Saída da Ford é segunda onda de desindustrialização recente

Para gerente executivo da CNI, solução passa pela reforma tributária e investimentos mais robustos em energia e infraestrutura para exportações

Estadão Conteúdo

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O movimento de saída do Brasil de multinacionais da indústria é uma segunda onda da desindustrialização que começou na recessão anterior, de 2014.

Na avaliação do gerente executivo de Economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, o anúncio da Ford e de outras empresas segue o mesmo roteiro visto há poucos anos em setores como metalurgia e petroquímica, que estão na cadeia dos insumos utilizados por outras indústrias.

Para ele, incentivos fiscais não são o caminho para manter multinacionais no país; a solução passa pela reforma tributária e investimentos mais robustos em energia e infraestrutura para exportações.

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A japonesa Sony também decidiu sair do Brasil, ao anunciar em setembro o fim da produção na fábrica em Manaus (AM) até março deste ano. A também japonesa Mitutoyo fechou a planta de instrumentos de medição em Suzano (SP) em outubro. Já o grupo farmacêutico suíço Roche anunciou que deixará de fabricar medicamentos até 2024.

“A decisão das matrizes sempre é procurar o país que vai gerar mais lucro. O Brasil é um país com alto custo de segurança jurídica. O Brasil não decola, é um país que cresce e trava. Com isso, a própria demanda do País não se mantém ao longo do tempo”, avalia Fonseca.

Exportação

Segundo o economista da CNI, após duas recessões em cinco anos, o mercado doméstico perdeu fôlego, fazendo com que os entraves à exportação pesassem ainda mais para essas companhias.

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“As empresas que atuam aqui precisam exportar. Se não conseguirem, vão desinvestir e atender o mercado doméstico com importações”, diz. “O Brasil está longe dos grandes fluxos de comércio e não teve agilidade necessária para entrar na cadeia produtiva global.”

Fonseca lembra que muitas multinacionais nos setores de siderurgia – sobretudo de alumínio – e petroquímica já haviam deixado o Brasil na recessão anterior devido ao alto custo de produzir no País, quando se leva em conta os preços da energia, do gás e da burocracia.

Só no estado de São Paulo fecharam 4.451 indústrias de transformação em 2015. No início de 2016, as metalúrgicas Eaton, Maxion e Randon anunciaram o fim das atividades em Guarulhos (SP) na mesma semana. O fechamento em cascata de fábricas de autopeças naquele ano encontra eco nos anúncios da indústria automobilística nos últimos meses.

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“A competição com outros países é acirrada. Nos últimos anos temos visto movimentos seguidos de fechamento de fábricas de equipamentos para a indústria extrativa, estaleiros, na indústria de alumínio, na área petroquímica, no setor têxtil. A indústria automobilística ainda tinha vantagem de exportar para a América Latina, mas a pandemia reduziu muito o mercado”, explica Fonseca.

Para ele, a solução para manter as multinacionais não é conceder incentivos fiscais, mas, sim, a reforma tributária e investimentos em energia e infraestrutura para exportações.

“A reforma tributária beneficia setores com cadeia mais longa. Início da cadeia – extração de minério e agropecuária – tem competitividade. Já a indústria de ponta gera mais empregos e tem mais poder de arrasto na economia”, afirma.

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