Produção de biodiesel deverá crescer mais de 15% em 2023

Novos investimentos, porém, ainda esbarram em capacidade ociosa elevada das indústrias do setor

Fernando Lopes

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O aumento de 10% para 12% do percentual de mistura de biodiesel no diesel vendido no país, em março, renovou o ânimo dos produtores do biocombustível, que terão a possibilidade de reduzir a ociosidade de suas fábricas e ampliar a receita com as vendas em 2023. Investimentos em novas unidades, porém, ainda dependem da retomada efetiva do cronograma de elevação da mistura, deixado de lado nos últimos anos por causa, sobretudo, de preocupações do governo de Jair Bolsonaro com a inflação.

Com a entrada em vigor do B12, a produção nacional de biodiesel deverá saltar de 6,3 bilhões de litros, em 2022, para 7,4 bilhões em 2023 (+ 17,5%), segundo projeção da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), que representa empresas como Be8, 3tentos (TTEN3), Minerva (BEEF3) e Caramuru. Com isso, diz Julio Cesar Minelli, diretor superintendente da entidade, a ociosidade do parque fabril, que estava entre 50% e 55%, tende a recuar para 43%.

Pelo cronograma original do governo, o percentual de mistura já devia ter chegado a 15% este ano, mas houve inclusive redução, de 12% para 10%, patamar que prevaleceu em 2022. Agora, o B15 deverá chegar em 2026, ano em que a produção total poderá alcançar 10,4 bilhões de litros, conforme a Aprobio. A capacidade de produção atual das 59 plantas em operação no país chega a 13,9 bilhões de litros.

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“O biodiesel não pode ser encarado apenas como um combustível. É preciso entende-lo como um fator de limpeza da matriz energética, com potencial para preservar o ambiente e a saúde das pessoas. O novo governo tem sinalizado que tem esse entendimento”, afirma Minelli. Algumas fontes do segmento acreditam que uma elevação da mistura para 13% poderá ocorrer ainda este ano, mas a tendência é que isso aconteça em 2024.

Processo de produção de biodiesel: aumento da mistura ao diesel dá fôlego extra ao setor (REUTERS/Enrique Marcarian)

Assim, novos investimentos em produção tendem a demorar um pouco mais para sair do papel. Há na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) dez pedidos de autorização para a ampliação da produção, que somam 678 milhões de litros adicionais, e mais 11 pedidos de construção de novas unidades, com mais 1,5 bilhão de litros no total.

Mas enquanto eles não saem do papel, outros projetos relacionados ao biodiesel estão em andamento. A Be8, por exemplo, assinou recentemente um protocolo de intenções com o governo do Paraná para construir uma nova esmagadora de soja no município de Marialva, onde a empresa já conta com uma fábrica de biodiesel. Os aportes na planta, que poderá entrar em operação em fevereiro de 2025, poderão chegar a R$ 1,5 bilhão.

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Além de processar a soja em grão para a produção de farelo, destinado principalmente à indústria de aves e suínos, a unidade produzirá óleo de soja, matéria-prima de mais de 70% do biodiesel fabricado no Brasil. “Depois da redução da mistura e da alta de juros, o projeto ficou na gaveta. A volta do B12 e a perspectiva de chegarmos ao B15 em 2026, com apoio do governo, destravou nossos planos”, afirma Erasmo Carlos Battistella, presidente da Be8 (antiga BSBios), empresa que liderou as vendas de biodiesel no país no ano passado.

“Além do aumento da mistura, também estamos fazendo mais esforços para ampliar as exportações e inserir o Brasil no mercado global”, diz o empresário. Segundo ele, essa inserção é importante para o biodiesel e também para novidades mais avançadas que tendem a ganhar força, como o combustível sustentável de aviação (SAF).

Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023.