Em linha com plano estratégico, Bemobi (BMOB3) compra 51% de startup

A empresa encerrou o primeiro tri com R$575 milhões em caixa, uma posição que dá fôlego para novas rodadas de M&As

Mariana Amaro

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A Bemobi (BMOB3) adquiriu 51% da 7AZ, startup de Santa Catarina, que atua na área de soluções de pagamentos para provedores de serviços de internet regionais, os ISPs, que, hoje, são responsáveis por atender mais da metade das assinaturas de acesso à internet no Brasil. A 7AZ fornece plataformas white label de pagamento digital para mais de 200 ISPs, que somam 2 milhões de faturas processadas por mês e, em 2022, registrou um valor total processado de mais de R$ 1 bilhão.

“A 7AZ, apesar de pequeno porte, fez muito sentido para a Bemobi, porque tem muita sinergia com nosso negócio, cresce a uma taxa muito acelerada abrindo várias opções em mercados expressivos”, afirma Pedro Ripper, CEO e cofundador da Bemobi, ao InfoMoney. Segundo Ripper, a adquirida tem alto crescimento e “se encaixa perfeitamente à nossa estratégia de negócios. Com o investimento, além de fortalecer o portfólio de soluções de pagamentos, a Bemobi pretende acelerar a penetração no nicho de ISPs no Brasil e utilizar as mesmas soluções para explorar outros mercados fragmentados e ainda não abordados pela companhia.

A compra de participação foi a primeira operação do tipo neste ano e ocorre em linha com o plano estratégico da Bemobi que definiu a diversificação de receitas da empresa por produtos, segmentos de clientes e também por geografias. “Atualmente, a vertical de pagamentos digitais é a que apresenta maior potencial de crescimento, não só com a expansão junto às empresas de telecom, que é o segmento de origem da companhia, mas também com clientes de Utilities e agora com ISPs”, diz Ripper.

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Novos movimentos

No primeiro trimestre de 2023, a Bemobi registrou uma receita líquida ajustada de R$137 milhões e encerrou o período com R$575 milhões em caixa, uma posição que dá fôlego para novas rodadas de M&As. “Estamos avaliando ativamente as oportunidades, mas somos muito disciplinados”, diz Ripper. “Só fechamos negócio quando enxergamos reais sinergias de receitas, que é, hoje, a principal variável no nosso crivo, além do preço justo, claro”, afirma Ripper.

Para Ripper, a lógica das aquisições da Bemobi reúne duas variáveis principais. “Têm de ser empresas que, de fato, tenham sinergias conosco. Olhamos dois tipos de sinergia: as de receita e as de custo. Primeiro, avaliamos se – com o nosso modelo de distribuição digital, com a nossa presença geográfica, com a relação que temos com os nossos clientes – ou seja, avaliamos se conseguimos acelerar o crescimento de forma mais eficiente do que a empresa a ser comprada conseguiria de forma independente. Este acaba sendo o principal drive de geração de valor”, afirma. “Por outro lado, o preço a ser pago por um ativo também é relevante no processo de decisão. Em última instância é um exercício de alocação da capital, buscando geração de valor para nossos acionistas através de crescimento sustentável a longo prazo”, completa.

Respeitando esses drives, contudo, o apetite da Bemobi se volta para empresas de porte maior do que das rodadas anteriores. “No limite, podemos chegar a uma empresa do tamanho da própria Bemobi. Não quer dizer que será assim, mas estamos com um leque mais amplo do que nas rodadas anteriores. Isso porque, normalmente, o esforço para se fazer uma boa aquisição – de negociar, de integrar – não é linear. Uma empresa duas vezes maior que a outra não gasta o dobro de esforço”, afirma Ripper, que afirma ainda que a empresa está “ativamente buscando empresas que sejam sinérgicas com seu negócio, aquelas com as quais a gente tenha capacidade de destravar valor. Se este ano encontrarmos ativos que preencham os critérios que buscamos, sim faremos novas aquisições. Mas não dá para cravar”.

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Movimentos anteriores

Embora esta seja a primeira negociação do ano, a companhia não é uma novata em movimentos de M&A. Esta é a quarta movimentação do tipo para a Bemobi –e terceira após o IPO.

A primeira aquisição aconteceu em 2019, quando a Bemobi comprou as operações da Nuance na América Latina por R$ 15 milhões. Depois que seu braço Latam foi vendido para a Bemobi, a operação americana da Nuance foi comprada pela Microsoft.

Depois da abertura de capital, em fevereiro de 2021, a empresa recheou o caixa e foi, novamente, às compras. Em agosto do mesmo ano comprou a M4U da Cielo, por R$ 120 milhões — valor que pode chegar a R$ 180 milhões dependendo da performance apresentada em um prazo específico após a negociação. Também adquiriu a chilena Tiaxa, por US$ 18 milhões  — valor que pode chegar a US$ 30 milhões, novamente em função dos resultados da adquirida.

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Criada em 2009, a Bemobi é especializada em criar soluções digitais para dispositivos móveis, principalmente em mercados com amplas faixas de consumidores de baixa renda. Hoje, a empresa atua em 50 países, todos mercados emergentes, sempre no modelo B2B2C (Business-to-Business-to-Consumer), fornecendo seus serviços a uma grande empresa, que, por sua vez, oferta o serviço a seu cliente final. Nesse modelo, a receita gerada pelo consumidor é partilhada entre a Bemobi e seu cliente – empresas com milhões de consumidores finais, como operadoras de celular, bancos, varejistas e concessionárias de energia, entre outras.

Listada há dois anos na B3, a companhia precisou mudar o rumo do negócio para sobreviver ao cenário macroeconômico global desde 2020. Em entrevista ao Por Dentro do Resultado, programa de entrevistas com CEOs e CFOs de empresas de capital aberto do InfoMoney, Ripper afirmou que o cenário atual para o câmbio e para a guerra na Ucrânia não gera otimismo, mas confirmou que segue confiante nos fundamentos da empresa.

Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.