5 gestores indicam suas ações preferidas para 2020

Melhores oportunidades estão em ações ligadas à economia doméstica; papéis de empresas produtoras de commodities também estão no foco

Ana Paula Ribeiro

SÃO PAULO – O ano de 2020 começa com uma visão otimista em relação ao Ibovespa, com projeções de que ele possa chegar até os 140 mil pontos, ou seja, 21% de alta, depois da valorização da ordem de 32% em 2019. Mas quais são os papéis que podem contribuir para o principal índice de ações da B3 bater novos recordes?

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Gestores de fundos de investimentos são quase unânimes ao afirmar que as melhores oportunidades estão em ações ligadas à economia doméstica, ou seja, empresas que podem se beneficiar da alta do consumo em um cenário de maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Alguns papéis de empresas produtoras de commodities também devem ter bom desempenho, caso não ocorra uma deterioração relevante das expectativas de crescimento global.

Para Henrique Bredda, gestor do fundo Alaska Black, as empresas vinculadas ao mercado doméstico vão continuar a tirar proveito dos efeitos de uma taxa básica de juros mais baixa, mas também do crescimento maior da economia, que tende a elevar o faturamento das companhias.

“Entramos em 2020 com um certo otimismo. As empresas que estão expostas ao mercado doméstico tenderão a se dar bem”, avaliou.

Com base nessa expectativa, a varejista Magazine Luiza e a empresa de administração de shoppings Aliansce Sonae são os papéis preferidos do Alaska. Os papéis das duas companhias subiram, em 2019, 110,7% e 94,6%, respectivamente.

Em relação ao cenário externo, Bredda acredita que a morte de Qassem Soleimani, chefe da Guarda Revolucionária Iraniana, por forças dos Estados Unidos é um fator preocupante, mas, por enquanto, sem chances de deflagrar uma crise global e desaceleração da economia. “É algo que sacode no curto prazo, mas não muda os fundamentos”, disse.

Por essa razão, ele também vê boas oportunidades em ações de empresas produtoras de commodities. “O problema do Brexit foi resolvido. A Europa parou de piorar e a China anunciou estímulos. Com tudo isso, o crescimento global começa a melhorar novamente”, disse.

O Alaska pretende aumentar as posições em Suzano (alta de 5,3% em 2019), Klabin (+15,9%) e Braskem (queda de 28,8%).

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Rodrigo Galindo, gestor da Novus Capital, também não considera que a situação no Oriente Médio possa alterar as perspectivas para o cenário global. Pelo contrário, ele vê um crescimento mais animador para as principais economias do mundo, o que contribui para o potencial de valorização das ações da Vale.

Já olhando para o crescimento interno, o gestor vê boas premissas para o Banco do Brasil, por acreditar que esse atual ciclo de expansão de crédito ainda se dará pelos bancos tradicionais e que a instituição estatal tem maior potencial de valorização que os concorrentes privados. “Quando olhamos internamente, temos um mix. Vemos boas oportunidades em infraestrutura, consumo e educação”, disse.

Em infraestrutura, as preferências são pelas empresas de saneamento Copel e Sabesp e pela companhia de energia Eneva. Mas é a tese de aumento de consumo que leva a uma diversificação maior da carteira.

Galindo acredita que o aumento da renda e a melhora do mercado de trabalho vão beneficiar empresas como a fabricante de bebidas Ambev e a Hypera (antiga Hipermarcas). E de olho na expansão do comércio eletrônico, a gestora trocou a posição que tinha em B2W (dona das marcas Submarino, Shoptime e Americanas.com) por Magazine Luiza.

Outros papéis que estão nas carteiras da Novus são os da empresa de aluguel de veículos Movida, da companhia aérea Azul e da educacional Kroton. “Vemos como o maior risco para a Bolsa uma frustração no crescimento da economia, mas achamos que, em 2020, vamos ser surpreendidos para cima. A política monetária (redução dos juros) vai ganhar potencial neste ano”, avaliou.

Economia como alavanca

Marcos Peixoto, cogestor de renda variável da XP Asset Management, admite que a valorização do Ibovespa ao longo de 2019 faz com que a Bolsa já não esteja tão barata, mas que ainda assim há boas oportunidades. Além disso, o cenário macroeconômico estimula os investimentos em ações.

“Estamos com as condições propícias. A Selic deve permanecer baixa e ainda há muito fluxo de investimentos para migrar para a renda variável, mesmo sem uma participação maior dos estrangeiros”, disse.

As ações preferidas da XP estão todas relacionadas à economia doméstica. As preferências estão com Via Varejo e Qualicorp, que já registraram altas expressivas no ano passado – 154,4% e 243,2%, respectivamente. Ambas as empresas passaram por mudanças de gestão e conquistaram a confiança de investidores.

“São dois ativos que andaram bem no ano passado, mas continuamos apostando. A alta foi significativa, mas a base de comparação era baixa. Ainda vemos espaço para alta”, disse.

Banco do Brasil, Sanepar e Copel são outras ações que estão entre as principais apostas da gestora da XP para 2020. Para Peixoto, a visão otimista só será abalada se houver uma crise mais grave no exterior, seja por conta da guerra comercial entre Estados Unidos e China ou por um acirramento do conflito geopolítico no Oriente Médio.

A expectativa de uma taxa baixa de juros pelos próximos três anos é um dos principais fatores para que gestores olhem com o otimismo para a Bolsa. A Selic atualmente está em 4,5%. Além da migração de recursos para ações, a expectativa é que as empresas possam voltar a investir.

“Toda a atenção está para a recuperação da economia e a expectativa de crescimento de lucro das empresas. Para as empresas negociadas na Bolsa, acreditamos em um crescimento do lucro de 17%, disse Frederico Sampaio, diretor de investimentos em renda variável da Franklin Templeton.

Com essa perspectiva de crescimento dos ganhos, o executivo vê boas oportunidades em empresas ligadas ao comércio eletrônico, tendo como preferência os papéis da B2W. Os juros em patamares baixos também devem estimular as operações no mercado de capitais e, por isso, Sampaio acredita que o BTG Pactual pode tirar proveito desse cenário.

Ainda olhando para o crescimento interno, a Franklin Templeton acredita que a empresa de logística Rumo deve ter um incremento no volume de carga transportada. Já a operadora de saúde Hapvida é vista como uma empresa que cresce não só com a melhora da economia, mas também pelo envelhecimento da população.

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Maior seletividade

Maurício Pedrosa, sócio e gestor da Áfira Investimentos, defende uma postura mais cautelosa para a Bolsa em 2020. Ele acredita que a tendência ainda é de alta, mas que a escolha dos ativos deve ser feita de maneira mais seletiva para evitar perdas maiores em um momento de turbulência.

“O mercado já vem de um período de alta. O ideal é olhar a melhor empresa dentro de cada setor. Não ser seletivo agora pode fazer o investidor pagar caro com qualquer soluço de mercado”, avaliou.

Para o gestor, a escolha deve ser feita dentro de setores que respondem ao aumento da renda e recuperação da economia, como o elétrico, que pode ser beneficiado pelo processo de privatização, e as empresas de varejo.

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Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney