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Diante da recente realização nas Bolsas americanas, com queda nos principais índices do mercado, fundos que alocam em ações de tecnologia americanas buscam traçar as apostas para os próximos meses para além das tradicionais big techs – que tiveram um desempenho fora da curva no primeiro semestre.
Na Contour Asset Management, gestora americana com mais de US$ 3 bilhões sob gestão, uma das apostas são os papéis da Adobe (ADBE34), conforme traz Tom Cahill, diretor da casa.
A Adobe, tradicionalmente conhecida pelos aplicativos de edição de imagens, vem apostando em inteligência artificial (IA). No começo do ano, lançou o Firefly, ferramenta que gera imagens a partir de comandos de texto em mais de 100 idiomas e que funciona apenas com conteúdos licenciados.
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Um dos destaques da empresa está na capacidade de trabalhar apenas com conteúdos licenciados, afirma Cahill. “Se você cria uma imagem com IA, quem tem a marca? Ela é protegida por direitos autorais? Você pode usá-la?”, questiona.
A Adobe tem dito que treinou o modelo com fotografias de sua biblioteca e com imagens de domínio público após indagações sobre direito autoral.
Outro ponto que atrai a Contour está na possível monetização da ferramenta. Até agora, a companhia não disse quanto irá cobrar para oferecer essas novas capacidades, reforçando que está em período de testes, com uma versão inicial do Firefly.
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“Se aumentar a produtividade, como nós achamos que deve ocorrer, pensamos que poderão cobrar um valor elevado”, defende Cahill.
De olho no potencial do produto, o profissional cita outros exemplos de empresas que passaram a cobrar pelo uso de ferramentas corporativas de inteligência artificial, caso da Microsoft.
Em julho deste ano, a gigante de tecnologia americana anunciou que as ferramentas de IA que funcionam com o Microsoft Office, chamadas de Microsoft 365 Copilot, custarão cerca de US$ 30 por mês, além do que os clientes empresariais já pagam.
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“Se você pensar, essas ferramentas estão te oferecendo tempo. E isso é uma das commodities mais escassas no mundo”, defende Cahill.
No acumulado do ano, as ações da Adobe avançavam pouco mais de 42%, até a última sexta-feira (18). Em agosto, os papéis apresentam queda de 2,18%.
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A Zillow é outra companhia fora do radar, mas com potencial de alta, segundo Cahill. A empresa americana de tecnologia para o mercado imobiliário voltou a fazer parte do portfólio da Contour neste ano.
Após a forte alta dos juros americanos, que chegaram ao patamar de 5,25% a 5,50%, Cahill destaca que o crédito encareceu, dificultando o financiamento para a compra de uma casa nos Estados Unidos.
Por isso, a ação da Zillow “chegou a um ponto tão baixo que voltou a ficar interessante”, diz o executivo. “Os juros são um desafio agora porque estão elevados, mas devem voltar a cair, provavelmente”.
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O profissional destaca ainda que a Zillow fez mudanças recentes para aumentar a monetização do negócio. No primeiro semestre, por exemplo, anunciou o lançamento de um plug-in para o chatGPT, que busca ser uma espécie de corretor virtual. No acumulado de agosto, as ações da Zillow recuam 1,52%.
Nos últimos 12 meses encerrados em julho, o fundo Schroder Tech Equity Long & Short, que replica a estratégia da Contour, tem retorno de 25%, contra 14% do CDI (taxa de referência da classe). O produto possui hedge cambial, sem exposição à variação da moeda.
Uma das particularidades do fundo, como explica Fernando Cortez, diretor comercial da Schroders, é a possibilidade de oferecer um bom retorno para além das tradicionais big techs. “O fundo é bem menos dependente da geração de alpha das ações das FAANGs [Meta, Amazon, Apple, Alphabet e Netflix]. Eles vão atrás de teses mais idiossincráticas na área de mídia, telecomunicações, além de companhias de tecnologia de software e hardware”, destaca.
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Walt Disney: entrada muito cedo
Enquanto segue otimista com os papéis de tecnologia fora do radar, o executivo da Contour conta que o ano não foi apenas de acertos. A gestora se desfez, por exemplo, das ações da Walt Disney Co (DISB34) no primeiro semestre.
Cahill afirma que o streaming Disney+ custou caro e se mostrou pouco lucrativo, embora tenha melhorado.
De acordo com o balanço referente ao terceiro trimestre fiscal de 2023, a Disney cortou as perdas no streaming para US$ 512 milhões, ante US$ 1,1 bilhão um ano antes. A redução no prejuízo ocorreu devido ao aumento na receita com parte das assinaturas.
Na ocasião, o Disney+ registrou uma queda de 4 milhões de assinantes com relação ao trimestre anterior, chegando a 157,8 milhões.
Além da preocupação com as margens, o executivo observa que o CEO da Disney, Bob Iger, trouxe certo ruído ao mercado ao falar sobre possíveis mudanças envolvendo cobrança por compartilhamento de senha. Segundo Iger, a empresa está ativamente estudando maneiras de frear o compartilhamento de contas do Disney+ até 2024.
“Eles [a Walt Disney] estão promovendo mudanças que provavelmente, serão positivas, mas a intensidade das alterações talvez seja menor do que tínhamos antecipado”, destaca.
Apesar de estar com uma visão menos otimista das ações, o especialista não avalia que a empresa não seja uma boa companhia. “O único ponto é que provavelmente, entramos muito cedo nas ações e por isso, decidimos sair”, afirma.
No acumulado deste ano, as ações da Disney recuam 6,15%. Já em agosto, os papéis apresentam leve alta de 2% – na contramão de boa parte das ações americanas.
Correção tática e Fed
Para Cahill, a queda recente dos índices acionários dos EUA são movimentos de contração naturais do mercado, especialmente após uma alta mais consistente. Ele chama atenção para o aumento das preocupações com a dívida americana.
No começo do mês, a Fitch Ratings rebaixou o rating (classificação de risco) de emissor de longo prazo e moeda estrangeira (IDR, na sigla em inglês) dos Estados Unidos de AAA para AA+, com perspectiva estável.
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Segundo a Fitch, foi reflexo da deterioração fiscal esperada para os próximos três anos, assim como a crescente dívida do governo geral.
As preocupações com a situação fiscal do país também pesaram sobre a curva de juros americana na última semana, com destaque para os vencimentos mais longos.
O rendimento do papel de 30 anos do Tesouro americano, por exemplo, fechou a 4,377% na última sexta-feira (18), superando a alta de 2022 e chegando ao maior nível desde 2011 – impulsionado pela resiliência da atividade econômica nos Estados Unidos e uma oferta crescente de dívida pelo governo.
O mercado tem monitorado de perto os próximos passos do Federal Reserve (Fed, banco central americano). O executivo da Contour destaca que cada vez mais os dirigentes têm falado que são dependentes dos dados e que cada encontro terá um caráter mais “ao vivo”.
“Ou seja, eles deram a entender que não vão saber exatamente que postura vão adotar até que o encontro aconteça”, afirma Cahill.
Um dos motivos para o maior receio em tentar antecipar a condução da política monetária é que alguns dados têm passado informações mistas sobre a economia americana, na avaliação do executivo. A inflação, por exemplo, dá sinais de que começou a desacelerar, mas há alguns itens com maior dificuldade em arrefecer, caso dos preços de combustíveis.
Atualmente, segundo a plataforma CME Group, os agentes financeiros precificam uma probabilidade de 88,5% de que o Fed opte por manter a taxa inalterada em 5,25% a 5,50% na reunião de setembro. Já a partir de março de 2024, um percentual maior de agentes (33%) prevê que o ciclo de cortes possa iniciar, com recuo de 0,25 ponto percentual na taxa de juros americana.
Sobre a possibilidade de recessão na economia americana, o executivo afirma que desacelerações da atividade costumam ser muito “difíceis” e que fica preocupado porque é algo que pode afetar milhões de americanos.
Apesar do receio, ele chama atenção para uma situação atípica: a escassez de mão de obra. “Se há escassez e a pessoa não está satisfeita com seu emprego atual, ela pode procurar outro. Isso é ótimo de ver, mas parece contraditório à ideia de que pode haver uma recessão em breve”, pondera.