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Na semana passada, o mercado financeiro foi pego de surpresa com a falência do Silicon Valley Bank (SVB), no que já é considerada a segunda maior quebra de instituição financeira nos Estados Unidos. Tudo aconteceu depois que os clientes foram ao banco para sacar cerca de US$ 42 bilhões, conforme dados dos órgãos reguladores da Califórnia, onde fica a sede do banco.
A corrida dos correntistas foi resultado de um comunicado da SVB, na quarta-feira (8), dizendo que ia levantar US$ 2,25 bilhões para continuar a operação. A notícia provocou forte movimentação entre os clientes, especialmente os do setor de Venture Capital, já que a companhia era conhecida e respeitada justamente por ser a “casa” dos investimentos de risco.
Essa característica fez o SVB figurar entre as 20 bancos dos Estados Unidos, mantendo filiais em diversos lugares do mundo. Estima-se que 90% das startups com atuação offshore tinham conta na instituição. E muitas brasileiras o usavam como intermediário para receber recursos estrangeiros, como aportes financeiros oriundos de fundos de outros países.
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Até chegar ao ‘fundo’, o histórico do banco merece atenção, porque estava atrelado à situação econômica global e mais especificamente a americana. A inflação não tem dado trégua, e, por lá, encerrou o ano passado em 6,5%, um índice bastante alto para os padrões locais.
Como forma de controlar os preços nas nuvens, o Federal Reserve, órgão equivalente ao banco central brasileiro, subiu as taxas de juros e tem mantido também em níveis altos. Este é um remédio amargo que desacelera a economia e, consequentemente, retoma a inflamação a números aceitáveis.
No entanto, a alta de juros reflete imediatamente na correção dos títulos públicos, ativo que o SVB tinha investido massivamente há dois anos, quando o juro estava em cerca de zero ponto porcentual. Além disso, com fraco desempenho do setor de tecnologia, alguns investidores já estavam recorrendo ao banco para retomar seu dinheiro.
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Outros bancos se posicionaram
Para os principais banqueiros americanos, a SVB foi golpeada na luta contra a inflamação. Nesta terça-feira (14), conforme mostrou o InfoMoney, Ted Pick, copresidente do Morgan Stanley, um dos maiores bancos do mundo, pontuou que isso é parte do aperto das condições financeiras mundiais.
“Isso faz parte do processo de girar o botão para apertar as condições financeiras e garantir que estamos no caminho certo para normalizar um mundo com taxas de juros mais altas”, disse Pick. “Mas pode muito bem haver surpresas, pode muito bem haver reações”, continuou.
No último domingo (12), o governo dos EUA se pronunciou e garantiu que os depósitos feitos no SVB estavam seguros e que os correntistas teriam acesso. O comunicado conjunto entre Federal Reserve, Tesouro Nacional e Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) -equivalente ao FGC brasileiro- disseram que nenhuma perda seria absorvida pelos contribuintes.
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No Reino Unido, o HSBC comprou a filial britânica do SVB pelo valor simbólico de apenas uma libra (cerca de R$ 6). Além de levar a carteira de clientes, o movimento faz com que os recursos das empresas de tecnologia do país estejam garantidos.
Além disso, nesta terça-feira (14), a imprensa norte-americana noticiou que o Departamento de Justiça e a SEC (comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos) estão investigando o acontecimento. Uma das questões que está no alvo da investigação é a venda de ações que os diretores fizeram alguns dias antes da falência do banco, disseram fontes ao Dow Jones Newswires.
Redes sociais pressionam
Ao contrário das crises bancárias anteriores, essa do SVB contou com um novo ator: as redes sociais. Especialistas pontuam que as plataformas de mídia tiveram papel crucial na velocidade com que se espalhou a informação e na corrida dos clientes ao banco.
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Mensagens de pânico foram publicadas aos montes nas mais diversas plataformas de mídia, por anônimos e personalidades públicas. “Corra no banco! Tire seu dinheiro. Os bancos estão em apuros”, escreveu o influenciador digital Kim Dotcom, em uma post alarmista visto por 2,4 milhões de usuários do Twitter.
Essa talvez seja a grande diferença da crise bancária de 2008, por exemplo, quando páginas como Facebook e Twitter ainda não eram conhecidas. Desta vez, o alarmismo rompeu as fronteiras dos Estados Unidos quase que de forma imediata e começou a pairar também sobre bancos de outros países, caso dos europeus.
No Brasil, houve quem ventilasse a ideia de que instituições consolidadas como Bradesco (BBDC4), Nubank (NUBR33) e Inter (BIDI4) poderiam seguir o mesmo caminho. Algumas dessas instituições tiveram que retificar sua situação e, inclusive, se manifestar sobre eventuais exposições ao SBV, o que causou certo alívio ao público que leu algumas das informações equivocadas que circularam pelas redes sociais.
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Em comunicado oficial, o presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA, Patrick McHenry, afirmou que é importante permanecer equilibrado e olhar para os fatos, não a especulação. Ele também ponderou a confiança nos reguladores financeiros e na solidez do mercado financeiro norte-americano.
Já Ben Thompson, um conhecido analista financeiro, escreveu um post sobre a situação e separou parte do texto para frisar o papel da internet no desfecho bancário. “O que tornou o Silicon Valley Bank único foi (1) a facilidade com que seus clientes poderiam executar saques e (2) a velocidade com que as notícias da iminente morte do SVB se espalharam”, publicou.