11 ações ainda pagam dividendos acima da Selic de 13,25%; quais manterão esses níveis no longo prazo?

Empresas de commodities predominam na lista, mas análise sugere que Copel é a que pode apresentar maior potencial no longo prazo

Katherine Rivas

Com a Selic no patamar de 13,25% ao ano, apenas 11 ações conseguem entregar um retorno em dividendos superior à taxa básica de juros nos próximos 12 meses, segundo levantamento de Einar Rivero, da plataforma Economatica, a pedido do InfoMoney.

Newsletter

Liga de FIIs

Receba em primeira mão notícias exclusivas sobre fundos imobiliários

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Dessa lista, no entanto, apenas três companhias seriam capazes de manter o mesmo retorno em dividendos no longo prazo, segundo análise de Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Ivest Consultoria de Investimentos: Copel (CPLE6), Bradespar (BRAP4) e CSN Mineração (CMIN3). E apenas uma, segundo Sobreira, se encontra barata para o longo prazo, com bons indicadores e uma situação confortável.

Do conjunto de companhias que devem pagar dividendos acima da Selic nos próximos 12 meses, a predominância das empresas de commodities é clara, com destaque para os segmentos de petróleo, mineração e siderurgia, além de frigoríficos. Muitas delas são beneficiadas pela alta dos preços das matérias-primas.

Confira as ações com dividend yield esperado acima da Selic (13,25%) nos próximos 12 meses:

Empresa  Ação  Dividend yield projetado para os próximos 12 meses  Dividend yield realizado nos últimos 12 meses
Petrobras PETR4 38,91% 40,06%
Petrobras PETR3 35,22% 39,36%
Bradespar BRAP4 33,54% 14,62%
Marfrig MRFG3 23,55% 16,95%
Gerdau Metalúrgica GOAU4 22,35% 16,75%
Braskem BRKM5 22,31% 16,39%
Usiminas USIM5 20,47% 10,26%
CSN Mineração CMIN3 18,26% 9,03%
Vale VALE3 17,25% 12,39%
Copel CPLE6 16,95% 18,27%
CPFL Energia CPFE3 16,78% 18,56%

Fonte: Economatica. Considera as empresas que fazem parte do índice IBRX100. O levantamento considera o preço dos ativos no fechamento de 14/06/22. O dividend yield projetado é válido desde que a empresa tenha lucro igual ou maior ao dos últimos 12 meses e mantenha a mesma política de distribuição de dividendos e JCP dos últimos 12 meses.

A Petrobras (PETR4), apesar dos desafios relacionados à troca de comando e ao preço dos combustíveis, ainda promete ser a maior pagadora de dividendos em 2022 e nos próximos 12 meses, entregando um dividend yield (taxa de retorno com dividendos) de 38,91%, segundo projeções da Economatica. As ações ordinárias (PETR3) também devem ter um retorno elevado, de 35,22%.

Na lista também é possível encontrar duas empresas do setor elétrico: Copel (CPLE6) e CPFL Energia (CPFE3). Ambas são companhias híbridas que atuam na geração, transmissão e distribuição.

Enrico Cozzolino, analista da Levante Investimentos, faz a ressalva que a CPFL Energia está mais direcionada à distribuição, com aproximadamente 70% do seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) vindo do segmento. Cabe lembrar que as distribuidoras acabam sendo mais suscetíveis ao cenário macroeconômico e à inadimplência dos consumidores.

Entre os critérios do levantamento da Economatica, Rivero considerou empresas incluídas no índice IBRX100, que reúne as 100 principais ações da Bolsa brasileira. A projeção do dividend yield para os próximos 12 meses considerou as cotações de fechamento das ações na terça-feira (14) e partiu da hipótese de que as empresas tenham, no período, lucro igual ou superior ao dos últimos 12 meses, mantendo a mesma política de distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) adotada no último ano.

Fora do IBRX100, ainda é possível encontrar três ações que também devem pagar acima da Selic atual nos próximos 12 meses: são Unipar (UNIP6), com um retorno em dividendos de 14,8%; BrasilAgro (AGRO3), com um dividend yield de 16,63%; e Mahle Metal Leve (LEVE3), com retorno de 17,67%.

O que está barato para horizontes de curto e longo prazo?

A partir dos dados da Economatica, Sobreira, da Ivest, realizou uma análise para identificar quais companhias da lista podem ser consideradas baratas no momento e quais poderiam, de fato, pagar dividendos no patamar de 13,25% ao ano ou mais no longo prazo.

Para Sobreira, as ações da lista, de modo geral, se encontram em um bom ponto de entrada para o investidor que busca dividendos no curto prazo. Por estarem em cotações distantes do preço-alvo, mesmo que valorizem um pouco ainda devem manter um dividend yield de 13,25% ao ano, aponta Sobreira.

Mas no longo prazo, a conversa é diferente. Pesa contra as empresas de commodities o fato de estarem apresentando lucros muito acima da média por conta do momento de preços elevados de matérias-primas. E isso, lembra Sobreira, não necessariamente se traduzirá em uma trajetória sustentável de dividendos ao longo dos anos, que é o que interessa para investidores de renda passiva.

Por isso, observando um horizonte maior, apenas Copel, Bradespar e CSN Mineração teriam capacidade de manter um dividend yield acima de 13,25% ao ano, avalia Sobreira.

Incluindo outros indicadores na conta – como lucro médio por ação nos últimos dez anos, payout (parcela do lucro líquido distribuída como proventos) e pagamentos acima do payout médio nos últimos 12 meses – Sobreira aponta que apenas a Copel teria uma situação “muito confortável” para pagar proventos elevados e poderia ser considerada barata, para investidores com horizonte de longo prazo.

A CSN Mineração foi desconsiderada pelo seu tempo recente de Bolsa, embora apresente bons indicadores. Já a Bradespar, na avaliação de Sobreira, precisaria elevar o seu payout, que foi de 45% nos últimos 12 meses, para ficar em uma situação confortável caso o lucro volte à média dos últimos anos.

Confira os dados utilizados por Sobreira em sua análise:

Ação Dividend yield projetado para os próximos 12 meses  Lucro por ação de 12 meses Dividendo por Ação em 12 meses P/VPA Payout Lucro por ação  Médio (10 anos) Preço Alvo  Poder de Lucro Médio
USIM5 20,47%      R$ 7,58     R$ 1,92 0,5 25% R$ 0,82 R$ 14,47 8,75%
MRFG3 23,55%      R$ 6,12      R$ 3,23 2,7 53% R$ 0,86 R$ 24,38 6,27%
BRKM5 22,31%    R$ 19,31     R$  9,24 2,8 48% R$ 2,93 R$ 69,70 7,23%
GOAU4 22,35%    R$ 4,67      R$ 2,42 0,8 52% R$ 0,73  R$ 18,26 6,74%
PETR4 38,91%      R$ 11,50    R$ 11,52 0,9 100% R$ 2,15 R$ 86,93 7,26%
VALE3 17,25%    R$ 22,86    R$ 14,09 2,2 62% R$ 5,13 R$ 106,37 6,28%
BRAP3 34,49%    R$ 18,58    R$  8,36 1,2 45% R$ 4,66 R$ 63,10 19,22%
CPFE3 16,78%     R$ 4,26      R$ 5,44 2,3 128% R$ 2,21 R$ 41,07 6,81%
CMIN3 18,26%      R$ 0,85     R$ 0,88 1,8 103%  R$ 1 R$ 6,61 20,83%
CPLE6 16,95%     R$ 1,77    R$   1,17 0,8 66% R$ 4,73 R$ 8,83 68,55%

Fonte: Levantamento de Fábio Sobreira, com dados da Economatica. O levantamento considera o preço dos ativos no fechamento de 14/06/22. Poder de lucro médio: capacidade da empresa pagar dividendos no longo prazo se mantiver o seu lucro médio.

Petrobras: melhor pagadora no curto prazo; perigosa no longo?

Sobreira, da Ivest, exemplifica com o caso da Petrobras. Segundo o analista, o lucro por ação de PETR4 foi de R$ 11,50 nos últimos 12 meses. No mesmo período, a petrolífera pagou dividendos de R$ 11,52. O payout nos últimos 12 meses foi de 100%.

O analista destaca, no entanto, que a média de lucro por ação de PETR4 na última década foi de R$ 2,15. “A companhia está entregando um lucro por ação 435% acima da média, o que pode ser considerando pouco sustentável”, observa. Se considerado a média do payout sobre o lucro por ação da última década, a Petrobras estaria, no momento, em um patamar de 536% acima.

No curto prazo, enquanto o preço do petróleo estiver em alta, as ações da Petrobras podem subir até o nível dos R$ 86 – e, ainda assim, oferecer um dividend yield de pelo menos 13,25% ao ano, calcula Sobreira. Mas observando o que o analista chama de “poder de lucro médio” (capacidade da empresa de pagar dividendos no longo prazo, se mantiver o seu lucro médio), o retorno da Petrobras recua para 7,26%.

O analista destaca o peso do risco político e das interferências do governo na companhia. “Se fosse uma empresa privada, bem gerida, provavelmente poderia ser uma campeã de dividendos no longo prazo. Mas em ano eleitoral, é uma escolha perigosa para o investidor de renda passiva”, aponta.

João Daronco, analista da Suno Research, destaca que pelo momento positivo, a Petrobras está fortalecendo o seu caixa e distribuindo mais dividendos nos últimos tempos. “Além do elevado preço do petróleo Brent, a companhia ainda se beneficia de melhorias na sua estrutura de capital e eficiências oriundas do pré-sal”, aponta.

Para 2022, a perspectiva de Daronco é positiva. Ele destaca como riscos o preço da commodity e a possibilidade intervenção na estatal, o que poderia mudar a política de preços da companhia.

Já a visão de Cozzolino, da Levante, é um pouco diferente. Ele defende que a Petrobras pode, sim, ser uma opção de dividendos para longo prazo, principalmente porque a companhia aderiu a uma política de distribuição de proventos mantida em 2022.

“A Petrobras se apresenta como opção de renda passiva, tanto no curto quanto no longo prazo. É capaz de pagar dividendos nos próximos anos, não só pela atipicidade deste ano, mas pelos resultados consolidados no histórico recente”, afirma. Apenas para o ano de 2022, por exemplo, a Levante estima que o dividend yield da Petrobras seja de 39,80%. Para a Suno, a expectativa é de 34% até o final deste ano.

Copel: nova promessa de dividendos?

Segundo Sobreira, para o longo prazo, a ação que pode ser considerada barata e com capacidade de manter um pagamento acima de 13,25% é a da Copel. De acordo com a Economatica, a companhia deve entregar um dividend yield de 16,95% para os próximos 12 meses.

Observando a capacidade de pagar dividendos acima da taxa de juros atual, Sobreira cita que o poder de lucro médio da Copel é de 68,55%, o maior entre os pares.

Com um payout de 66% nos últimos 12 meses, a Copel tem histórico de entregar um lucro médio por ação na última década de R$ 4,73. Porém, nos últimos 12 meses o lucro por ação da companhia foi de R$ 1,77. Ela poderia ter distribuído este valor em dividendos, mas pagou apenas R$ 1,17.

“Mesmo com o lucro por ação abaixo da média, a Copel poderia pagar mais dividendos. A companhia está em uma situação privilegiada, historicamente falando, e é interessante para o longo prazo”, destaca Sobreira.

A política de dividendos da Copel é de distribuir entre 25% e 65% do lucro líquido do exercício em proventos. “Sempre que a alavancagem da companhia for menor do que 1,5 vezes, o payout será de 65%. Caso a alavancagem de encontre entre 1,5 e 2,7 vezes, o payout deve ser de 50%. Se a alavancagem ultrapassar 2,7 vezes, o payout será de 25%”, explica Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest.

Segundo Biz, atualmente a Copel tem uma alavancagem de uma vez, na comparação de sua dívida líquida com seu Ebitda. Ou seja, está pouco alavancada e com uma posição robusta de caixa.

Biz explica que embora seja uma companhia híbrida, boa parte da geração de caixa da Copel vem dos segmentos de geração e transmissão. Contudo, ele destaca que os dividendos elevados neste ano se devem a um fato não recorrente: a venda da Copel Telecom.

“Embora não devemos considerar esse elevado dividendo como permanente, a empresa deve continuar entregando um dividend yield muito atrativo nos próximos anos, considerando a sua política de distribuição”, aponta. Biz considera que a ação está em um bom ponto de entrada, com preço-teto de R$ 7,40 para quem busca receber pelo menos 8% ou 9% de dividendo até o final de 2022.

Entre os riscos, o analista destaca o investimento em novos projetos. Em parceria com a Engie, a Copel participará de leilão de transmissão no dia 30 de junho – o mesmo em que a Taesa e a Isa Cteep devem marcar presença. Por este motivo, existe a possibilidade de a companhia ter que fazer um investimento elevado e aumentar o seu nível de alavancagem, reduzindo os dividendos no curto prazo. Em contrapartida, para o longo prazo, o efeito seria positivo.

Guilherme Gentile, head de análise da Dividendos.me, avalia que os investimentos decorrentes do leilão devem auxiliar na capacidade de geração de caixa, lucros e de dividend yield futuro. Porém, caso a Copel não encontre oportunidades atrativas de investimento do seu capital excedente, “é bem possível que distribuições extraordinárias aconteçam”, destaca.

Pelo menos no curto prazo, riscos como a crise hídrica – que representou um problema para a empresa em 2021 – parecem ter sido resolvidos. “Os reservatórios no estado de Paraná já se encontram em níveis muito saudáveis e não consideramos o risco hídrico no curto prazo”, destaca Biz.

A governança também parece ter melhorado, segundo Gentile. Ele destaca que apesar do controle acionário pertencer ao governo de Paraná, a companhia criou estatutos nos últimos anos, mudou para o nível 2 de governança da B3 e trouxe um CEO com experiência no mercado, no lugar de indicações do controlador.

Vale também é caso atípico

Outra “queridinha” dos investidores em 2022 é a Vale, que deve pagar dividendos gordos no curto prazo e está barata, apesar do preço de tela. Mas no longo prazo, sustentar os proventos pode não ser possível. Na análise de Sobreira, o poder de lucro médio da Vale no longo prazo é de 6,28%.

Observando os indicadores, o lucro por ação da Vale nos últimos 12 meses foi de R$ 22,86, dos quais a mineradora pagou R$ 14,09 em dividendos. Mas se comparado com o lucro por ação médio da última década, de R$ 5,13, a distância é grande. Embora o payout dos últimos 12 meses seja de 62%, o analista considera que a companhia vive um momento atípico, com lucros muito acima da média por conta do preço do minério de ferro. Os dividendos, por consequência, estão acima da média também.

“Para curto prazo, as empresas de commodities são ótimas, mas o investidor precisa verificar se está na fase de acumulação de renda no longo prazo ou de usufruir dos proventos”, destaca Sobreira, da Ivest. Ainda pelo levantamento, a Vale está barata e teria espaço para chegar aos R$ 106,37 e ainda garantir 13,25% de dividend yield.

Entre as vantagens competitivas da Vale, Daronco, da Suno Research, cita que é uma das empresas com menor custo de caixa do setor, além de ter minério de ferro com teor elevado de pureza. “Esses fatores são diferenciais importantes para a tese de médio e longo prazo”, destaca.

Já entre os riscos, a mudança no preço do minério de ferro poderia ter impacto na geração de caixa da companhia e nos dividendos. Daronco cita também as questões ESG (ambiental, social e governança), com os conflitos e passivos que a companhia carrega pelo desastre ambiental de Brumadinho.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.