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SÃO PAULO (Reuters) – O serviço de delivery Rappi viu uma entrada de pedidos em seu aplicativo no Brasil durante o domingo, dia de abertura da Copa do Mundo, 50% maior que uma semana antes e avalia que a combinação do evento com a temporada de compras de fim de ano deve manter o uso da rede de entregas da empresa em patamares elevados pelo menos até o final do ano, antes da tradicional desaceleração em janeiro.
A presidente da Rappi no país, a sérvia radicada no Brasil Tijana Jankovic, afirmou que a empresa espera que o volume de pedidos no aplicativo de entrega cresça 2,5 vezes durante jogos da seleção brasileira na Copa. Segundo ela, o fluxo de encomendas deve se manter em patamares altos mesmo após o fim da competição em meados de dezembro por conta da proximidade com as festas de fim de ano.
“Ontem (domingo de abertura da Copa), não tínhamos previsto tanto aumento nos pedidos”, disse Jankovic em entrevista à Reuters na segunda-feira, sem poder revelar números precisos. “Os horários específicos desta Copa fazem com que os pedidos ao longo do dia continuem”, disse ela ao ser questionada se o efeito dos jogos sobre a demanda será pontual apenas nos momentos das partidas.
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“Ontem (domingo), desde logo de manha, 10h, já vimos um fluxo maior…porque as pessoas estavam se juntando para assistir (a abertura da Copa)”, comentou Jankovic.
Num mercado ainda coalhado de rivais surgidos quando o capital de investidores estava farto, o Rappi tem buscado reposicionamento, agora mais como uma empresa de tecnologia que vende serviços de logística de última milha.
CARGO
A companhia lançou em setembro um serviço de logística para lojistas que vendem mercadorias disponíveis em suas próprias lojas físicas em vez de recorrerem a grandes centros de distribuição. O serviço usa a rede de entregadores credenciados na plataforma.
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O uso das chamadas “dark stores” da rede da empresa, por onde já saem entregadores com produtos pedidos pelos consumidores usuários do aplicativo, para acelerar as entregas da modalidade voltada a empresas não está descartado.
Além do Brasil e seu país de origem, Colômbia, a Rappi está presente em outros sete mercados na América Latina, incluindo México e Argentina. No Brasil, a empresa está em 13 cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
Segundo Jankovic, o serviço de entregas voltado a empresas, RappiCargo, a primeira iniciativa da empresa voltada ao mercado “B2B”, tem meta de ter um peso de 20% na receita total da companhia até o final de 2024.
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CADE
Enquanto isso não acontece, a Rappi tem focado atenção no seu serviço “prime”, em que cobre uma assinatura mensal de cerca de 35 reais que inclui entregas gratuitas em todos os pedidos e outros benefícios como descontos em serviços como locação de carros, academia de ginástica e cursos.
Atualmente, cerca de 60% dos usuários do Rappi no Brasil assinam o serviço prime, disse Jankovic, o que garante uma fonte de receita previsível para a companhia num mercado lotado de competidores como James, Zé Delivery, Aifome, Lalamove, Uber e Loggi.
Estes usuários são responsáveis por mais de 70% dos pedidos recebidos pela plataforma da Rappi e possuem uma frequência de compra três vezes maior que os não assinantes, disse a executiva.
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E é justamente a frequência de compras, um sintoma do cobiçado engajamento dos usuários buscados pelas plataformas de tecnologia, que atrai a Rappi para o segmento de entrega de comida, mercado que segundo a empresa é atualmente 80% dominado pela rival iFood.
No segmento de entrega de restaurantes, alguns concorrentes até desistiram de atuar no Brasil, como a Uber Eats, que anunciou em março deste ano sua saída do segmento no país. Mas a Rappi não pretende fazer o mesmo, disse Jankovic.
“Para o Rappi, isso é crítico. A vertical de restaurante é de alta frequência e obviamente eu preciso entregar tudo o que o cliente prime quer, incluindo os vários restaurantes que estão bloqueados por contratos de exclusividade com o iFood”, disse a executiva.
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As duas empresas travam desde 2018 batalha no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em que a Rappi acusa a rival de abusar de poder de mercado ao firmar contratos de exclusividade com grandes marcas como McDonald’s, Outback, Coco Bambu e Habib’s.
Questionada porque a Rappi não faz acordos semelhantes, Jankovic disse que não é possível uma vez que a concentração de mercado alcançada pelo iFood impede a empresa de fazer ofertas “racionais”. “O conceito de exclusividade não é errado, mas é quando a prática de exclusividade é feita em um mercado já concentrado em uma única empresa”, disse a executiva.
“Para eu concorrer, eu precisaria fazer algo completamente irracional de compensar meses de vendas para o restaurante” que for migrar do iFood para a plataforma da Rappi.
O Cade já fez acordo com o iFood em 2020 que impede novos contratos de exclusividade, mas segundo a Jankovic os termos foram desrespeitados pela rival. Uma eventual decisão do órgão de defesa da concorrência sobre o caso é prevista para até o final do ano.
A executiva mencionou que se o Cade optar por impedir a iFood de fazer novos acordos de exclusividade por um prazo específico “não seria tão ruim”.
Questionada sobre decisão de outubro da autarquia que limitou acordos de exclusividade da Ambev com bares, a presidente do Rappi disse que “conceitualmente é favorável, mas não é o mesmo mercado”.
CONSUMO ACELERADO
Jankovic não deu detalhes financeiros da operação da Rappi, mas afirmou que a empresa está “muito estável financeiramente e não estamos sendo impactados pela mudança no mercado de capitais”.
“Não temos preocupação com sobrevivência. Esse período pode durar o que for.”
Sobre a demanda dos consumidores no mercado brasileiro, a executiva disse que a Rappi não está identificando uma tendência de redução de consumo como a sentida por alguns varejistas no terceiro trimestre.
“Pelos padrões de consumo que estamos vendo agora, não temos indicações de que teremos um Natal mais fraco que ano passado”, afirmou a executiva destacando pedidos na área de saúde. “Estamos vendo agora algo claramente em um padrão parecido com a onda da variante Ômicron (da Covid-19) do ano passado”, afirmou, mencionando um “surto” de venda de testes de Covid e antigripais.
(Por Alberto Alerigi Jr.)