Queda de 30% no minério deixou Vale “cara demais”, diz Barclays

Títulos da brasileira renderam menos que as notas de empresas com mesmo rating na América Latina, aponta o banco

Bloomberg

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A maior queda em cinco anos nos preços do minério de ferro é um sinal para a Barclays Plc e o Seaport Group de que o desempenho superior da Vale SA (VALE3; VALE5) no mercado de ações está prestes a acabar.

Os US$ 2,25 bilhões em títulos com vencimento em 2022 retornaram 9 por cento nos últimos seis meses, excedendo o ganho médio de 7,4 por cento para as notas das empresas de mineração com grau de investimento dos mercados emergentes. Os títulos da Vale renderam 4,06 por cento, o mínimo em comparação com títulos similares da Rio Tinto Group, com sede em Londres, desde setembro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A Vale, que obtém cerca de 95 por cento dos seus lucros com seus negócios de ferro, registrou uma queda maior do que a prevista nos lucros do primeiro trimestre após vender seu minério a um valor 25 por cento inferior ao do preço internacional de referência, que no dia 30 de maio caiu ao menor nível desde setembro de 2012. Os investidores deveriam vender depois do rali do título, pois a demanda reduzida diminui os preços do minério de ferro, de acordo com Michael Roche, estrategista para mercados emergentes da Seaport Group, que neste mês começou a recomendar que seus clientes comprem dívida da Southern Copper Corp. ao invés de títulos da Vale.

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“Ainda estou preocupado com a China, ainda acho que o crescimento global está muito suavizado, ainda estou preocupado com a Europa”, disse Roche em entrevista por telefone, de Nova York. “Vou pegar esse desempenho superior dos últimos seis meses e gerar lucro”.

Queda do minério de ferro
Os preços do minério de ferro entraram em um mercado baixista em março e tem caído todos os meses desde dezembro, no mais longo período de perdas registrado, enquanto as maiores empresas de mineração do mundo expandiram a produção na Austrália e no Brasil. O minério com um teor de 62 por cento enviado ao porto chinês de Tianjin caiu 30 por cento durante 2014, para US$ 94,30 por tonelada seca hoje.

Os títulos da Vale rendem 0,54 ponto porcentual a menos do que as notas de empresas da América Latina com classificações similares, o que os torna injustificadamente caros dados os preços mais baixos do minério de ferro e os planos para que a empresa aumente o investimento durante o ano, disseram Christopher Buck e Autumn Graham, analistas da Barclays Plc, em um relatório do dia 19 de maio.

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“Considerando as avaliações apertadas, o impulso negativo nos preços do minério de ferro e as expectativas de pouco aumento na alavancagem achamos que os investidores devem diminuir taticamente sua exposição aos títulos da Vale”, disseram os analistas. A companhia “é a mineradora latino-americana importante mais exposta à queda nos preços do minério de ferro”.

Volumes de vendas
A dívida do maior produtor de minério de ferro do mundo aumentou 2,1 por cento para US$ 30,3 bilhões no fim do primeiro trimestre. A razão da dívida líquida e os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, uma medida do endividamento, caiu para 1,12 vezes, o mínimo desde 2012. O valor ainda está acima da razão de 0,85 da BHP Billiton Ltd., com sede em Melbourne, Austrália, e de 0,86 da Rio, de acordo com os dados compilados pela Bloomberg.

A Vale não quis comentar o desempenho de seus títulos em um comunicado por e-mail da sua assessoria de imprensa, no Rio de Janeiro.

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“O primeiro trimestre, tradicionalmente, é um trimestre em que se observa alguma queda nas contas a receber devido à receita de grandes volumes de vendas que normalmente ocorrem no quarto trimestre”, disse o diretor financeiro Luciano Siani, durante uma teleconferência no dia 30 de abril. “Estamos trabalhando para continuar com mais melhorias no capital de giro”.

Reduções de custos
Os preços mais baixos do minério de ferro não necessariamente significam que os títulos sofrerão, pois o perfil de crédito da empresa é forte e há pouco risco de inadimplência, de acordo com Peter Lannigan, diretor administrativo da corretora de valores CRT Capital Group LLC, em Stamford, Connecticut.

A Vale também está aprofundando seus esforços para reduzir os custos e vendendo ativos para aumentar a lucratividade. A companhia anunciou nesta semana a venda de sua participação em um fundo brasileiro de reflorestamento por R$ 205 milhões (US$ 91,2 milhões). Nos últimos 12 meses a empresa realizou vendas de ativos de alumínio, logística, energia e cobre.

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Os avanços realizados pelo CEO Murilo Ferreira para aperfeiçoar as operações e reduzir custos já foram incorporados pelos investidores na avaliação dos títulos da Vale, disse Roche da Seaport.

“A avaliação está se esgotando nesses níveis de diferencial”, disse ele.