Ação sobe 25% e impulsiona melhor fundo de julho, enquanto multimercados tipo macro superam CDI

Foi a primeira vez em 2023 que os multimercados do tipo macro renderam mais do que o índice de referência de rentabilidade da classe

Bruna Furlani

B3 Bovespa Bolsa de Valores de São Paulo (Germano Lüders/InfoMoney)

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A alta de mais de 3% do Ibovespa em julho e a perspectiva de início do ciclo de corte de juros turbinaram os ganhos de fundos multimercados com grande alocação em renda variável. Foi o caso do Logos Total Return, que terminou o mês com retorno de mais de 23%, bem superior ao 1,07% do CDI (taxa de referência da classe) no período.

O fundo ficou no topo entre os fundos multimercados com melhor desempenho em julho. Para o levantamento, o InfoMoney extraiu dados da plataforma Economatica no dia 9.

Foram considerados veículos não exclusivos, com gestão ativa, patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas no fim do mês. Fundos de crédito privado ficaram de fora.

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Confira abaixo a lista dos fundos multimercados mais rentáveis em julho: 

Fundos mais rentáveis em julho  Retorno no mês (%)
Logos Total Return FICFI Mult 23,27
Brad Fc FI Mult Franklin Wel Tech LS Ie 5,64
Whg Global Long Biased Brl Fc Mult Ie 5,26
ARX Extra Fc FI Mult 4,89
Moat Capital Long Bias Fc FI Mult 4,65

Fonte: Economatica

Posições em Hidrovias do Brasil (HBSA3) e Cosan (CSAN3), que viram os preços saltarem 25% e 12% no mês passado, respectivamente, ajudaram a impulsionar os ganhos do Logos Total Return. O resultado de julho foi o seu melhor no ano.

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Luiz Henrique Guerra, CIO da Logos Capital, explica que ações da Hidrovias do Brasil subiram cerca de 75% no ano até a última sexta-feira (11). A empresa, segundo ele, é beneficiária natural da superssafra que o País deve ter, diante de uma série de desafios de escoamento da produção.

A aposta é alta. Nos cálculos do executivo, a expectativa é de que a companhia devolva de 35% a 40% da rentabilidade de geração de caixa nos próximos dois a três anos.

Já a Cosan, outro investimento do fundo da Logos, está bem posicionada no setor de logística, agricultura e também com minério de ferro, devido à participação que detém na Vale (VALE3), diz Guerra.

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Apesar do bom desempenho, a gestora conta que fez mudanças de posição recentemente, diminuindo Gerdau (GGBR4), por exemplo. Foi uma redução tática, para que o fundo pudesse participar da privatização da Copel agora em agosto – após a Gerdau ter registrado uma alta forte puxada pelo aumento da geração de caixa e por múltiplos atrativos, como explica Guerra.

A diminuição também tem a ver com preocupações com relação à China,  que deve passar a desenvolver mais o consumo no País depois de ter investido por anos nos setores imobiliário e de infraestrutura, que demandam aço.

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O avanço da reforma tributária também provocou alterações nas alocações da gestora. Guerra conta que a casa deixou de lado setores como bancos e empresas de telecomunicações.

“Olhando o resultado de Bradesco e Santander, o fim do JCP [Juros sobre Capital Próprio] precisa ser visto com cuidado porque afeta a rentabilidade dos bancos”, pondera o gestor.

Embora esteja preocupado com a extinção do provento, o gestor argumenta que o fim dele não ocorrer sozinho. “Será preciso ter compensação. Não dá para simplesmente cortar”, destaca.

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Posições no exterior

Alguns multimercados também tiveram o resultado impulsionado por posições no exterior, caso do WHG Global Long Biased BRL, que avançou 5,26% em julho. Gustavo Campanha, sócio e gestor de ações da WHG, explica que o portfólio foi beneficiado por ações de valor dos Estados Unidos, como Morgan Stanley (MSBR34).

Campanha afirma que os papéis do banco apresentaram um bom resultado em julho – depois de um balanço acima do esperado e diante da perspectiva de recuperação do setor após o estresse bancário visto em março.

Outro papel de destaque foi o da Union Pacific (UPAC34), companhia americana do setor de transporte, que se beneficiou com a sinalização de melhoria das taxas para fretes e com a nomeação de um CEO bastante respeitado no setor por ter entregue números fortes e melhorias operacionais em outras empresas.

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Ações de tecnologia chinesas, como a Li Auto Inc, focada em carros elétricos, e Pdd Holding (Pinduoduo), de comércio digital, também garantiram bons retornos ao fundo da WHG.

Ponto de virada nos multimercados macro

O mês também foi marcado por uma virada nos fundos multimercados do tipo macro, que possuem flexibilidade para alocar em Bolsa, câmbio e juros.

Em julho, os fundos desse tipo voltaram a apresentar retornos acima do CDI após terem um registrado um primeiro semestre de rentabilidade abaixo da taxa de referência da classe.

O retorno médio de multimercados do tipo macro chegou a 1,37% em julho, conforme a Anbima. Veja o desempenho mês a mês na tabela abaixo:

Mês Retorno do CDI (%) Retorno médio mensal dos multimercados macro (%)
Janeiro/23 1,12 0,96
Fevereiro/23 0,92 0,19
Março/23 1,17 0,34
Abril/23 0,92 0,46
Maio/23 1,12 0,85
Junho/23 1,07 0,95
Julho/23 1,07 1,37

Um dos multimercados macro de destaque foi o Kapitalo K10, que subiu 3,90%, realizando algumas alterações na carteira no mês passado.

Em moedas, a casa zerou uma posição vendida (que se beneficia da desvalorização) em peso colombiano e adicionou uma alocação comprada (que aposta na apreciação) em peso mexicano contra o dólar, conforme carta enviada aos cotistas.

A Kapitalo informou ainda que montou uma posição tomada (que aposta na alta) em juros no Japão e na parte curta das curvas de juros americana, europeia e australiana. Também houve a adição de uma alocação aplicada (que se beneficia da queda) em juros mexicanos.

Houve alterações ainda na alocação em commodities, com a montagem de uma exposição vendida em milho e minério de ferro, além de metais do grupo da platina (PGMs).

Alocações compradas na Bolsa brasileira e vendidas na alemã e no índice de small caps (ações de menor valor de mercado) americano foram mantidas em julho e trouxeram bons retornos para o K10, segundo a carta.

Bolsa brasileira

Posições compradas em Ibovespa também impulsionaram os ganhos do XP Macro Plus. O fundo obteve retornos acima do CDI pelo segundo mês consecutivo, com ganhos de 2,09% e de 2,49% em junho e julho, respectivamente.

Embora a alocação no mercado local de ações seja relevante, a maior posição do fundo é em juros reais, de olho em possíveis mudanças no Banco Central – com a saída de alguns diretores no fim do ano e com o término do mandato do presidente Roberto Campos Neto em 2024, explica Bruno Marques, gestor de fundos multimercados macro da XP.

“Vai ser um BC mais tomador de risco. Talvez demore a subir [mais os juros], se precisar. Também pode testar um nível de juro real mais baixo”, avalia o gestor.

Já no exterior, Marques explica que a casa está hoje com uma posição mais otimista no peso mexicano na comparação com o dólar.

O executivo pondera que o México deve demorar mais para iniciar o processo de flexibilização monetária, porque a atividade econômica está muito forte – diante do fenômeno de nearshoring, em que empresas buscam trazer a produção para mais perto dos mercados onde os produtos são vendidos.

Depois de deter uma posição maior em Estados Unidos no primeiro semestre, Marques destaca que o fundo não possui mais uma grande alocação no país.

A justificativa, diz o gestor, é que falta clareza sobre o que deve ocorrer nos próximos meses – se haverá uma crise como a de 2008 após o Federal Reserve (Fed, banco central americano) ter encerrado um ciclo de alta de juros em 2006, ou se a transferência de dinheiro para as famílias durante a pandemia poderá equilibrar oferta e demanda daqui para frente, sem maiores efeitos na economia americana.