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SÃO PAULO – Até o fechamento de terça-feira (12), as ações preferenciais do Banco ABC Brasil (ABCB4) acumulavam queda de 10% em 2011. Um dos principais motivos por trás deste desempenho é apontado por analistas como sendo o impacto negativo que os papéis da instituição financeira sofreram por sua ligação com o Banco Central da Líbia, que possui 59% do capital social do Arab Bank Corporation, controlador do banco brasileiro.
Só para se ter uma ideia deste impacto, as ações ABCB4 chegaram a acumular desvalorização expressiva de 21,3% em 2011 no dia 29 de março. Além disso, apenas na semana entre os dias 21 e 25 de fevereiro, estas ações chegaram a registrar perdas da ordem de 11,93%, superando com folga as maiores baixas dentre as ações que compõem o índice financeiro da BM&F Bovespa, o IFNC, naquele período.
Mas, o cenário parece estar mudando. Segundo o analista Nataniel Cezimbra, do BB Investimentos, aos poucos o mercado começa a perceber que a relação do ABC Brasil com o governo da Líbia nada interfere em suas operações no Brasil. Assim, ainda de acordo com Cezimbra, os papéis já começam a ensaiar uma retomada e não há motivos para que o banco altere sua boa perspectiva para eles ao longo deste ano.
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“Não tem o que mudar ainda, a governança aqui no Brasil ainda é forte. A gente tem que olhar para o Brasil, o crédito está subindo e o banco está bem posicionado, com uma carteira que está crescendo. Então, o banco está OK, vamos deixar o próximo passo acontecer. Se tiver algum fato realmente relevante [na crise da Líbia], modificamos nosso preço-alvo em torno do fato”, disse o analista do BB.
Cezimbra destacou que a ação ABCB4 depois de ter sido fortemente impactada pelo noticiário político do mundo árabe, está retomando sua posição dentro do radar do mercado, especialmente pela recuperação vista nos últimos pregões. “No início da crise na Líbia, o preço [da ação do ABC Brasil] desabou, mesmo assim eu mantive meu target. Agora por que a ação está chamando atenção? Porque ela está retomando seu preço”, afirmou.
Cabe destacar que apenas neste mês de abril as ações prefenciais do Banco ABC Brasil totalizam ganhos de 5,22%, de acordo com a cotação de fechamento da última terça-feira. Tal performance alimenta ainda mais as expectativas positivas de bancos, corretoras e agências de classificação de ratings sobre a companhia.
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Saindo do fundo do poço
Na visão de Cezimbra, os investidores começaram a deixar o pavor de lado e estão voltando a perceber que as operações do ABC Brasil não sentiram a influência dos conflitos externos, coisa que o BB, segundo o analista, sempre teve em mente. “Em relação ao banco, ele está direitinho, com o crédito subindo, com uma carteira muito segmentada no corporate, além da inadimplência quase zero. A NIM (Margem Financeira Líquida) dele é boa, com índice de eficiência controlado, então, tem vários indicadores da operação do banco que nos deixam confortáveis em relação ao preço que a gente deu para a empresa”, destacou.
O único vetor que o analista do BB disse que irá monitorar assim que sair o próximo balanço do banco é se o custo de captação está aumentando. “Se a gente ver que realmente o custo de captação deles aumentou, podemos fazer alguns ajustes”, mencionou. Mas, Cezimbra explica que conversou com o departamento de relações com investidores do ABC Brasil, o qual garantiu ao analista que houve apenas um “estresse”, mas foi algo pontual. O custo subiu por alguns dias só que depois o banco voltou a captar normalmente.
“Eu não me sinto muito honesto em mudar meu preço-alvo sem nenhum fato ainda, sem nada muito concreto. Não faço ajustes só com base na perspectiva. Minha recomendação segue de compra, com target de R$ 19,50 para o fim do ano”, completou o analista do BB Investimentos.
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Confiança em excesso
Quem também esbanja confiança nas operações do ABC Brasil é a equipe da Bradesco Corretora. Segundo o analista Aloízio Villeth Lemos, as baixas vistas pelas ações do banco no início deste ano decorrem apenas de uma errônea imagem do banco, que está ligado ao capital árabe. “No prazo mais curto está visivelmente ocorrendo um momento de recuperação”, afirmou.
“O tempo inteiro nós aqui da Ágora e da Bradesco mantivemos a recomendação de compra para as ações do ABC Brasil, porque nós entendemos que o banco é muito bem focado nos negócios aqui, não identificamos nenhuma razão que pudesse penalizá-lo em termos dos negócios, além de que em termos de estrutura de capital também nada houve neste sentido”, avalia Lemos.
Apesar de enfatizar que é muito difícil medir os efeitos dessa conotação política, Lemos ressaltou que no que se refere ao banco ele vai continuar desenvolvendo seus negócios normalmente no Brasil, pois eles não têm relação alguma com a origem do controle acionário da instituição financeira.
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Resultados em foco
Lemos lembrou ainda que os resultados financeiros do ABC Brasil têm apresentado bons números, o que contribui ainda mais para o momento de retomada das ações na bolsa. Segundo ele, o balanço mais recente, do final de 2010, mostrou uma continuidade da evolução dos negócios do banco, com a carteira de crédito crescendo tanto no trimestre quanto no acumulado anual.
“O banco é muito focado no segmento chamado de corporate, aquele representado por empresas maiores. Entre 70% e 80% da sua carteira de crédito é focado em empresas com este perfil e também há uma parte significativa de pequenas e médias empresas. Ou seja, o banco é focado em pessoas jurídicas e está desenvolvendo muito bem seus negócios. Tem boas perspectivas”, disse.
Na ótica do analista da Bradesco Corretora, o lucro líquido do ABC Brasil no último trimestre do ano passado veio dentro da expectativa, mas ainda não revelando todo o potencial que o banco tem para mostrar em termos de crescimento e de aproveitamento do grande potencial de negócios que o mercado brasileiro oferece.
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Outras questões postas na mesa
Outro aspecto importante abordado por Lemos é que a queda das ações do banco no início deste ano também não pode ser relacionada apenas com os conflitos na Líbia. “É claro que há outros fatores interferindo nos mercados e na ação do ABC Brasil também, como a questão da crise fiscal na Europa e os eventos no Japão, são aspectos sistêmicos que interferem em todos os papéis. Se o desempenho da ação não está muito bom neste ano, em parte se deve às próprias circunstâncias de mercado e não especificamente a questões ligadas ao próprio banco”, avalia.
Medidas macroprudenciais não prejudicam os bancos
Antes que o mercado possa encontrar nas recentes medidas macroprudenciais adotadas pelo governo brasileiro um novo motivo para penalizar as ações ABCB4, Lemos diz que isso não deverá ser prejudicial às operações do banco. O analista explica que tais medidas devem conter as pressões inflacionárias no País, e apenas para isso o governo estaria tomando decisões que afetem um pouco o crédito, mas ao mesmo tempo é esperado que o Brasil cresça de 3,5% a 4% neste ano e, para tanto, é importantíssimo que a atividade de crédito se mantenha forte.
“Então, o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando anunciou as novas medidas, usou uma metáfora falando que a dose do remédio tem que ser bem calculada para não matar o doente. Ou seja, solucionar um problema sem causar outro problema. E é por ai mesmo. O governo aparentemente não vai tomar medidas tão drásticas que possam realmente levar o País a uma recessão, por exemplo. De jeito nenhum é esta a intenção do governo. A base de crédito deve continuar crescendo e um banco como o ABC Brasil vai continuar se apropriando de parte deste crescimento porque faz um trabalho bem focado em segmentos que vão crescer também”, concluiu.
Assim, o analista da Bradesco Corretora voltou a afirmar que mantém sua recomendação de compra aos papéis ABCB4, com preço-alvo de R$ 19,00 para o final deste ano.
Ratings garantidos
O cenário favorável que os analistas desenham para o Banco ABC Brasil também é sustentado pela visão otimista das agências de classificação de risco. No final de março, tanto a Moody’s quanto a Fitch reafirmaram os ratings em moedas local e estrangeira do banco, avaliando que não veem uma relação negativa entre a empresa e sua controladora de origem árabe.
“Por conta do banco ser no Brasil e os negócios serem no Brasil, você viu que nós afirmamos as notas, pois estamos confortáveis com isso. Os eventos na Líbia estão um pouco constrangidos. O capital que está no controlador ABC é bem considerável, porque ele teve um aumento de capital procurando investir em outro banco naquela região e com os acontecimentos eles decidiram esperar para ver o que acontece antes de efetivar a operação”, disse Robert Stoll, analista da Fitch, à InfoMoney.
Segundo ele, o posicionamento da agência é que é pouco provável que os acontecimentos na Líbia vão fazer pressão sobre os ratings do ABC Brasil devido ao fato de que o banco opera em uma economia sólida – a brasileira – e por causa da liquidez e o bom capital que ele possui. “O banco controlador do ABC Brasil está bem capitalizado, a gestão do ABC também é dividida igualmente no Bahrain entre a Autoridade de Investimento do Kuwait e o Banco Central Líbio, então não vemos uma pressão do governo da Líbia para tirar dinheiro de lá”, disse Stoll.
O analista da Fitch disse que vê o ABC Brasil como quase independente, pois ele não precisa de ajuda do controlador, da Líbia ou do Kuwait também [a Autoridade de Investimento do Kuwait detém 30% do Arab Bank Corporation junto com o BC da Líbia]. O que está acontecendo no Brasil, segundo Stoll, é que a economia está favorável, além do bom gerenciamento do banco e a qualidade dos ativos, com o capital adequado. “Isso nos dá confiança. Esperamos que os ratings do ABC Brasil continuem como estão, mesmo que houver mais problemas na Líbia”, concluiu.
Visão do banco: não somos afetados pela Líbia
Em reposta à solicitação da InfoMoney, o ABC Brasil informou que suas operações não estão sendo afetadas pela crise na Líbia. “O Banco ABC Brasil é uma companhia aberta, com ações em bolsa, e alto grau de governança corporativa (Nivel 2 de Governança Corporativa da BMF Bovespa). Desenvolve negócios exclusivamente com companhias brasileiras. Tem uma posição de liquidez absolutamente confortável, ótima qualidade da carteira de crédito (a qualidade da carteira é elevada, com 97,9% das suas operações de crédito classificadas entre AA e C). E continua desenvolvendo suas atividades normalmente”, disse em nota.