Robôs na moda? Indústria de roupas e acessórios aposta na automatização

Para o setor, altamente dependente de mão de obra, o tema é delicado já que gera preocupações de que os trabalhadores serão demitidos

Reuters

Um braço robótico posiciona pedaços de tecido endurecido para uma demonstração de costura automatizada no Industrial Sewing and Innovation Center em Detroit, Michigan, EUA
19/08/2021
Industrial Sewing and Innovation Center via REUTERS
Um braço robótico posiciona pedaços de tecido endurecido para uma demonstração de costura automatizada no Industrial Sewing and Innovation Center em Detroit, Michigan, EUA 19/08/2021 Industrial Sewing and Innovation Center via REUTERS

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(Reuters) – Será que algum dia um robô fará sua calça jeans? Há um esforço silencioso em andamento por parte de empresas de roupas e tecnologia, incluindo Siemens e Levi´s, para descobrir.

“O vestuário é a última indústria de trilhões de dólares que não foi automatizada”, disse Eugen Solowjow, que lidera um projeto da Siemens em San Francisco que trabalha na automação da fabricação de vestuário desde 2018.

Encontrar uma maneira de cortar o trabalho manual na China e em Bangladesh poderá permitir que mais manufaturas de roupas voltem aos mercados consumidores ocidentais, incluindo os Estados Unidos. Mas esse é um tema delicado.

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Muitos fabricantes de roupas hesitam em falar sobre a busca pela automação – já que isso gera preocupações de que os trabalhadores dos países em desenvolvimento serão demitidos. Jonathan Zornow, que desenvolveu uma técnica para automatizar algumas partes das fábricas de jeans, disse ter recebido críticas online – e uma ameaça de morte.

Um porta-voz da Levi’s confirmou que a empresa participou das fases iniciais do projeto, mas se recusou a dar mais detalhes.

PROBLEMA DE FLEXIBILIDADE

A costura representa um desafio particular para a automação pois, ao contrário de um para-choque de carro ou de uma garrafa de plástico, que mantém sua forma enquanto um robô a manuseia, o tecido é flexível e vem em uma variedade infinita de espessuras e texturas. Os robôs simplesmente não têm um toque hábil o suficiente para lidar com ele. Com certeza, os robôs estão melhorando, mas levará anos para desenvolver totalmente sua capacidade de lidar com tecidos, de acordo com cinco pesquisadores entrevistados pela Reuters.

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O trabalho na Siemens surgiu dos esforços para criar um software para guiar robôs que pudessem lidar com todos os tipos de materiais flexíveis, como arame fino, disse Solowjow, acrescentando que logo perceberam que um dos alvos mais propícios para a pesquisa eram as roupas. Estima-se que o mercado global de vestuário valha 1,52 trilhão de dólares, de acordo com a plataforma de dados Statista.

A Siemens trabalhou com o Advanced Robotics for Manufacturing Institute em Pittsburgh, criado em 2017 e financiado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos para ajudar empresas a encontrarem maneiras de usar a nova tecnologia. Eles identificaram uma startup de San Francisco com uma abordagem promissora para o problema do tecido flexível. Em vez de ensinar os robôs a manusear tecidos, a startup Sewbo enrijece o tecido com produtos químicos para que ele possa ser manuseado mais como um para-choque de carro durante a produção. Depois de concluída, a roupa acabada é lavada para remover o agente endurecedor.

“Praticamente todas as peças de jeans são lavadas depois de feitas, então isso se encaixa no sistema de produção existente”, disse Zornow, inventor da Sewbo.

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RECRUTAMENTO DE ROBÔS

Esse esforço de pesquisa acabou crescendo para incluir várias empresas de roupas, incluindo a Levi’s e a Bluewater Defense, uma pequena fabricante de uniformes militares. Elas receberam 1,5 milhão de dólares em doações do instituto de robótica de Pittsburgh para experimentarem a técnica.

Existem outros esforços para automatizar as fábricas de costura. A Software Automation desenvolveu uma máquina que pode costurar camisetas puxando o material sobre uma mesa especialmente equipada, por exemplo.

Eric Spackey, presidente-executivo da Bluewater Defense fez parte do esforço de pesquisa com a Siemens, mas é cético em relação à abordagem da Sewbo. “Colocar material (endurecedor) na roupa – apenas adiciona outro processo”, o que aumenta os custos, disse Spackey, embora acrescente que pode fazer sentido para empresas que já lavam roupas como parte de sua operação normal, como fabricantes de jeans.

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O primeiro passo é colocar robôs em fábricas de roupas. Sanjeev Bahl, que há dois anos abriu uma pequena fábrica de jeans no centro de Los Angeles chamada Saitex, estudou as máquinas Sewbo e se prepara para instalar sua primeira máquina experimental.

“Se funcionar”, disse ele, “acho que não há razão para não ter uma fabricação em larga escala (de jeans) aqui nos Estados Unidos novamente.”