Capítulo 5: Oi rebaixada para “junk”, analistas duvidam de acordo e ações despencam

Analistas avaliam que parte relevante da conta gerada pelo polêmico investimento da Portugal Telecom ainda será bancada por acionistas da empresa de telecomunicação brasileira

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Depois de subirem forte ontem após alívio de que a fusão com a Portugal Telecom ocorreria mesmo com o calote da Rioforte, as ações da Oi (OIBR4) caíram forte hoje após a companhia perder grau de investimento e diante de um olhar mais atento dos analistas para o novo acordo para a fusão. Os papéis preferenciais da companhia lideraram as perdas do Ibovespa com perdas de 6,25%, a R$ 1,65.  

A Fitch rebaixou as notas de crédito da Oi e da Portugal Telecom ontem. As companhias tiveram suas avaliações “BBB-” cortadas para grau especulativo “BB+”, com perspectiva estável. Essa é a primeira nota fora do grau de investimento – categoria em que os ativos são considerados seguros para investir – e a primeira dentro do nível chamado “junk” (grau especulativo).

Analistas avaliam que parte relevante da conta gerada pelo polêmico investimento da Portugal Telecom ainda será bancada por acionistas da empresa de telecomunicação brasileira. “O ponto é: nos atuais preços de mercado, a Portugal Telecom está dando à Oi o equivalente a 750 milhões de euros, menos do que a dívida da Rioforte (de 897 milhões de euros)”, afirmou a analista Caroline Hees, da Brasil Plural, em relatório.

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Após o calote, o acordo de fusão entre as duas empresas foi revisto, prevendo a redução da participação da Portugal Telecom na companhia resultante da união com a Oi, a transferência para a portuguesa do risco total da dívida em questão e a redução dos direitos políticos do grupo português.

Pelos termos divulgados em memorando de entendimento que ainda precisa ser referendado por autoridades e investidores, a Portugal Telecom entregará à tesouraria da Oi cerca de 474 milhões de ações ordinárias e perto de 950 milhões de papéis preferenciais da empresa brasileira. Isso reduziria a participação da portuguesa na futura empresa resultante da fusão, a CorpCo, dos cerca de 38% previstos originalmente para 25,6%.

O cálculo, contudo, foi feito levando em conta os valores de R$ 1,8529 por ação preferencial e de R$ 2,0104 por ação ordinária da Oi, acima das cotações de fechamento desses papéis na última terça-feira, de R$ 1,62 e R$ 1,56, respectivamente. Pelo acordo revisado acertado, a Portugal Telecom tem a opção de recomprar a totalidade ou parte dos papéis da Oi em um prazo de até seis anos pelos valores estipulados, mais a variação do CDI acrescida de 1,5%. Os contratos definitivos devem ser assinados em até 20 dias.

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“Ao calcular as opções (de compra pela Portugal Telecom) a um preço mais alto, a Portugal Telecom dá à Oi menos ações hoje, o que seria essencialmente ‘ok’ se o empréstimo (da Rioforte) for pago. Porém, se não for, a Portugal Telecom vai acabar com uma fatia maior da empresa do que deveria em caso de um calote de 100%”, acrescentou Caroline. Ela estima que a Portugal Telecom deveria ficar com uma fatia de 22% da nova empresa, em caso de calote total da dívida.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.