SÃO PAULO – A BlackRock, a maior gestora do mundo, com administração de cerca de US$ 6 trilhões em ativos, prevê uma queda de 33% do PIB dos Estados Unidos no segundo trimestre de 2020.
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E o tombo deve gerar um processo desinflacionário de curto prazo, prevê Rick Rieder, CIO global de renda fixa da BlackRock. “Em um ambiente assim, com os juros em níveis tão baixos por um período prolongado, encontrar rendimentos de forma consistente para os investidores será um dos principais desafios para os gestores”, afirmou, durante live realizada pela XP na noite de quinta-feira.
Neste novo contexto, a classe conhecida como ativos estressados (ou distressed debt, em inglês), composta por dívidas de empresas com dificuldades financeiras, é, na visão de Rieder, uma das melhores oportunidades à disposição dos investidores no curto e médio prazo.
“Estão ocorrendo muitos processos de reestruturação de dívida corporativa”, afirmou o gestor, acrescentando que o estimulo do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) comprando títulos no mercado está fazendo os ativos de melhor qualidade convergirem para um retorno próximo a zero.
“Os ativos estressados são uma boa oportunidade tanto para os investidores como também para as empresas que precisam de financiamento, e temos buscado aumentar nossas operações nesse segmento”, disse Rieder. Segundo ele, os mercados emergentes poderão ser atrativos para as carteiras de distressed debt da gestora nos próximos meses. “Vamos demorar mais do que as pessoas estão prevendo para retornar ao patamar pré-crise.”
Setor > Rating
Dentre as opções mais tradicionais da renda fixa privada, o CIO da BlackRock afirmou que no momento se atenta menos para o nível de rating dos papéis, e mais para os setores em que as emissoras estão inseridas.
“Empresas ‘high grade’ (de rating mais elevado) de companhias áreas ou de energia e varejistas podem ter mais dificuldade”, disse o CIO. “Estamos focando mais em ativos ‘high yield’ [com classificação mais baixa] de setores como saúde e tecnologia.”
Apesar de ressaltar a importância de manter uma postura cautelosa em face das incertezas, fazendo uma administração prudente do caixa, Rieder ponderou que o investidor não deve se ausentar completamente do mercado.
“O S&P 500 subiu aproximadamente 28% desde o dia 23 de março”, afirmou. “Ou seja, o investidor que sacou os recursos perdeu um rali de duas semanas com um retorno geralmente obtido em alguns anos.”
Oportunidades e riscos locais
Em relação ao Brasil, o gestor disse enxergar oportunidades “significativas” na renda fixa após as medidas de estímulo anunciadas nas últimas semanas e também devido à implantação de uma agenda liberal desde a gestão Temer.
“Ficamos impressionados com a aprovação das reformas no ano passado, embora estejamos um pouco decepcionados com o ritmo de retomada na região”, afirmou o especialista, que prevê uma queda do PIB brasileiro ao redor de 4% neste ano.
A elevada volatilidade do câmbio, contudo, tem contribuído para manter o freio de mão da BlackRock puxado em relação aos investimentos no país. “Esperamos por alguma estabilização da moeda a partir de agora”, afirmou Rieder, que reconheceu a complexidade de fazer previsões para o câmbio dada a quantidade de variáveis que influenciam as divisas.
Efeitos secundários do “quantitative easing“
Após a forte queda do PIB americano no segundo trimestre, a BlackRock acredita que os estímulos fiscais e monetários em níveis sem precedentes devem levar a economia a uma recuperação em “V”, com crescimentos próximos de 10% nos trimestres seguintes.
“A perda de renda por conta da crise deve ser ao redor de US$ 700 bilhões. No entanto, os estímulos do governo americano devem totalizar US$ 2 trilhões, o que nos dá conforto para fazer investimentos no mercado agora”, afirmou o CIO.
Inclusive, as medidas adotadas pelo Fed já começam a surtir efeito, disse Rieder, ressaltando que a onda de saques de investidores em busca de liquidez está diminuindo, com o início da volta do dinheiro ao mercado.
Rieder disse também que a injeção estatal de liquidez tende a gerar uma pressão inflacionária nos próximos anos, ainda que a sinalização de curto prazo seja desinflacionária. “Não devemos esperar uma inflação de dois dígitos, mas será mais alta do que temos hoje.” No ano, até março, a inflação americana sobe 1,5%.
Para se proteger contra o risco inflacionário, os fundos geridos por Rieder, que administra cerca de US$ 2,3 trilhões nas estratégias de renda fixa da BlackRock, tem feito posições de proteção contra a inflação. Uma exposição em ouro de 5% também tem sido mantida no portfólio como forma de hedge para um cenário de perda no valor de compra.
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