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SÃO PAULO – Uma empresa anuncia uma mudança no rumo de seus negócios e a notícia cai como uma bomba – puxando consigo o preço da ação – na companhia vizinha pelo receio de que o destino de ambas seja o mesmo. Esse é um movimento até bastante comum no mercado acionário, mas será que está sempre conectado com a realidade?
No caso da contaminação da Smiles (SMLS3) pela Multiplus (MPLU3), o mercado pode ter penalizado demais uma ação que, embora esteja no mesmo setor, está em outro patamar de negócio, tem fundamentos sólidos e sem indicativo de que poderá fechar seu capital nos próximos anos.
Relembrando: a Latam anunciou em 5 de setembro que não renovará o contrato com a Multiplus e fechará o capital da empresa. O contrato entre a TAM, subsidiária integral da Latam, e a Multiplus está em vigor desde 1º de janeiro de 2010. O acordo era exclusivo de 15 anos e não deve ser renovado após 31 de dezembro de 2024.
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O comunicado causou um temor generalizado de que o acordo entre Smiles e Gol também possa ser colocado em xeque. Na ocasião, os analistas do Itaú BBA afirmaram que o anúncio de fechamento de capital da Multiplus poderia implicar em uma leitura cruzada negativa para Smiles. O mercado comprou o pessimismo e a ação da Smiles derreteu 7,5% no dia do anúncio.
Cabe destacar que os negócios da Smiles está intimamente ligado aos da Gol, por isso a importância do contrato. As principais fontes de receita da Smiles vêm do resgate de milhas, dos juros entre a data de acúmulo e resgate das milhas e quando esses pontos não são resgatados. A empresa tem parceria com grandes bancos e redes de varejo para o acúmulo de pontos, mas na hora do resgate as passagens ainda são as favoritas. No segundo trimestre, 90,1% das milhas foram trocadas por passagens da Gol e parceiros aéreos.
O contrato com a Gol, se desfeito, seria apenas em 2032, mas o mercado tende a antecipar acontecimentos, precificando impactos positivos ou negativos na ação. Foi exatamente esse o tom dos negócios. Desde que a Multiplus informou que fecharia seu capital – em 5 de setembro – até a última sexta-feira (14), as ações da Smiles acumularam perdas de quase 21%. Se levado em consideração o desempenho da ação em 2018 até o pregão de 14 de setembro, a empresa teve perdas de 45% de seu valor de mercado. Somado ao receio de contaminação, a forte volatilidade do dólar e as incertezas eleitorais que permeiam o mercado brasileiros também pesaram nos papéis.
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Mas há divergências no mercado e quem acredite que essa forte desvalorização é exagerada e abre oportunidade de compra. A percepção de quem está deste lado da avaliação é de que, ainda que o contrato seja suspenso (daqui 14 anos), a ação mais do que precificou esse cenário hipotético. Se confirmado, o valor que o investidor deve receber de dividendos deve ser bem maior do que o preço do papel hoje.
É o caso de Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial Research, que destaca a ausência de conflito entre os pares no caso da Smiles, ao contrário do que acontece na Multiplus. Além disso, a vigência do contrato com a Gol ainda é “muito longa”, diz.
Case atrativo
Adeodato avalia que o guidance de crescimento médio do lucro líquido, de 15% ao ano, tende a dobrar nos próximos cinco anos. A expectativa para dividendos também é atrativa. Em um exercício de probabilidade, o estrategista afirma que o dividend yield (valor do dividendo dividido pelo preço da ação) para o papel deve ser de 150% em um ciclo de 10 anos, considerando o valor atual dos papéis.
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“Em um cenário pragmático, não é nem o otimista, só o dividendo dentro do prazo de vigência do contrato de Smiles e Gol, o valor a ser acumulado é de aproximadamente R$ 60”, aponta, enquanto os papéis estão sendo negociados atualmente na casa dos R$ 40.
“A Smiles está muito barata. O CFO da Smiles destacou recentemente a dinâmica do seu fluxo financeiro e afirmou que pretende pagar de 90% a 100% dos resultados em dividendos e pretende se descolar da Gol em um período de 5 anos. É uma máquina de fazer dinheiro com milhas”, conta Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial.
A Suno Research prevê dividend yield próximo de 15% ao ano e aponta que o potencial crescimento do mercado nos próximos anos também deve beneficiar a Smiles.
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No prazo mais curto, o analista da Eleven, “convicto” em sua recomendação de compra para a ação de Smiles, vê o fato de muitos investidores estarem se desfazendo de suas posições rapidamente como uma “espetacular oportunidade de compra”. “Não há razão nenhuma de fundamento e de cenário para entender um quadro tão negativo para a companhia”, diz.
Os analistas do Bradesco BBI também não acreditam que a Smiles pode seguir o mesmo rumo da Multiplus. O time de análise apontou três motivos: 1) a Smiles alavancou o modelo de precificação dinâmica para ganhar participação de mercado e se tornar líder no setor de fidelidade; 2) ela está negociando com um desconto de 34% frente o preço-alvo de consenso (versus 12% de desconto da Multiplus); e 3) Gol-Smiles possui uma estrutura de governança corporativa mais forte.
De qualquer forma, nesta semana a ação já devolve parte das perdas e avança 6% – mas ainda está longe de registrar uma recuperação plena das quedas recentes.
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