor como o ouro, uma vez que, além de ser mais volátil, não possui uma demanda relevante por parte dos bancos centrais ao redor do mundo.
Ao mesmo tempo, é um ativo “interessante”, segundo ele, por ficar exposto à retomada da economia após a pandemia. “Vai ser difícil ver um rali muito grande do ouro e a prata ficar para trás”, diz Gaspar, da Truxt.
Atualmente, a Novus não carrega posição nem em prata nem em ouro – fatia esta última que foi vendida em julho de forma a embolsar os lucros.
Ouro ficou caro?
Na avaliação de Caesten Menke, head na Julius Baer, a segurança que o ouro oferece a um portfólio ficou muito cara e tanto o metal quanto a prata são mais adequados para negociações de curto prazo do que para quem busca “portos seguros”.
Isso porque o banco suíço espera uma queda nos preços dos metais no médio e longo prazo, uma vez que não compartilha da visão de que as grandes medidas de estímulos irão levar a um aumento da inflação e perda de confiança nas moedas mundiais.
“Ainda estamos confiantes com a melhora da economia em andamento que deve, eventualmente, pesar na demanda por portos seguros”, escreveu Menke em relatório publicado na quarta-feira (12), que atribui posição neutra aos metais.
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