Muito mais do que bilhões de reais, PanAmericano perde credibilidade no mercado

Corretoras comentam manobra contábil e destacam os efeitos perversos do aporte; setor deve seguir sem problemas

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Destaque de queda neste pregão de quarta-feira (10), com desvalorização superior a 25%, as ações do Banco PanAmericano (BPNM4) recuam forte em função do resgate feito pelo seu principal acionista, o Grupo Silvio Santos, após o banco constatar inconsistências contábeis em suas demonstrações financeiras.

Por conta desta suposta fraude nos balanços, com objetivo de inflar os números finais, as corretoras Link Investimentos e Planner suspenderam as respectivas recomendações e preço-alvo para o ativo, agora em revisão.

Sobre o aporte
Com relação ao aporte de R$ 2,5 bilhões, obtidos através de operação contratada com o FGC (Fundo Garantidor de Crédito), a Link lembra que o montante foi creditado na conta “Depósito de Acionista” do banco, o que garante a manutenção do capital social e o PL (Patrimônio Líquido).

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Contudo, esta manobra contábil não desmerece a magnitude do aporte, preocupante para as duas corretoras. Como exemplifica a Link, ao final do segundo trimestre o capital social e o PL do PanAmericano somavam R$ 1,1 bilhão e R$ 1,6 bilhão, enquanto os depósitos contabilizavam R$ 5,7 bilhões. Isto significa que o aporte de R$ 2,5 bilhões cobre 43,86% dos depósitos, para uma relação depósitos / PL de 3,56 vezes.

Ao que tudo indica, segundo notícias e comunicados oficiais, as operações irregulares passaram despercebidas pelos controles internos, pelos auditores independentes e pela avaliação da Caixa Econômica Federal, comenta a Planner.

A Deloitte, auditoria contratada pelo banco, não tem ainda posição oficial sobre o caso.

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Efeito do resgate
Aparentemente, o resgate restabelecerá o equilíbrio patrimonial e ampliar a liquidez operacional do banco, conforme o próprio PanAmericano ressaltou em comunicado divulgado na véspera. Contudo, há um efeito perverso neste tipo de operação, já que a credibilidade do banco foi posta em jogo.

“[Credibilidade] não se recupera com aporte de recursos…Como dizem, para reconquistar a confiança, um processo gradual e longo é necessário”, destaca Julio Hegedus, economista da InterBolsa.

E como fica o setor?
Na visão da Link, as inconsistências são específicas do Banco PanAmericano e não caracteriza em um problema generalizado do setor (bancos de pequeno porte), opinião semelhante ao do analista Pedro Galdi, da SLW Corretora.

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Os bancos brasileiros apresentam solidez confiável e mesmo instituições do mesmo porte do PanAmericano não apresentam quaisquer sinais de necessidade de injeção recursos do FGC, avalia Galdi.

Contudo, a desconfiança quanto aos bancos de pequeno porte domina o mercado neste pregão, com os papéis de ABC Brasil (ABCB4, -2,50%), BicBanco (BICB4, -4,16%), Daycoval (DAYC4-2,18%), Banco Indusval (IDVL4-4,38%), Paraná Banco (PRBC4-5,53%), Banco Cruzeiro do Sul (CZRS4, -1,78%), Sofisa (SFSA4-4,62%) e Banco Pine (PINE4-3,82%) recuando forte.

Interrogatório marcado
Em meio ao cenário turbulento, o Banco PanAmericano divulgará na próxima sexta-feira (12), após o fechamento do pregão, seus números referentes ao terceiro trimestre. E na terça-feira (16), às 10h00, horário de Brasília, ocorrerá a teleconferência, onde espera-se maiores explicações sobre o caso por parte da nova diretoria executiva da instituição.

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Em reunião realizada nesta terça-feira, o Conselho de Administração do Banco PanAmericano elegeu sua nova Diretoria Executiva. Celso Antunes da Costa assume o posto de Diretor Superintendente, e o restante da diretoria será formada por Ivan Dumont Silva, José Alfredo Lattaro, José Henrique Marques da Cruz, Raphael Rezende Neto, Celso Zanin, Eliel Teixeira de Almeida e Mário Ferreira Neto.