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Quando ainda era estagiário na plataforma online de venda de seguros Youse, o estudante de engenharia Fernando Fonseca, de 25 anos, descobriu que teria um filho com a namorada Karoline Ferreira, que estuda Letras na USP. Os dois moravam sozinhos em São Paulo, sem apoio financeiro dos pais.
Com uma pessoa a mais para sustentar, o movimento natural seria ir atrás de um emprego fixo com salário maior. Fonseca, inclusive, já havia recebido propostas para receber o triplo em outras empresas. Resolveu recusar porque tinha a certeza que seria contratado na Youse quando terminasse a faculdade. A formalização, porém, acabou acontecendo antes do diploma.
“Quando o Fernando falou que ia ter filho, fiquei feliz porque, com a contratação, teria mais opções de plano de saúde e um salário maior para dar suporte ao bebê”, diz Wilson Lima, diretor de RH da empresa. Entre os benefícios estão também 30 dias de licença-paternidade. “Estamos em um mercado muito competitivo e o funcionário leva em consideração benefícios robustos”, afirma.
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A Youse faz parte de um movimento crescente de empresas que têm usado políticas de recursos humanos nas quais um dos principais atrativos é aumentar a convivência entre pais e filhos. Seja por meio da licença-paternidade estendida, além dos cinco dias obrigatórios por lei, ou de facilitar a convivência com as crianças durante o trabalho.
O conceito de paternidade ativa envolve, entre outros fatores, o cuidado físico e emocional que se dá ao filho, segundo cartilha elaborada pelo Ministério da Saúde em 2018. Empresas como a Natura e a Unilever têm dentro em suas instalações um berçário no qual os pais podem deixar seus filhos.
Ricardo Moncayo, de 35 anos, coordenador de TI da Natura, define a infraestrutura do berçário da empresa como “privilégio”: ele consegue não só ficar perto da filha, como também visitá-la durante o dia. “Almoço mais rápido para poder ficar 10 minutos com a Marcela.”
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O gerente de logística de sorvetes da Unilever, Renato Starling, é outro que não “aguenta” e vai visitar o filho na creche quando pode. Por coincidência, a mulher dele, Maria Clara, trabalha no prédio vizinho. Então, a família inteira – mãe, pai e Gustavo, de 1 ano – toma café da manhã nas dependências da Unilever. “Em São Paulo, quem é que consegue tomar café com o filho, ver no almoço e ainda voltar para casa com ele?”, pergunta. No caso, as duas empresas dão 40 dias de licença-paternidade.
Empresa Cidadã
Alice Neira Pereira deve nascer no próximo mês e, assim que chegar, vai poder ter o pai a seu dispor durante seis meses, sem precisar dividi-lo com o trabalho de analista financeiro. A fabricante de bebidas Diageo concederá a William Pereira, de 36 anos, licença-paternidade de 26 semanas.
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O afastamento faz parte da política global da Diageo e foi implementada em julho no País. Agora, mães e pais têm direito ao mesmo período de afastamento. “Historicamente, a licença-maternidade é uma barreira para as mulheres no mercado de trabalho”, diz Tatiana Sereno, diretora de Recursos Humanos da empresa. “Ao oferecer licença semelhante para todos, ela deixa de ser.”
Pereira pretende pedir o afastamento em janeiro, último mês no qual a mãe de Alice estará em casa, antes de voltar ao trabalho. A também analista Melissa Neira, de 39 anos, ficará de licença durante quatro meses. “Agora, vou vivenciar tudo o que eu não consegui com minha primeira filha, Isadora”, diz ele. “Cinco dias é muito pouco. Você não passa nem sequer 24 horas completas com o filho, porque tem de correr atrás de vacina, cartório e receber as visitas.”
A Diageo é inscrita no programa Empresa Cidadã, da Receita Federal, que estende o período de licença dos pais em troca de benefícios fiscais. Às mulheres, o programa federal já oferece a ampliação de quatro para seis meses em casa, o que garante o reembolso da Diageo no caso das mães. Para os homens, a extensão é de cinco para 20 dias corridos. Por isso, a empresa passou a ter orçamento específico para a licença-paternidade. Além de bancar a saída prolongada dos pais, há a verba destinada à contratação de temporários, caso o trabalho de um substituto seja necessário.
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Desde que implementou a licença-paternidade de 35 dias em 2017, a corretora de seguros Marsh teve 40 funcionários beneficiados pelo afastamento. É um número pequeno para o universo de 1,2 mil funcionários, o que possibilita organizar equipes para cobrir as licenças. “As crianças crescem muito rapidamente e a gente não pode furtar isso dos funcionários”, diz Valma Prioli, diretora de RH.
Um dos beneficiados foi o superintendente Tiago Morais, de 37 anos, pai de Marina. Ele disse ter criado vínculos com a filha desde o início. “Estava lá na hora que a Marina nasceu e a segurei, dei a mão e comecei a conversar”, diz. “A nenê se acalma quando estamos por perto.”
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